Capítulo 9: Velhas corocas

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- Pai?

Eu estava na faculdade de biologia a um semestre. Meu sonho era virar um biólogo marinho. Estudar animais e algas. Mergulhar no mar infinito e azul. Não me importava se iria nadar com tubarões ou cutucar estrelas-do-mar.

Eu amava o oceano.

- Oi, meu biólogozinho.

Fiz uma careta.

- Pai. Eu não tenho dez anos mais. - eu disse, abrindo um sorriso. Eu estava na minha cama, ele me acordou ao entrar no quarto, sempre tive sono leve.

Naquela manhã tinha algo no olhar dele. Um brilho estranho de amor. Talvez soubesse que era a última vez eu o veria. Talvez soubesse que fosse morrer.

- Vou ter que viajar. - disse.

- Vai? Pra onde, por que?

Queria que ele tivesse me contado porquê. Eu não teria deixado.

- São cinco da manhã, não dá tempo de contar! - ele sorriu, e bagunçou meu cabelo. - Mas sabe o que venho estudando a vida toda?

Assenti. Ele estudava o mar.

- Essa viagem talvez faça tudo ter sentido. - ele disse. - E quando voltar, vou te contar tudo.

- E vai me levar com você na próxima? - pedi e ele sorriu.

- Claro que vou.

Ele tirou algo do bolso e colocou na minha mão. O molho de chaves, da casa, do carro, do farol, e aquela chave estraha e velha que tinha uma grande pedra azul na ponta.

- Mantenha com você o tempo todo.

Ele levantou e foi até a porta. Parou lá e sorriu.

- E ligue o farol. Sempre.

Assenti.

- Eu te amo, Steve.

- Eu também te amo, pai.

E saiu.

Naquele dia eu senti que era uma despedida, mas ignorei.

Eu amava o oceano. Até ele levar meu pai.

(...)

Abri os olhos, repentinamente ouvindo um monitor cardíaco disparar. Arfei e sentei na cama onde eu estava, completamente confuso e com uma dor de cabeça terrível. A claridade me cegou, e por um instante achei que estava no céu.

O que estava acontecendo?

- Steve, está tudo bem. - senti mãos me tocando e arfei, ainda completamente assustado. - Bucky!

Alguém me fez deitar e apenas obedeci, irritado pela dor e confusão. Eu estava ofegante e tonto, nada fazia sentido. Era como acordar de um pesadelo. A luz se apagou e a cortina foi fechada. Tapei os olhos, tentando respirar e me acalmar, e logo isso surtiu efeito.

Quando os abri novamente, enxergava plenamente e vi Wanda ao lado de Hope.

- Você está bem? - Wanda perguntou.

- Parece que minha cabeça vai explodir. - murmurei, olhando ao redor e percebi onde estava. No hospital. Por que eu estava no hospital?

E todos os acontecimentos caíram em cima de mim como um rolo compressor. Observei o ar passando a minha frente, paralisado e tentando absorver. Tapei a boca para evitar gritar ou vomitar, não sei ao certo, mas meu corpo entrou em choque.

I Sea You - RomanogersWhere stories live. Discover now