Pétalas de cerejeira

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— Posso saber qual é exatamente o plano, Uraraka-chan? — o enfermeiro corre junto dela, ambos descendo as escadarias com passos apressados e derrapando levemente no chão quando fazem uma curva para correrem em direção a onde ainda acreditam estar o anfiteatro.

Ochako apenas agradece internamente por não estar descalça como deveria estar para a peça, a Otoge lhe pegou completamente desprevenida no camarim, de modo que ela já estava com o figurino, só faltava tirar os sapatos de andar no chão acarpetado. Foi bom ainda estar com eles considerando como ela correu pra lá e pra cá nos últimos minutos, incluindo para dentro de uma caverna!

— Eu vou parar a peça e tirar o Bakugou-kun de lá pra gente poder sair, você não precisa vir comigo, pode ir até onde a Otoge Sakura está e garantir que ela está onde você a viu, não deve ser difícil tirá-la se ela não estiver consciente.

— Entendido. Mas tem certeza que você vai simplesmente parar a peça?

— Como assim?

— Bom, é que... seu objetivo era completar a peça, não?

— Sim, mas isso era antes de eu saber que dá pra sair sem completá-la. — ela diz de maneira fria.

— Entendo... e isso não é nem um pouquinho de vingança com o Todoroki-kun por ter tentado garantir que você pegasse um bad ending pra continuar aqui?

— O quê?

— Olha, não tô te julgando. Você pode ser a protagonista, mas não é 100% boazinha, é? Ninguém do mundo real é. Se estiver com raiva pelo que ele fez a ponto de deixar ele se estrepar com o negócio da peça... acho que é um direito seu.

— Isso não...

Diante de tudo que aconteceu, Ochako não chegou a pensar a fundo no fato de que o Todoroki desse mundo essencialmente... a traiu. Ele mentiu dizendo que não sabia quem era a criadora do jogo, deixou que a garota se desesperasse por não conseguir entregar exatamente o que era esperado dela nessa rota e teve algumas chances de alertá-la, mas não fez nada.

Talvez porque ele não tivesse escolha... mas... sendo um personagem que acumulou conhecimento por ter se tornado ciente do mundo em que está, vai ver ele não é assim tão preso à trama. O enfermeiro correndo ao lado dela tem seus limites também, mas está fugindo de algumas pré-determinações de sua função para conseguir algo que quer. Ele fez uma escolha, será que o Todoroki não fez a dele também quando a deixou à própria sorte com a Otoge?

— Você não tinha se ligado no que ele fez, né? Desculpa. — ele soa genuinamente sentido, vai ver não queria que ela se sentisse magoada com a tal traição.

— Não, tudo bem. — Ochako garante — Eu... taí mais um motivo para ir até esse anfiteatro, tem coisas que eu preciso saber antes de sair daqui.

— Oh, você vai confrontá-lo na frente de todo mundo? Ahhh, eu queria ver isso, mas você me deu outra missão, que droga!

Ochako dá um sorrisinho debochado, surpreendendo-se mais e mais com a natureza desse personagem.

— Sabe... pra alguém que diz não ter nenhum traço de personalidade, você... — ela diz assim que para no corredor que dá para o anfiteatro. Ao que tudo indica, a Otoge realmente não alterou esse espaço pois achou que Ochako não conseguiria escapar do "labirinto" montado na parte traseira do local. Foi uma aposta com bons resultados — você é mesmo uma figura.

— Quê? Mas por que você- Eu... por que... você não vai ganhar nada me elogiando! — e toda essa faceta tranquila e apoiada em uma certa malandragem se desfaz com ele claramente ficando muito sem jeito pelo comentário.

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