No palco

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Uma semana se passou num piscar de olhos. Quase que literalmente. Por mais que seja um mundo de mentira, muitas coisas aqui parecem um tanto reais, inclusive a passagem de tempo, que funciona normalmente, um dia corre como um dia, uma semana como uma semana, e aquela sensação de "nossa, passou voando" existe aqui também.

Ou vai ver ela só está se acostumando demais com tudo isso aqui, o que tanto pode ser bom quanto ruim, dependendo de como se olha.

É ruim porque ela sente que está se conformando, uma parte dela ainda acha que daria pra encontrar uma outra maneira de sair daqui que não fosse jogando o tal dating sim, essa maneira, claro, envolve descobrir que individualidade é essa que os trouxe até aqui e, mais importante, quem a controla. Será que essa pessoa está assistindo? Sabe de tudo que está acontecendo? Prendê-los aqui é um tipo de sequestro? Seus amigos e família estão muito preocupados? São coisas que lhe passam pela cabeça, mas nunca tomam forma completa, pois Ochako acaba se envolvendo com seus próprios problemas desse mundo, deixando-a cada vez mais absorta em seu papel de protagonista.

O que também pode ser bom, pois ela está se adaptando e começando a entender melhor as dinâmicas do que acontece por aqui. As pessoas não aparecem de maneira tão aleatória assim, tem uma lógica de porque ela conversa com tal personagem em determinado momento e como algumas escolhas afetam eventos posteriores.

Por exemplo, nos dias em que ela recusou ir embora com o Kirishima, o Deku e o Todoroki apareceram para conversar, e isso lhe deu a chance de aumentar sua intimidade com eles (no presente momento, 40% com o garoto de cabelos verdes, e 15% com o "senpai"). Da mesma forma, evitar o Monoma e a curiosidade desagradável dele faz o Kirishima ou a Tsu surgirem. A intimidade com a garota chegou a 5% e Ochako até comemorou um pouco, já com o loiro continua tudo zerado, e o Kirishima é super fácil de agradar, qualquer coisa que ela diz ou faz rende aumentos, o Bakugou até a aconselhou a ir devagar com ele se quer mesmo fazer a rota do Deku primeiro.

E nesse momento, esse é um dos maiores problemas. Por mais desconcertada que fique ao olhar para o tal tesoureiro do conselho estudantil, por mais que ele se assemelhe muito ao Deku verdadeiro em diversos aspectos e pensar nisso revive algumas coisas que ela pensava lá no primeiro ano, a ideia de ser uma protagonista apaixonada por alguém como ele não a agrada, e a razão lhe deixa se sentindo mal, porque ela realmente não gostaria de pensar assim:

Que garoto grudento!

Desde o tal momento deles na enfermaria, algo mudou, o Deku aparece com muito mais frequência para interações nos corredores. Muito mais frequência mesmo, ela o vê nos intervalos de todas as aulas, e agora ele traz um bentô para comer junto dela e da Kyoka na hora do almoço, sendo que ele nem é dessa sala, nem mesmo desse ano. E ok, ele é fofo, muito fofo! Parece um esquilo quando come, fica envergonhado com os comentários da Kyoka, e os momentos em que ele faz questão de lembrá-la que é um homem e não gosta de ser chamado de "fofo" são adoravelmente engraçados, mesmo que sejam meio ridículos. Mas... ele é cansativamente prestativo, está sempre se oferecendo pra pegar coisas pra ela ou acompanhá-la (ele provavelmente iria ao banheiro com ela se pudesse) e é muito... grudento, é, é isso.

— Senpai! — tanto que Ochako sente até um certo incômodo ao ouvi-lo chamando-a quando as aulas acabam.

— Oi, Deku-kun, e aí?

— Tudo certo, e você?

— Tudo também, tô indo pro clube. — ela aponta na direção do corredor, tentando fingir que está com pressa, mesmo que não esteja, de fato.

Porque hoje Ochako tem mais um problema além do fato de estar tentando fazer esse garoto se apaixonar: hoje ela tem um teste para uma peça. E o mais absurdo é que a morena realmente se prestou a decorar as falas, mesmo que não queira realmente fazer o tal teste ou estar na peça, é só... algo que ela sentiu que tinha que fazer e, na falta de deveres de casa realmente complexos que tomem seu tempo, e o fato de que as suas amigas nesse mundo nunca estão disponíveis para sair ou conversar muito mesmo pelo telefone, ela não tinha muito pra fazer e resolveu conferir as tais falas: um monólogo sobre uma garota que desperta depois de muitos anos e não tem nenhuma memória de seu nome, vida ou personalidade, a única pista é uma carta de amor de um tal Henry, que descreve várias características que o fizeram se apaixonar pela garota, levando-a a imaginar que ela é exatamente como a carta lhe descreve. O texto é... surpreendentemente envolvente, ela o leu com avidez para saber se a garota descobre mais, mas o trecho estava incompleto, eram apenas as falas necessárias para o teste.

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