Sua Cor

• Capítulo 2

Limpando a garganta ao tensionar o maxilar, com receio de ter começado a babar, Mew estreita seus olhos ao dar um passo hesitante para trás, sendo pego desprevenido por sua própria atitude. Era difícil de explicar o tipo de hipnose que aquele homem tinha jogado contra si, mas logo Mew se deu conta de que, assim como ele, todos a sua volta estavam sobre o mesmo feitiço posto. - Exceto por uma pequena diferença de emoções. Um detalhe que rapidamente conseguiu constatar assim que decidiu se virar e continuar com sua caminhada a procura do dormitório.

Movido pelo desalento, a cabeça se abaixa.

E então, numa auto advertência impulsiva, o lábio inferior recebe uma mordida, na tentativa de conter a inveja que cresceu de modo súbito em seu peito. Uma inveja que não se direcionava a beleza quase toda escondida por trás da peruca loira do aluno desconhecido, mas sim ao belo sorriso do rapaz.

A lembrança de quando pôde um dia sorrir daquela forma, infelizmente, começavam a soar como uma recordação fraca e sem cor, chegando a beira de ser falso. Tudo havia ficado mais evidente diante o sorriso inocente do calouro que dançava de forma desajeitada. O lampejo de memórias, apesar de felizes, agora pareciam carregadas de dor. Era como se o tempo tivesse jogado em sua cara que o velho ditado não passava de uma mentira.

Em conclusão, o que mais poderia significar para ter se sentido daquela forma? Não era como se fosse sua culpa. Pelo menos, é o que sempre fez questão de acreditar. Todos os dias, por mais que continuasse a se esforçar e a prosseguir de cabeça erguida ao pensar que suas escolhas nunca foram as erradas, ou mesmo sua escolha para amar não seja um crime contra a sociedade para ser punido de tal forma; o verdadeiro sentimento de remorso nunca havia, de fato, ido embora. Nem mesmo depois de todo o tempo que tomara para si, a memória não havia se apagado de sua mente.

Por pura infelicidade da vida, havia aprendido da pior maneira que palavras realmente eram capazes de fazer mais estragos que uma bala.

Um suspiro é solto.

Seguindo direito ao endereço que ficava acomodado num ponto relevante de que poderia significar certo atraso se não tomasse o devido cuidado com seu despertador, Mew Suppasit demora dois segundos ao preferir subir as escadas do que enfrentar a pequena fila que começava a se formar na porta do elevador, na recepção do simplório prédio recém reformado.

A mala quase sem peso que carregava o ajuda a seguir para o quarto andar sem a necessidade de esforços maiores, assim como a mochila em seu ombro ao qual havia guardado alguns aparelhos mais caros. O peso exercido nos objetos nada se comparava ao clima sufocante. O suor desce de sua testa. Puxando a chave que havia recebido mais cedo do bolso de sua calça, Mew analisa cada numero dourado destacado nas madeiras.

— 102... 105... 107... 108... Te achei. - Apontando para uma das poucas portas fechadas, o barulho vindo dos novos vizinhos se diminuem logo que adentrou o quarto vazio, carregado de resquícios de sufocamento pela falta de ar fresco. Uma particularidade que considerou ser compartilhado em todos os quartos.

Meu lar, doce lar... A piada extremamente ruim que automaticamente ressoa em seus pensamentos, naturalmente faz Mew sorrir; pois, não deixava de ser uma mentira ao analisar as paredes brancas que o cercava. De todo modo, aquele dormitório conseguia ser melhor que seu quarto anterior; o que de certa forma já virava uma excelente noticia ao relembrar do quanto havia sofrido com a falta de ar-condicionado do outro ambiente.

Dentro do espaçoso aposento havia um guarda-roupa e uma pequena cômoda retangular com quatro gavetas. A escrivaninha perto da janela chama sua atenção pela localização satisfatória para qualquer aluno que aprecie um bom ar fresco. As duas camas de solteiro centralizadas no quarto destaca a única mesa de cabeceira com seu tom acinzentado, juntamente do abajur que continha uma cor mais escura que o tom do móvel. De fato, se tratava de um bom lugar para ficar. A satisfação é exposta. Não restava mais dúvidas de que havia feito uma excelente escolha ao preferir se mudar de dormitório.