No passado

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A garota de marias chiquinhas observa essa garota de bochechas redondas e cabelos castanhos. Vestindo uma roupa de hospital em um tom triste de verde água, ela parece ainda mais comum do que o normal. É, ela é bonita sim, mas não chega a ser uma beleza estonteante, já houve jogadoras com características físicas mais marcantes.

Então qual é o segredo dela? Como pode uma garota de aparência tão ordinária contornar todos os caminhos tão cuidadosamente pavimentados nesse jogo, atropelar todas as regras pré-estabelecidas e ainda se dar bem? Os números não mentem, os pretendentes estão felizes. Mas como podem estar felizes com uma garota que os rejeita a sangue frio e segue agindo como se não fosse nada demais? Ela nem é grande coisa, como se dá a esse luxo e ainda consegue um good ending? E o mais importante: como alguém que não entende nada sobre esses jogos consegue perturbá-la tanto ao ponto de fazê-la adaptar as histórias, ver se a garota vai se aprumar e fazer o que é esperado dela pelo menos uma vez, para enfim frustrá-la de um modo que esse mundo não está suportando tanta pressão de sua própria criadora?

— Oh, que bom que melhorou! — a garota sorri, olhando-a atentamente por alguns segundos, até que seus olhos começam a se voltar para a porta atrás dela — Então, hã... posso ajudar em alguma coisa?

— Não sou eu que deveria fazer essa pergunta? — ela afina a voz, assumindo sua faceta de garota colegial.

— Ah, acho que... normalmente sim, mas eu não preciso de ajuda agora, obrigada.

— Tem certeza?

— Tenho sim, obrigada. — ela leva uma mecha de cabelo para trás da orelha, ainda olhando para a porta — Bom, se não se importa, eu... eu tenho que ir, a peça já vai começar e eu...

— Você precisa entregar uma boa performance para agradar ao Todoroki Shouto para conseguir o good ending com ele, não é isso?

— É, sim.

— E só falta o good ending com ele, não é mesmo?

— Bom, acho que sim. Acho que não vou pegar um good ending porque não vou aceitar nenhuma declaração de amor, mas... é, meu objetivo é conseguir pelo menos um final neutro.

— E de onde você tirou que existem finais neutros nesse jogo?

— Bom, eu... eu não entendo muito, mas foi uma possibilidade que surgiu porque nada de ruim chegou a acontecer, e os pretendentes pareciam felizes mesmo eu não aceitando a confissão ou cumprindo o objetivo da rota, então... se não aconteceu nada ruim ou bom, é neutro, né? Um... um final neutro... — ela explica com toda a incerteza que parece ter. Que ridícula, nem ela mesma entende o que está dizendo, então como pode ter dobrado o jogo desse jeito? — Me desculpa, mas eu preciso ir mesmo, eu-

— Você acha que se completar todas as rotas, irá conseguir sair daqui, não é? Você e aquele garoto loiro com cara de bandido. — ela aponta entredentes.

— Hã, como você...? — a garota se aproxima — Você... você também é uma...?

— Eu não sei de onde vocês dois tiraram que seria assim.

— Bom, a gente não tinha certeza que seria isso mesmo, mas me pareceu o único jeito, e o Bakugou-kun disse que...

— E você confia nesse garoto tão cegamente por quê? Eu vi suas memórias dele, não tem uma em que ele não esteja berrando ou xingando. Não se esqueça, ele é o vilão, não é de confiança.

— Ele pode ser um vilão aqui, mas não é assim no meu mundo, ele não... espera, como assim você olhou minhas memórias?

— Que tipo de desenvolvedora de jogos eu seria se não soubesse exatamente o que minhas jogadoras pensam, querida? — Sakura sorri quando a garota finalmente se dá conta.

Tudo o que está em jogoWhere stories live. Discover now