#13# Any

3.3K 293 7
                                    



Não queria voltar para tudo aquilo, tampouco me afastar das pessoas que estavam sendo gentis comigo. Só de pensar que eu não seria estuprada ficando naquele quarto, me fazia desejar ficar nele para sempre.



— Aqui está! — Wallace entrou com uma bandeja e a colocou sobre uma mesa redonda, não muito longe de onde eu estava.




Observei a bela salada acompanhada de camarões em um molho e algumas fatias de um peixe grelhado. O cheiro era ótimo.



— Obrigada! — Aproximei-me do prato e ele me esticou os talheres.





Puxei uma cadeira e me sentei. Deliciava-me com cada mordida, sentindo o sabor das coisas na minha boca, tão diferente da gororoba que me serviam no cativeiro, que parecia pior do que lavagem para porcos. Além delas, havia os suplementos para que os nossos músculos não mudassem, nem as formas do nosso corpo. Duvidava muito que a doutora que cuidou de mim realmente estivesse preocupada com a minha saúde. Queria que eu parecesse minimamente saudável depois de tantos abusos psicológicos que sofri lá.





— Mais um pouco?



— Não, Wallace, muito obrigada. Será que eu poderia falar com o Josh, quer dizer... o senhor? Queria agradecer.




— Ele está no escritório trabalhando agora e não gosta de ser interrompido.





— Não vou demorar.


— Não! — Foi enfático e firme, fazendo-me encolher assustada. Ter alguém gritando comigo despertava lembranças horríveis que me fizeram encolher.



Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e a postura de Wallace mudou. De repreensivo para preocupado. De repente, vi um pouco do meu pai nele, por mais fisicamente diferentes que fossem. Isso fez com que eu me sentisse acolhida novamente.



— Desculpa, não queria gritar com você.




Engoli minhas lágrimas, mas não o respondi. Ainda estava muito abalada com tudo e o grito realmente tirou-me dos eixos. Haviam gritado tanto comigo, me puxado e jogando-me de um lado para o outro que não conseguia fazer outra coisa a não ser me encolher.



— Apenas se arrume para ir embora. Vou buscar o dinheiro.


— Espera!


— Sim? — Virou-se para mim e me encarou severamente, esperando o que eu tinha a dizer.



— Não posso ir. — Sabia que era mais não querer do que não poder, de fato. Se saísse de perto daqueles homens, quem iria me proteger dos bandidos?



— Por que não?

— Não tenho documento nenhum, nem nada. Será que me deixarão pegar um voo para o Brasil sem passaporte?




— Não. É bem provável que não. — Pela forma como franziu o cenho, tive certeza de que havia colocado-o para pensar.



Mamãe sempre dizia que eu era uma menina esperta, que conseguia usar a situação ao meu favor e, talvez por isso, houvesse conseguido sobreviver aquele tempo nas mãos dos traficantes. Por mais que o meu inglês fosse razoável, nunca havia feito uma viagem internacional antes, no entanto, para viajar dentro do Brasil sempre precisei do meu documento de identidade e o equivalente internacional era o passaporte, que eu não tinha.




Os traficantes haviam me mandado para a Europa através de uma companhia aérea que me colocou dentro de um avião com outras mulheres, sem nos contar ou mesmo registrar entre os passageiros. Era um esquema gigantesco e assustador, que incluía a polícia de imigração.



— Vou ver o que posso fazer.


— Obrigada! — Sorri brevemente. — Preciso ficar aqui dentro do quarto ou posso olhar o castelo? Parece tão bonito. Nunca estive em um castelo antes, achava que era coisa de filme.



Wallace me olhou e ficou pensando por um tempo.


— Você disse que eu não sou uma prisioneira aqui. — Usei suas palavras contra ele.



— Não é, senhorita — Manteve a pose, mas percebi que poderia ter pisado em um calo.




— Pode andar pelo castelo, mas não abra nenhuma porta que esteja fechada, nem perturbe o senhor.

— Obrigada!

Abri um largo sorriso e ele saiu do quarto, pensativo. Imaginei que fosse tentar resolver o fato de eu não ter um passaporte, isso me daria ao menos alguns dias para pensar no que fazer.




Torcia para que eles fossem tão bons quanto estavam se mostrando e aquele castelo no meio do nada fosse um recanto seguro.


...................................................................................

Comprada por JOSH ( ADAPTAÇÃO )Where stories live. Discover now