No painel de controle

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Ochako não perde tempo em tentar entender o quê ou quem. Assim que sente a tal mão puxando-a, já movimenta o braço para baixo a fim de conseguir maior alcance nas costas da pessoa que a puxou, segurando-a pela nuca e desvencilhando-se rapidamente. Ela completa o movimento dobrando o braço de seu (ou sua) algoz sobre suas costas e imobilizando-a pela nuca, no melhor e mais clássico movimento Gunhead Martial Arts.

— Uau, você e o garoto Bakugou não perdem tempo mesmo, né? — é a voz de um homem adulto, Ochako reconhece vagamente como sendo do... enfermeiro Hawks.

— Eu não tenho tempo pra perder, me fala como sair daqui, eu tenho que...

— Ir participar da peça? Desculpa, ela já começou.

— O quê? — a garota o aperta mais, recebendo grunhidos de dor e incômodo como resposta — M-mas como se eu...? Se eu sou a protagonista?

— Você pode ficar se questionando isso ou pode me soltar e ouvir o que eu tenho a dizer, Uraraka-chan.

— E o que te faz pensar que eu confiaria em você? O Bakugou me disse, você também sabe do jogo, mas é diferente, você sabe que a Otoge Sakura é a desenvolvedora, não sabe?

— Sim sim, eu sei, eu... — outro grunhido — Eu sei de mais coisas do que você pode imaginar, e não me importo em te contar, mas seria bom se você me soltasse, Uraraka-chan, tá... machucando minhas asas.

— Suas... suas asas? Mas você não tem... você... você é o Hawks de verdade? — de repente ela se preocupa por ter atacado um herói profissional dessa maneira, mas... se fosse mesmo o Hawks, ele saberia como se proteger do golpe dela.

— Não, essa é a questão. — ele responde — O tal de Hawks tem asas, não é? A Otoge-sama vasculhou em suas memórias alguém que fosse do tipo bonitão simpático e inacessível para ser o enfermeiro NPC da sua história no jogo, e acabou sendo esse Hawks, mas o cara tem asas, e bom... nesse mundo ninguém tem individualidades.

— Ou asas... — ela complementa — Então você... só cortou?

— Se eu cortasse só as penas, elas cresceriam de novo, né? Tive que... raspar os ossos. — ele diz em um tom que quase soa desculposo, Ochako afrouxa um pouco a forma como o segura — Ainda dói um pouco, mas pelo menos não cortei nada vital, a psicóloga que foi inspirada naquela heroína Mirko teve que cortar as orelhas de coelho, deu um trabalho danado, pelo que eu soube.

— A psicóloga...? Ela também é uma NPC que sabe de tudo?

— É, sim... um pouco menos que eu porque ela foi uma personagem criada exclusivamente para o seu jogo, Uraraka-chan. Já eu... existo há mais tempo, desde as versões teste. Já fui reiniciado tantas vezes que não tem nada nesse mundo que eu não conheça. É por isso que seria legal você me soltar e me ouvir.

— E como eu vou saber que você é confiável?

— Porque eu sou programado pra... ai, pra sempre ajudar a protagonista. Por que você acha que contei da sala secreta para o garoto Bakugou? Por que acha que te puxei pra cá? Porque sei como te ajudar.

Ochako considera as palavras dele cautelosamente, não dá pra ver direito o rosto do homem nessa sala mal iluminada, além disso, ele está com a cara voltada para o chão devido ao jeito que ela o imobiliza, não dá para ler a expressão dele em busca de sinais que está mentindo ou não.

De toda forma, a garota não consegue entender o fato de ele ter contado para o Bakugou sobre o limbo do jogo como algo prejudicial para eles dois, saber disse realmente lhe deu mais esperança de poder deixar o jogo sem ter que terminar a rota do Todoroki, fora que a fez entender que o garoto loiro esteve desde sempre trabalhando de maneira ativa para pôr um fim nisso. A conversa que ela teve com o Bakugou no depósito do ginásio só foi possível graças à revelação sobre a sala secreta, feita por este homem que agoniza sob ela no momento.

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