EPÍLOGO

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Naquele dia, quando chegamos em Stonebay, uma parte centenária da cidade tinha se reerguido do fundo do oceano, perto do porto no centro. As construções antigas eram apenas formas, cobertas de musgos, algas marinhas e muita ferrugem.

Ninguém além de nós hoje em dia sabe o que aconteceu.

Ninguém além de nós, e as velhas corocas de Stone Bay.

Quando voltamos para casa, foi como sentir pela primeira vez que Natasha e eu seriamos para sempre. Ela me escolheu, mesmo tendo direito a coroa, Natasha disse que o pai não gostava de humanos, como a maioria das sereias, mas, pra mim, ele abriu uma exceção.

Ver Natasha desesperada ao quase perder um homem, o fez não questionar o amor de Natasha. Ele era um bom pai, e um bom rei. E quando morresse, o que possivelmente aconteceria em sei lá quantos mil anos, sua irmã seria uma ótima rainha.

Todas as sereias migraram para Atlântida, pela primeira vez em séculos. Foi uma adaptação difícil, mas Natasha foi aclamada pelo povo como a restauradora de Atlântida. Ela me contou que o pai homenageou eu, Tallulah e meu pai. A monarquia das sereias permaneceu mais forte ainda depois disso.

Quanto a Taras, ele tinha sido condenado a morte meses depois do que aconteceu. Eu fui contra, disse que isso era drástico demais, mas Natasha me explicou que as leis das sereias são muito rigorosas. Elas são criaturas muito leais, e a minoria que cometem crimes, não são perdoadas.

Eu conheci toda a família de Natasha. Fomos até o paraíso das sereias, eu era o único humano que poderia entrar lá. Não sei como, mas eles conseguiram criar um tipo de bolha de ar no fundo do oceano, Natasha disse que era tecnologia de sereia. Fizeram uma casa enorme lá, quando Natasha contou que estava grávida.

Ivan queria o neto por perto de vez enquando, e sabia que Natasha não iria querer me deixar. Então ele deu um jeito de eu conseguir ir para o fundo do mar. Eu fiquei receoso, claro, aquilo era seguro mesmo? Mas aparentemente, era. A casa era linda, mas eu não me importava de deixar Natasha ir visitá-los sozinha, não queria invadir mais ainda o espaço sagrado que elas demoraram tanto para conseguir.

Certa vez Ivan fez um banquete enorme, com todas as suas irmãs, alguns amigos da família, eu até conheci Clint. Natasha recuperou toda a memória, e eu conseguia ver como ela estava feliz de volta a família.

Natasha passou um tempo em casa, e eu tive muito tempo para refletir sobre meu pai. Não queria viver no passado, queria construir meu futuro com Natasha. E sabia que para isso, precisava deixar ele ir. Guardei todas as suas coisas em caixas, deixei apenas as que tinham valor emocional e sua pesquisa. O resto, doei.

Me matriculei novamente na faculdade de Biologia marinha, e quando James tinha dois anos, me formei. Aquela era uma das minhas paixões, e sentia que meu pai estava orgulhoso de mim, onde quer que estivesse.

Eu e Natasha nos casamos quatro meses depois, em uma cerimônia pequena na praia em frente a minha casa. Só tinham meus amigos, Natasha estava linda. Ela usava um vestido com renda, bem praiano e no estilo sereia. Ela estava tão linda. Aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida. Depois, casamos novamente debaixo da água, em uma cerimônia onde eu usava equipamento de mergulho e Natasha era uma sereia.

Aquilo foi muito engraçado.

O outro dia mais feliz da minha vida foi quando James nasceu. Nem eu nem Natasha esperávamos isso, mas aconteceu. Ficamos apavorados, não sabíamos nem se aquilo era possível, um híbrido de duas espécies. Não sabiamos se a gestação iria ser concluída, não sabíamos se traria problemas para Natasha.

Seu pai encontrou um tritão ancião que morava afastado da comunidade, diziam que ele sabia de tudo, por ser a sereia mais velha dos mares, e estavam certos. Ele tinha registros de híbridos que nasceram no passado, então soubemos que aquilo era possível. Teríamos um filho, algo que nunca imaginamos.

James Romanoff Rogers nasceu saudável, em sua forma humana. Quando tinha dois meses, o colocamos no mar e ele respirou sozinho. Ivan deu a ele um colar de transformação, e era como se ele já tivesse sido ensinado como se transformar, tão natural como nadar.

Quando o vimos com sua cauda pela primeira vez, eu e Natasha choramos como dois bebês.

Nossa vida era ótima. Eu ainda trabalhava no farol, cuidávamos do nosso filho, vivíamos uma vida dupla e era tudo que eu sempre precisei. Nunca imaginaria essa história para minha vida, antes de conhecer Natasha. Ela tinha sido meu milagre, e eu amava minha família mais que tudo no mundo.

Um dia, eu iria envelhecer, enquanto Natasha e James não. Aí teríamos que mudar de cidade, as pessoas começariam a perceber. E um dia, eu iria morrer, enquanto Natasha e James, não. As vezes, issso deixava ela extremamente triste, a ideia de me perder era sufocante. Mas, aos poucos, eu sei que Natasha lidaria com isso. Além do mais, ela tinha nosso filho que precisava dela.

Fechei meu Trabalho de Conclusão de Curso. "O imaginário das sereias e as respostas biológicas". Na primeira página tinha uma dedicatória:

Para Joseph Rogers, que amava tanto o mar que se juntou a ele.

Eu o guardei na gaveta, e olhei o relógio.

  - Natasha vai me matar.

Me levantei, saíndo da casa quase correndo. Desci os degraus, andando até o mar. Me sentei ali, com as ondas batendo nos meus pés e esperei. Observei o céu, o mar, era tão tranquilo. Isso até duas cabecinhas ruivas aparecerem na água.

Eu sorri.

Natasha mergulhou e sua cauda se ergeh para cima, antes de desaparecer. Vi os dois nadando na minha direção, e fui até eles.

  - Vem no papai! - disse, vendo James se aproximar. Ele nadou até mim e eu o peguei no colo. - Ah, que saudade!

Abracei sua cauda gelada contra mim, beijando o topo de sua cabeça.

  - Papa!

  - Como foi na casa do vovô?

  - Muito legal, papa. Eu vi um tubarão!

  - Nossa! Que legal, meu peixinho.

A cauda de James era laranja como a de Natasha, e seus olhos azuis como os meus. Ele tinha três anos, era metade humano e matade tritão. Natasha se aproximou de nós, sua linda e majestosa cauda para cima. Ela ficou o colar e se transformou, ficando de pé e andou até nós.

Eu sorri para ela.

  - Você é linda.

  - Eu sei. Você sempre diz isso.

Eu abracei Natasha com a outra mão, acabando com o espaço entre nós e a beijei.

  - Eca! Que nojo.

Eu e Natasha sorrimos, olhando para James.

  - Cadê suas perninhas, ein? - perguntou minha linda esposa.

  - Nhenhe.

  - James! Não faz nhenhe pra sua mãe - disse. - Vamos, pernas.

Ele revirou os olhos e tocou o colar. James se transformou no meu colo, logo eu segurava suas perninhas brancas.

  - Ele é igual você - reclamei.

  - É, eu já percebi isso.

Abracei os ombros de Natasha, e nós três andamos para casa.

Abracei os ombros de Natasha, e nós três andamos para casa

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Fim.

O que acharam da fanfic?
Até a próxima.

I Sea You - RomanogersWhere stories live. Discover now