#22# JOSH

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Acordei cedo e vesti um terno alinhado para ir à destilaria. Havia coisas importantes a serem tratadas com a equipe, inclusive a implantação de um museu que contasse a história da minha família e a abertura desse para a visitação turística. Meu avô, que administrava a destilaria antes de mim, nunca foi muito favorável em abrir as portas da destilaria para o público e mostrar como o uísque era produzido como se fosse um show. Porém, eu já tinha um pensamento bem diferente, era uma receita a mais e ajudaria a propagar a nossa história.




Quanto mais tempo passasse fora do castelo, melhor, pois poderia me esquecer da presença da Any. Ela seria completamente insuportável, se não fosse tão bonita.


Estava prestes a sair do quarto quando o meu celular vibrou no bolso. Revirei os olhos ao fitar o número no identificador de chamadas e cogitei por alguns momentos não atender, simplesmente deixar cair na caixa-postal. Já estava irritado demais para lidar com mais um ponto de estresse.


— Alô! — Acabei atendendo.

— Querido, como você está?

— Bem.

— Liguei para dizer que vou para casa no fim do mês, passar alguns dias com você.


— Não está em casa agora?



— Sabe que o castelo também é a minha casa.



— É, mãe? Não tenho tanta certeza disso, você nunca gostou desse lugar. Na verdade, ainda me pergunto se gostou de alguma coisa na vida, considerando a quantidade astronômica de vezes em que você se divorciou.



— Eu gosto de você.



— Tenho minhas dúvidas. — Revirei os olhos. Tudo o que não precisava naquele mês era de Úrsula Beuachamp  fingindo ser a mãe do ano. As minhas suspeitas eram que ela estava falida outra vez e precisava de mais dinheiro.



— E o fotógrafo que você estava namorando, vai abandoná-lo para vir para a Escócia?



— Não estamos mais juntos.


— Era de se prever.



— Querido, achei que iria ficar feliz em saber que estou indo aí.



— Talvez em outra dimensão. Quanto está precisando? Me diga o valor que faço uma transferência, para que não precise vir para cá.



— Credo, Joshua! Como se eu ligasse para o meu único e amado filho apenas para saber de dinheiro.


— Se há outro motivo, eu desconheço.



— Apenas fique feliz por receber a sua mãe.


— Não venha!


— Nos vemos em breve, docinho. — Ela desligou antes que eu pudesse me impor.




Caralho! Quando a derrocada da minha vida havia começado e eu não tinha percebido? Eu não era solitário à toa e talvez um dos principais motivos disso fosse a minha mãe. Ela poderia negar até a morte, mas todos sabíamos que a minha gravidez foi o bom e velho golpe da barriga. Ela conheceu o meu pai, um escocês rico, em um evento beneficente, talvez por isso eu odiasse tanto essas coisas. Uma noite com ele e já estava grávida, era de se prever que esse casamento não daria certo. Eles se separaram um ano depois que eu nasci, meu pai morreu três anos depois em um acidente de carro e eu acabei sendo criado pelos meus avôs paternos e, quando eles partiram, tudo o que pertencia a família se tornou meu.



Precisava dar um jeito da minha mãe não aparecer por ali, principalmente por estar lidando com um problema muito maior, que era a Any gabrielly.




Saí do corredor e segui até a porta do quarto do Wallace. Dei uma batida firme, seguida de outra, sem esperar que ele respondesse. Estava prestes a bater pela terceira vez quando ele abriu a porta.



— Bom dia, senhor! — Esfregava os olhos em meio a um bocejo. — Que horas são?




— Seis, talvez sete da manhã. — Cerrei os dentes, ficando ainda mais irritadiço, não estava ali para ser o despertador dele. — Já deveria estar de pé. — Deveria estar sendo exagerado, mas não me importei.


— Sim, me desculpe. Para o que precisa de mim? Algum outro problema com a menina?




— Não. Não vejo a Any desde o incidente na masmorra. Vim para falar sobre outra coisa.




— Qual outro assunto o deixaria tão irritado? — A minha mãe.




Wallace ficou pálido, assim como eu, compartilhava do mesmo desprazer em ter notícias dela. Se havia persona non grata naquele castelo, essa era a minha mãe.



— O que ela quer? — Seus olhos já estavam até mais abertos. Tocar naquele assunto acabou acordando-o de vez.



— Disse que vai vir para cá. Transfira umas cem mil libras para ela e garanta que minha mãe nem pisará no aeroporto de Edimburgo, não estou com tempo nem paciência para lidar com ela.



— Pode deixar, senhor.


— Ótimo! — Dei as costas para ele. — Vou para a destilaria, volto à noite.


— Bom trabalho, senhor.




Deixei que a voz dele se perdesse enquanto eu desaparecia pelo corredor. Trabalhar era a melhor coisa que poderia fazer por mim mesmo naquele momento.



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Maratona 10/2

Comprada por JOSH ( ADAPTAÇÃO )Where stories live. Discover now