• Capítulo 3

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Sua frustração se torna inegável.

Ouvindo os xingamentos baixos e raivosos sendo cuspidos pelo rapaz que junta todo o pingo de força que lhe resta ao se levantar, Mew se obriga a morder os lábios para que o riso não soe muito alto ao notar o que o outro tentava fazer.

Devagar e muito lentamente, o cambaleante rapaz respira fundo, permanecendo em pé, apoiando suas pernas na madeira da cama enquanto tentava inutilmente se equilibrar ao inspirar e expirar o ar de uma vez de seus pulmões. O apurado processo é repetido mais três vezes seguidas, fazendo com que um silêncio ensurdecedor crescesse ao redor de ambos. A curiosidade diante o comportamento do outro atrai ainda mais a atenção de Mew, que não ousa mexer um só músculo de seu corpo. O rapaz por outro lado não o encara, completamente inerte ao seu foco principal: conseguir permanecer em pé. E então, de repente, ao erguer a cabeça subitamente, o rapaz acaba tropeçando ao tentar dar um passo adiante, se atrapalhando em seus próprios pés que o fazem desmoronar na cama.

— Mais que merda...! - O rapaz resmunga abafado, com seu rosto enfiado contra o colchão ao depositar um soco enfraquecido no mesmo.

O corpo inconscientemente se endireita, se divertindo com a cena.

— Precisa de ajuda? - Ofereceu Mew ao inclinar sua cabeça, sorrindo e negando; simpatizando com o rapaz. - Se quiser eu posso pegar sua mala.

— Por favor... - Ele suplica num tom que entrega seu alivio e vergonha, assentindo freneticamente, não se atrevendo a encarar o companheiro de quarto em sua deplorável situação. - E sinto muito por isso.

Mew ri silencioso.

— Nunca conheci um bêbado tão educado antes. - Mew solta num pensamento escorregadio, alto o suficiente para que as palavras não se contenham a ficar somente em sua cabeça. O rapaz pareceu rir de seu comentário. - Você está bem?

O rapaz nega.

— Horário errado... - Ele responde depois de alguns segundos, deitando a cabeça de lado, de modo com que ambos possam enxergar o rosto um do outro. - Deve me fazer esta pergunta amanhã de manhã. - Prosseguiu sorrindo discreto, com os olhos cheios de ternura e certa sonolência, indicando seu elevado nível de embriaguez. - Só aí terei uma resposta sincera.

— Tem razão... - Mew sibila, apertando os olhos ao piscar.

Com o sentimento familiar voltando outra vez, em relação ao desconhecido esparramado no colchão; Mew precisou de alguns segundos até poder se levantar seguro de sua cama, observando o rapaz fechar os olhos ao se aninhar no lençol branco, possivelmente sujo. Sentindo o sangue pulsando em suas têmporas, algo que sempre ocorre quando tentava se lembrar de algo — A muito custo — Mew acaba por desviar o olhar para a porta. Se questionando, impacientemente, aonde teria o visto.

A nuca é coçada.

— Não se preocupe, não vou vomitar no quarto. - A voz arrastada do rapaz expressa despreocupado, supondo que a hesitação e falta do som de passos pelo cômodo seja devido a seu estado. - Já fiz todo este processo atrás do prédio.

Mew naturalmente balança a cabeça, abrindo e fechando a boca, impressionado com a sinceridade do outro em dizer algo tão trivial. Uma careta é feita em meio ao sorriso. Outro bocejo é solto. Imaginar a situação atual em que estaria o canteiro de arbustos atrás do prédio, diferente de ontem, não soava mais como uma boa visão; e, muito menos, uma boa noticia.

Embora quisesse alerta o mais novo de que seria melhor começar a rezar para que ninguém o tenha visto esta noite, ou a penalidade certamente viria no outro dia, Mew se aproximou num passo, notando que o rapaz ainda não havia aberto seus olhos. Ele suspirou.

Sua CorOnde histórias criam vida. Descubra agora