Capítulo 11: Você pode tudo

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O alarme no meu bolso disparou, e com um susto acordei, tirando-o do bolso e o desliguei rapidamente, com medo de acordar Natasha. Mas ela apenas gemeu, se ajeitando nas cobertas.

Suspirei aliviado e cansado ao mesmo tempo por ter ficado praticamente a noite toda acordado, pensando. Devagar levantei, tirando as cobertas de Natasha do lugar. A ferida praticamente não existia mais, só sobrou uma marca vermelha no lugar que provavelmente iria sumir também.

Okay. Natasha ainda é uma sereia.

Desci e fui fazer o café. Enquanto esperava, vi mensagens de muita gente preocupado. Fui no grupo com todos eles e respondi:

"Estou bem. Natasha voltou para casa"

E agora eu teria que arrumar uma desculpa muito boa para o sumiço de Natasha e sua melhora repentina. Esfreguei os olhos, já imaginando a discussão que isso iria dar entre eles.

Subi as escadas para o farol e quando deu a hora, o desliguei. Coloquei o café na grande janela, abraçando o corpo. Fiquei lá por muito tempo, até que ouvi o alçapão do farol ser aberto. Natasha colocou a cabeça para cima, e sorriu.

- Oi. - murmurei. - Dormiu bem?

Ela assentiu, terminando de subir as escadas e fechou o alçapão. Ela se sentou na outra poltrona, de frente para o céu negro que ganhava uma coloração amarelada. O nascer do sol começava ali no leste bem de frente para nós, lindo como sempre.

- Sua perna melhorou. - ela assentiu, segurando a caneca com as duas mãos e encolheu as pernas. - Que isso?

- Água. - respondeu, mordendo o lábio. - Do mar.

- É claro que é água do mar, eu sou um idiota. - disse, rindo e ela negou com a cabeça.

- Não é. Muito pelo contrário. - respondeu, sorrindo. Depois de alguns segundos o sorriso desapareceu. - O que é câncer? Fiquei com... vergonha de não saber.

Respirei fundo.

- Tudo bem. É uma doença... Suas células começam a replicar do jeito errado. É comum. - novamente respirei. - E dependendo do estágio que a doença está, o tratamento não ajuda muito e a pessoa morre.

- Sinto muito. - ela disse, e eu assenti. Peguei o caderninho em meu bolso, e mostrei para ela.

- Você murmurou algumas coisas enquanto dormia. Delirava de febre, não sei. Pode ser bom para sua memória.

Ela assentiu. Abri o caderno onde anotei.

- Quem é Ivan? - perguntei.

- Acho que é meu pai. Ele é o tritão rei das sereias.

Pisquei algumas vezes.

- Você é uma princesa sereia. Okay, parece que você saiu de um filme da barbie. - ela sorriu, mesmo sem entender. - Vi nos seus desenhos que lembrou o nome das suas irmãs.

- Aham. - ela suspirou.

- E... quem é Clint?

- Barton. Acho que eu o conhecia, não sei. - ela cruzou os braços. - Parece o tipo de pessoa que riria da minha cara por ter esquecido tudo e depois iria me abraçar até lembrar.

- Hm... parece mais que um conhecido para mim. - ela sorriu, e senti algo estranho em meu estômago. - E você ficava murmurando coisas como "não me obrigue a cantar" e "eu não quero matar eles".

Subi os olhos para Natasha, e ela não me olhava. Seus olhos cheios de lágrimas repletos de vergonha e dor estavam colados no céu.

- Nat. Sereias realmente cantam? E fazem pessoas se afogarem? - perguntei, mas ela fechou os olhos, desviando-os de mim.

I Sea You - RomanogersWhere stories live. Discover now