#12# Any

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Saí do banheiro e encontrei sacolas de uma loja de roupas sobre a cama. Alguém havia as deixado ali sem que eu notasse enquanto tomava banho. Aproximei-me delas e vi algumas peças de roupas, inclusive roupas íntimas, nenhuma delas chamativa ou sensual. Escolhi uma calça jeans e uma blusa com mangas, cobrindo o meu corpo ao máximo. Senti-me aconchegada por estar naquelas roupas que não mostravam nada além do que deveria. Era terrível me recordar de que tantas pessoas haviam me visto nua.


Assim que terminei de me vestir, ouvi uma batida na porta e alguém perguntou do outro lado se poderia entrar antes de empurrá-la.



Era o Wallace e ele me olhou de cima a baixo. Seu olhar me fez encolher, mas logo notei que não havia cobiça nele, nem algum indício que ele se aproximaria para abusar de mim.


— Que bom que as roupas serviram.


— Foi você?

Fez que sim.

— Obrigada!

— O senhor me pediu para comprar roupas confortáveis, para que não precisasse mais andar nua. — Ele riu e eu me encolhi.


— O que ele vai fazer comigo agora? Devo ficar aqui no quarto esperando que ele venha transar comigo?


— Ele não transa nos quartos — balbuciou, e percebi que havia algo sobre aquele homem que eu não sabia.


— Para onde devo ir, então? — Tentei impedir que a minha respiração acelerasse demais, mas estava tensa e preocupada. Imaginava o quanto pudesse ser assustador e doer quando aquele homem satisfizesse os desejos dele comigo.


— Para casa.

— Casa? — Cambaleei alguns passos para trás até que minhas panturrilhas batessem em uma poltrona.


— Sim, menina, para o lugar de onde você veio. O senhor não pretende tomar você como escrava sexual dele, só a comprou para tirá-la daquele circo de horrores. Mandou que desse um dinheiro para você e a levasse para o aeroporto de Edimburgo. Assim que quiser ir, eu vou contatar o piloto.




— Ir embora? — balbuciei, chocada.


— Sim. — Ele sorriu para mim animosamente. Estava sendo realmente gentil. Depois de tudo o que havia passado, era até estranho me deparar com esse tipo de atitude. — Não é uma prisioneira aqui, garota. Imagino que tenha passado por momentos bem difíceis nas mãos daqueles bandidos, mas agora está livre.


— Não preciso fazer nada nem pagar nada para ele?

O homem loiro apenas balançou a cabeça em negativa.

— Acredito que tenha se deparado com o meu patrão em um bom dia ou a sua situação realmente mexeu com ele, pois não costuma tomar esse tipo de atitude.


— Será que você poderia me arrumar alguma coisa para comer? — pedi sem pensar, a verdade era que precisava ficar sozinha.



— Sim, claro.

— Obrigada!


Apenas moveu a cabeça em um meio sorriso antes de deixar o quarto.


Caí sentada na poltrona. Estava feliz, feliz como não me lembrava de sentir, ao mesmo tempo imensamente chocada. Havia vivido por alguns meses com os piores dos seres humanos, que até me esquecera de que algumas pessoas poderiam simplesmente ser boas. Mamãe sempre falava um velho ditado: fazer o bem sem olhar a quem. Só não imaginava que me veria do outro lado da moeda, sendo ajudada por um estranho rico.




Queria voltar para casa, queria muito. Porém, fui tomada por pavor quando me recordei de que, a casa que tanto amava, o lar feliz onde cresci na companhia dos meus pais, não existia mais. Quando a minha mãe morreu, pelo menos parte da casa deveria ter ficado para o meu padrasto. O mesmo homem que me mostrou a dor das mais diversas formas. Ainda que ele não tivesse direito a nada, como agiria se soubesse que eu voltei? Poderia ser vendida de volta, ou pior, morta.



Ao fitar o estranho sonho de estar no meio do nada na Escócia, tive certeza de que não queria voltar para aquele pesadelo. Tinha apenas a minha avó no Brasil, mas quase não tinha contato com ela antes de tudo isso acontecer, naquela altura, era bem provável que achasse que eu estava morta. De fato, morri várias vezes no cativeiro.

Comprada por JOSH ( ADAPTAÇÃO )Where stories live. Discover now