XXII. Angels in Flight

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Boa leitura!
Usem #OlhosBrilhantes no twitter
⚠️tw: Morte, Gore, Violência quase explícita

10/03 LIVRO DE VIVA EL REY GRATUITO
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A neve se torna mais intensa a cada instante. Em meu quarto, vejo uma última vez o quarto que nasci, e aquele que vivi durante anos, como uma genuína criança, como um príncipe preocupado e agora um rei desesperado. Visto meu colete de proteção, observando as papeladas que não seriam resolvidas tão cedo, notando futuros sendo deixados de lado.

Depois das empregadas, que sempre aproveitam para me desejar sorte e falando em alto som, mas inaudível a mim, palavras reconfortantes nesse momento. Após me vestirem devidamente meus pés se guiam automaticamente até a janela de meu quarto. Neve, branca e clara, quando afastada se torna tão transparente e derrete em um segundo, mas junta, forma um emaranhado sem cor e que traz uma paleta estranha no céu e na terra. Sempre odiei a camada branca, pois foi nela que nasci e também meus pais banharam na tela esbranquiçada o seu sangue, não existindo em mim dor maior que reconhecer a culpa do ocorrido, porém dentro de mim não nego que no fim sou como a neve. Tão transparente, tão imprevisível, o início de algo, mas também o fim de muitos começos.

E agora, é o fim de uma história ou o começo de uma nova. Fecho a porta de meu quarto, dando adeus para todas as lembranças boas que tive aqui. É o momento de seguir.

— Majestade! Os soldados já estão cercando Clastia inteira. Estamos somente te esperando para seguirmos com as frotas. — Escuto o mensageiro chegar perto e cochichar em meu ouvido todas as informações. Escuto-as atentamente, concordando com a cabeça assim que ele fala tudo.

Não o respondo, somente sigo escada abaixo, sem olhar para trás em momento algum. Hoje é meu aniversário, o dia que nasci, e como sempre o peso de meu nascimento cai em minhas costas, porém não consigo derramar uma lágrima sequer. Um rei tem que aguentar sua maldição, independente de tudo, existe um povo esperando de mim um milagre, e não importa a dor latente em meu peito e o sentimento de decepção badalando como um relógio insano, meu reino não merece sofrer por meu fardo.

Desço e vou em direção a porta de ouro. As portas se abrem, me possibilitando ter a visão da neve caindo nos rostos desesperados da população. Todos ansiosos por qualquer ação minha, esperançosos por uma migalha de milagre, um sonho por finais felizes para essa calamidade.

Não dirijo a palavra para nenhum. Não darei esperanças para ninguém, sabendo que muitos sairiam desolados dessa guerra. Prometi ser um bom rei e toda bondade requer um traço de crueldade.

Assim que piso para fora, começo descer degrau por degrau da pequena escada, separando com meus pés a multidão envolta do castelo, abrindo-se para mim uma passagem até meu cavalo bem posicionado. Ando sem olhar para trás em algum momento, mantendo a elegância em meu olhar, mesmo nunca olhando para frente ou para os lados. Eu vejo as patas do cavalo branco parado em minha frente, somente assim levanto meu rosto.

— Majestade! — Escuto meu nome ser bradado por um desconhecido enquanto subo meu cavalo. Esse repentino ato me faz virar os olhos em direção ao som.

A mulher corre até mim, indo contra qualquer conduta de etiqueta, para chegar em frente ao meu cavalo. Seu rosto é dourado e seu cabelo vermelho sangue, claramente uma moradora de Clastia. Seu rosto transparecia medo, mas vejo em suas mãos uma pequena dália vermelha, típica do reino do sol, mas que costuma sempre crescer no inverno. É nítida minha curiosidade.

— Majestade, me perdoe a interrupção inoportuna, mas preciso lhe entregar isso. — A mulher estende a dália em meu alcance, sendo prontamente correspondida.

Viva el Rey | jjk + pjmOnde as histórias ganham vida. Descobre agora