• Capítulo 24

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Negando ao voltar a encarar o diário, Gulf suspirou ao passar a mão pela capa, soltando quase uma espécie de assovio ao notar as cores das letras agressivas contido na estrutura do objeto, sendo elas: Vermelho e um azul claro, uma segunda cor praticamente invisível pelo vermelho vivo que se sobressai de maneira forte. Puxando algumas memórias que fixa sua atenção nas gravuras que havia feito há 5 anos atrás, Kanawut sentiu lágrimas querendo se formar e transbordar como uma pia cheia de água quando a saudade se faz novamente presente.

Automaticamente, ele se repreendeu em pensamento.

Não era para estar desta forma ao ter um pequeno milagre acontecendo em sua vida, era? Gulf refletiu ao abrir o diário, tentando prender a dor e fazer com que ela não voltasse a ficar nítida demais para seu corpo. No entanto, no momento em que a primeira página foi aberta,— o que em pensamentos era pra ser algo fácil de se concluir —, seu coração naturalmente se transformou num rebuliço de sentimentos.

Espantado ou feliz? Gulf não fazia ideia do que sentir.

Observando o quanto o diário foi bem tratado pelo veterano, o calouro notou que as páginas que se recordava de estarem amassadas, não estavam mais em seu estado deplorável de quando estava em suas mãos. E, por mais inacreditável que seja ao se recordar, nem mesmo o rasgar da folha branca que protege a capa do lado de dentro do diário estava lá para comprovar suas lembranças. Era surpreendente. Ao contrário do desastre, desta vez, um adesivo segurava a proteção caída de antes. Um sol. Um enorme adesivo de um radiante sol amarelo estava no lugar rasgado, escondendo perfeitamente o descuido de sua parte.

Respirando fundo, Gulf sorriu embasbacado com a novidade que não havia visto na primeira oportunidade quando havia pego o objeto.

— Wow... Por essa eu não esperava! - Ele sussurrou atônito, passando o dedo por cima do desenho escolhido pelo veterano. - P'Mew, você não acha isso um pouco demais? Quero dizer, você gosta tanto assim desse diário? - O calouro continuou se questionando num tom quase inaudível, feliz e entristecido ao ceder a chance de bisbilhotar algo que já era seu; ou quase isso.— Talvez "metade-metade", como sua mãe costumava dizer.

Bem, se a situação fosse olhada por um ângulo diferente, em partes, realmente não significava ser nada demais saciar aquela pequena curiosidade. Contudo, se verdadeiramente fosse "nada demais", por quê exatamente havia preferido fingir que não havia encontrado o diário logo que se conheceram? Naturalmente, o pensamento fez Gulf sorrir ainda mais. A resposta era clara, e a pergunta consequentemente boba: Ele queria conhecer aquela pessoa ao qual havia decidido deixar seu querido diário... E também, existia o fator do "não querer" ver o diário.— Uma simples resposta. Não havia segredo. Porém, a brincadeira do destino parecia confusa demais para acreditar,— soando até mesmo dramática.

Negando a si mesmo, Kanawut olhou de relance para o veterano antes de guardar o diário de volta ao seu esconderijo nada engenhoso; fechando a gaveta lentamente ao se sentir exausto enquanto o celular era confiscado. Ele suspirou. Como os outros dias, não havia nenhuma notícia de Hélios. Porém, quando os olhos pousaram novamente no esconderijo da capa amarela, um pingo foi possível enxergar na tela do aparelho.

— O que...? - Surpreendido e limpando rapidamente a lágrima solitária, Gulf seguiu rapidamente para o banheiro ao querer espantar a pequena traição de seu corpo, abrindo a torneira e molhando seu rosto três vezes seguidas,— se frustrando do quão difícil estava sendo cumprir sua promessa; mesmo quando estava prestes a completar dois anos.

De alguma maneira, parecia até mesmo ridículo tentar manter uma promessa que não valia de nada. Nada mesmo. Possivelmente apenas se tratasse de uma promessa vazia e egoísta feita por sua mãe apenas para que ela se sentisse melhor quando o olhasse de cima, mas... Não havia como ter certeza. Simplesmente, não existia uma. Pelo menos, não quando tudo já havia ocorrido e ele havia sido deixado sozinho num mundo repleto de defeitos. Era realmente infeliz e mórbido; mas aquela promessa, Hélios, e aquele diário, foram as únicas coisas que lhe restaram para recordar de que um dia, também já teve uma família.

Sua CorOnde histórias criam vida. Descubra agora