#10# Any

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O impacto das rodas do avião batendo no solo me chacoalhou e fez com que eu abrisse meus olhos. Percebi que estava presa ao sofá pela cintura e por isso não havia caído. Não sabia quem havia me amarrado enquanto eu dormia.



Olhei de volta para a janela. Estava claro, o dia havia chegado e eu nem notara. Balancei a cabeça, lembrando que havia outras pessoas comigo no avião e os encontrei atados às poltronas pelos cintos. Apenas pararam quando a aeronave cessou seus movimentos.



— Consegue se levantar? — Pisquei e o meu comprador estava parado perto de mim.



Assenti com a cabeça ao soltar o cinto e me enrolei no cobertor e no blazer. Poderia ser dia, mas tive a sensação de que estava fazendo frio ao observar as montanhas com os picos nevados. Não poderia estar tão certa, pois quando coloquei os pés na escada do avião para descer, uma brisa gelada tocou o meu rosto, fazendo-me encolher. Não sabia em qual estação do ano estávamos, mas alguma fria, ou poderia ser apenas aquele local.



— Vamos, moça! — Ouvi uma voz irritada atrás de mim e virei, notando um homem loiro e baixo. Deveria ter algo perto dos quarenta ou cinquenta anos.



Terminei de descer a escada, reparando que estávamos em uma pequena pista de pouso e, ao fundo, havia um hangar. Deveria ser uma garagem para guardar o avião? Definitivamente entendia bulhufas dessas coisas. Contudo, aquele não parecia um aeroporto comercial como os que já tinha visto ao longo da vida, cheio de cargas, pessoas e aeronaves. O único ali era aquele pequeno jato particular, com uma lotação máxima para talvez umas dez pessoas. Quando meu padrasto me disse que eu seria vendida para algum gringo milionário, quem poderia prever que o cara teria o próprio avião e pista de pouso?




Continuei andando até sairmos da pista de pouso e nos aproximarmos de um carro preto. A porta de trás foi aberta e fizeram um sinal para que eu me sentasse. Busquei os olhos azuis do meu comprador, porém, ele não me encarou de volta, apenas entrou no banco de trás e me deu a mão para que eu o acompanhasse. Assim que aceitei, puxou-me para dentro e o cara loiro dirigiu, nos levando para longe dali.



Olhei para fora, através do vidro escurecido pelo insulfilm, observando uma pradaria ressecada, em contraste com montanhas altas que surgiam no horizonte. Passamos em uma pequena ponte sobre um riacho, até nos aproximarmos da única construção que poderia ser vista em quilômetros.



Era um castelo?! No início, achei que estivesse sonhando, mas depois foi impossível negar, havia um castelo se aproximando cada vez mais no horizonte.




Seguimos por uma estrada cercada por muros de pedras num tom bege, ora cinzentas ou avermelhadas. A estrada nos levou através de um portão para uma entrada com uma enorme porta preta. O carro parou e nós saímos de dentro dele. Fiquei alguns segundos admirando a arquitetura esplendorosa daquele lugar. Era como se eu tivesse sido transportada para um filme medieval. Quem em pleno século vinte e um morava em um castelo? Pelo visto, o homem que havia me comprado morava.



Segui em inércia com eles pelo hall de entrada. Enquanto o exterior parecia velho e retrógrado, o interior esbanjava luxo e requinte. Um enorme lustre de cristal pendia do teto e pinturas decoravam as paredes cobertas por tapeçarias.


— Wallace, leve a moça para um dos quartos de hóspedes e veja se ela precisa de alguma coisa — meu comprador disse para o cara loiro, e sumiu de vista para algum canto do castelo sem nem ter o trabalho de perguntar o meu nome.


— Venha comigo, senhorita... — Wallace parou no meio da frase.


— Any , Any Gabrielly.

— Portuguesa?

— Não, brasileira.

— Ah! Siga-me. — Fez um gesto.


Fomos até uma escada e subimos para o andar superior do castelo. Eu observava cada detalhe do corredor amplo e das galerias por qual passávamos, experimentando um pouco de sonho em meio ao pesadelo que vivia.



Wallace parou diante de uma porta e a abriu, revelando um quarto que me deixou de boca aberta. Ele era claro, não apenas pelas grandes janelas que inundavam o cômodo com a luz do sol, mas pelo papel de parede num tom creme com florais. O teto era branco com alguns relevos em dourado que construíam um desenho geométrico. A cama era espaçosa e possuía uma bela colcha preta com bordados em dourado, e no centro do quarto estava um lustre de cristal menor do que o que vi no hall. Se aquele era um quarto de hóspedes, fiquei imaginando como era o do dono daquele lugar.



— Qual o nome dele? — perguntei para o Wallace, antes que ele fosse embora e me deixasse sozinha.


— Do senhor?


Fiz que sim. Ele não havia me falado, e nem tinha ouvido alguém chamá-lo pelo nome.



— Josh , Josh Beauchamp , mas ele não gosta de ser chamado pelo nome. Então, sempre o trate como senhor.



— Okay! — Engoli em seco, pensando em como um homem que era capaz de comprar uma mulher agiria.



— Tome um banho e descanse. Vou providenciar roupas para você.


— Muito obrigada. — Sorri diante da gentileza dele. Só de pensar que não teria que ficar mais tempo com aquela camisola, já ficava feliz.



Wallace me deu um empurrãozinho para que eu entrasse no quarto e eu contemplei o cômodo mais uma vez, sem saber se aquele seria um paraíso ou uma prisão de luxo.

Comprada por JOSH ( ADAPTAÇÃO )Where stories live. Discover now