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É tudo culpa minha! Se eu não tivesse inventado essa fuga, Zargus ainda estaria enxergando. – pensou enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Queria voltar para cuidar do cavalo mas já não havia como. Tudo aconteceu tão rápido que só então se deu conta de que uma vez longe da ilha, nunca mais veria Zargus novamente.

A lembrança do cavalo empinando as patas dianteiras para não deixar que ela o impedisse de abrir mão da própria vista para que o portal se abrisse não saía de sua mente. Ninguém mais no mundo, fosse homem ou animal, seria capaz de tamanho sacrifício. Apenas ele, Zargus. O seu melhor amigo.

Mas o arrependimento era inútil. Lágrimas não a levariam de volta para o outro lado da muralha. Estava no terreno sagrado e precisava continuar sua fuga. Por ela e por Zargus. Mas sem a gaivota lhe apontando a direção, não sabia para onde ir.

A sua frente, nenhuma árvore, nenhuma planta, nenhum sinal de vida. Apenas um chão de terra plano a se perder de vista, iluminado por um céu de estrelas. Caminhou por algum tempo sem rumo, na esperança de que em algum momento encontraria uma pista de como chegar aos barcos, até ser vencida pelo cansaço e desmaiar de sono.

Acordou nos primeiros raios de sol, e logo ao abrir os olhos percebeu que não estava sozinha. Um cavalo vestido com a máscara de Nascár a observava dormir. Marcela não sabia mas no lado sul da ilha os cavalos também eram obrigados a vestir a máscara da cobra.

Eram máscaras duras como a dos humanos, mas apropriadas especificamente para suas cabeças. Encaixavam-se com facilidade no pescoço, gerando uma imagem tenebrosa; animais com o corpo de um cavalo e a cabeça de uma cobra.

De repente, sentiu o chão tremer e ao esticar levemente o pescoço, viu dezenas de outros cavalos com a mesma máscara correndo poucos centímetros a sua frente. Pareciam fugir de alguma coisa. Então olhou na direção de onde vinham e avistou uma intensa fumaça preta subindo aos céus. Era o sinal de vida que a menina procurava. Correu naquela direção até chegar num grande estábulo de madeira, que pegava fogo. Ouviu gritos. Haviam pessoas lá dentro.

Sem se deixar intimidar pelas chamas, entrou correndo no estábulo. E imediatamente percebeu que não havia mais nenhum cavalo no local. Imaginou que tivessem sido soltos no início do incêndio. As pessoas, por outro lado, foram deixadas para trás. Encarcerados nas baias ao longo do corredor, dezenas de adolescentes entre 12 e 15 anos, gritavam por socorro.

-Aqui, rápido! Destrava a porteira! –suplicou um menino na primeira baia. Marcela correu em seu socorro, mas antes que conseguisse fazer qualquer coisa, foi interrompida por uma voz grave e imponente.

-Não faça isso!

Embora o homem a sua frente estivesse com a cabeça coberta pela máscara de Nascár, sua voz era extremamente familiar. Era Jorge Mansur, o seu pai, quem naquele momento lhe ordenava que não salvasse aqueles garotos.

-Eles vão ser queimados vivo! –disse Marcela.

-Deixa queimarem! –respondeu Jorge com frieza.

E antes que pudesse confrontar o pai, sentiu uma mão lhe cobrir as narinas com um lenço de formol e desmaiou. 

Os Sentinelas do LeãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora