#9# ANY GABRIELLY

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Abri os olhos devagar, sentindo a minha cabeça doer e os meus braços e pernas muito dormentes. Tentei me mexer, mas ainda não havia recuperado total controle sobre o meu corpo. Tombei a cabeça para o lado e percebi que estava deitada em um sofá. Havia algo me cobrindo com um cheiro amadeirado, másculo e distinto, e demorei para perceber que era um blazer de terno. Não conseguia ver nem pensar direito...


Levantei num sobressalto ao perceber que desconhecia completamente o ambiente ao meu redor. Estava cansada de ir de um lugar para o outro, encontrando um destino pior do que o anterior. Notei as janelas abauladas e ovais, além do revestimento creme das paredes. Estava em um sofá diante de uma pequena mesa, mas, após ele, havia poltronas confortáveis. Demorei a entender que estava dentro de um avião. Não qualquer avião, pois era menor, porém mais confortável do que qualquer primeira classe que eu tinha visto em filmes.


— Calma — disse em um inglês carregado de sotaque.

Levantei a cabeça e olhei para frente, notando o homem alto que estava parado, segurando um copo com bebida. Ele tinha ombros largos, a barba estava por fazer e os olhos eram azuis, penetrantes, profundos e firmes. Recordei-me de que aqueles olhos foram a última coisa que eu vi antes de desmaiar completamente, devido às coisas que haviam injetado em mim. Não sabia o que era, mas tinham o efeito suficiente para me deixar acordada, mas inofensiva, sem força para falar ou gritar, muito menos lutar contra as barbáries que estavam fazendo comigo.

— Você fala a minha língua?

— Você me comprou? — Engoli em seco, devolvendo a pergunta sem responder a dele, enquanto memórias confusas voltavam pouco a pouco para a minha mente.

— Comprei. — A voz dele se mantinha firme, para não dizer assustadora. Provocava em mim uma sequência de calafrios e acabei me encolhendo no sofá. Sabia que não existia lugar para fugir, já havia tentado algumas vezes e apenas recebera punições horríveis.

— Para onde está me levando? — Olhei para fora da janela do avião, buscando me localizar de alguma forma, no entanto, tudo o que via era um céu escuro e nuvens pesadas.

— Para a Escócia.

Senti um arrepio me varrer seguido de uma dor no estômago. Era medo?

— Você está com fome? — Sentou ao meu lado no sofá e eu fui parar na outra extremidade, recuando o máximo que consegui.


— E-eu não... Talvez... — O misto de medo e descoordenação me deixavam com uma dificuldade enorme de pronunciar frases inteiras. A dor na minha barriga poderia ser apenas isso, fome.


— Traga alguma coisa para ela comer. — O homem de voz firme e sotaque carregado, acenou para outro que estava sentado em uma poltrona próxima à cabine do piloto. Como ele usava um uniforme, imaginei que pudesse ser o comissário de bordo.

Fiquei sentada, encolhida, enquanto o comissário pegava algo na frente do avião e voltava com um prato com o que me pareceu um ravióli e uma lata de refrigerante. 


— Tem salada, mas imagino que precise de algo mais forte. Parece tão abatida, tadinha.

— Colocou a bandeja na minha frente enquanto exibia para mim um sorriso terno.


Havia sido tão maltratada desde que o meu padrasto havia me estuprado e vendido para o tráfico, que era muito estranho ver alguém ser gentil comigo.


— Isso é seu? — perguntei para o homem, que agora era o meu dono, ao apontar para o blazer de terno que estava sobre mim. Não era difícil deduzir, já que ele estava apenas com uma camisa branca.

Apenas fez que sim.

— Quer de volta? — Puxei, tirando-o de cima de mim, mas logo o abracei de novo ao perceber que não queria mais ninguém me vendo com a roupa que estava, ou melhor, a falta dela, uma vez que aquela camisola não cobria nada, deixando os meus seios e a minúscula calcinha visíveis.

— Acho melhor ficar com ele — respondeu, mantendo-se impassível e odiei que aquele homem parecesse tanto uma página em branco. Parecia extremamente ameaçador ao mesmo tempo que estava se mostrando cuidadoso.


— Sim.

— Tem um cobertor, senhor — comentou o comissário de bordo. — Talvez a moça queira.

— Pode pegá-lo, James — ordenou, sem se dar ao trabalho de perguntar se eu realmente queria.


Tentei não me preocupar com o meu destino nos próximos minutos. Era melhor me concentrar no que estava sob meu controle e aplacar a dor da fome na minha barriga. Peguei os talheres e cortei um pedaço da massa em formato de pastel e o coloquei na boca. Tinha um recheio de carne e ervas. Estava delicioso. Havia até me esquecido o quanto uma boa comida poderia ser prazerosa. Tomei um gole do refrigerante e continuei comendo, rapidamente, com medo de que o prato fosse arrancado de mim antes que eu conseguisse terminar.


— Calma, assim vai acabar engasgando. — O homem colocou a mão sobre o meu ombro e senti um calafrio que me varreu inteira, deixando-me arrepiada. O toque dele, estranhamente, não me provocou repulsa. — A comida não esfriará tão rápido, pode ser degustada. — Afastou a mão.


Ignorei a sua fala e continuei até que o prato estivesse completamente limpo.

— Quer mais, menina? — perguntou o comissário de bordo, mas antes que eu pudesse responder, o chefe dele se impôs.


— Não. Se continuar comendo desse jeito, vai acabar vomitando. Deixa dar o intervalo de, pelo menos, uma hora.


O comissário apenas olhou para mim, deu de ombros e voltou para a sua poltrona, como se não ousasse desafiar o seu patrão. Quando a comida começou a assentar no meu estômago, a dor que eu sentia nele passou e percebi que estava saciada. Talvez o homem tivesse razão e comer outra porção daquela realmente fosse um exagero. Porém, que culpa eu tinha se não via uma comida tão saborosa desde o falecimento da minha mãe?



Flashes do pesadelo que eu tinha vivido nas mãos do traficante voltaram para a minha mente e me encolhi, tremendo. Queria fingir que nada daquilo tinha acontecido, mas não havia segurança para desfrutar dessa ilusão. Lembrei da outra mulher que estava comigo e olhei em volta, não havia nenhum sinal dela.


— A SINA... on-onde... cadê?


— Quem? — Franziu o cenho, tentando entender o que eu falava em meio ao desespero.


— A... ela...

— Quer dizer a outra mulher que estava sendo leiloada junto com você?



Fiz que sim em um sutil movimento de cabeça.

— Foi comprada por outro homem. — Ele manteve o tom neutro, beirando a frieza, me provocando outra vez um calafrio.


Morri de medo do que poderia ter acontecido com ela. Quem seria esse outro cara? A qual destino ele sentenciaria a pobre mulher jogada nesse pesadelo como eu? Por mais que quisesse me preocupar com ela, precisava me atentar aos meus próprios problemas.



— Descanse um pouco. — Pegou o cobertor e o colocou sobre mim. — A viagem ainda vai durar algumas horas.



Tive medo de fechar os olhos, acabar dormindo e acordar com todos aqueles homens da aeronave em cima de mim, contudo, estava tão cansada que, ao ficar parada, meus olhos pesaram e acabei pegando no sono. Não sabendo que seria o cochilo mais tranquilo que tirava há muito tempo.

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Gente da estrelinhas ai quem gosto....

Comprada por JOSH ( ADAPTAÇÃO )Where stories live. Discover now