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-É agora que você morre, irmãzinha! Nascár vai me escolher! –afirmou Natasha, sem medo.

Nascár rastejou até Marcela e Natasha, enrolou o corpo e levantou a cauda, até ficar com a cabeça na altura das irmãs. Então moveu a língua rapidamente e por alguns segundos, ficou imóvel entre as duas, pronta pra dar o bote.

Tsiiii, tsiiii. – assobiava a cobra a cada vez que botava a língua para fora.

A língua de Nascár encostou em Natasha, que sorriu de satisfação. Marcela sentiu o coração acelerar e o suor frio descer pelo corpo, mas permaneceu em pé, estática, sem esbanjar nenhuma reação. A cobra então virou a cabeça na direção de Marcela e abriu a boca de forma ameaçadora, exibindo seus pequenos dentes pontiagudos.

Foi nesse instante que um pássaro pousou no ombro de Marcela, que sorriu ao reconhecer a mesma gaivota que anos atrás lhe conduzira até o portal. E antes que Nascár conseguisse dar o bote, centenas de pássaros de todas as espécies invadiram a jaula por entre as grades e partiram para cima da cobra. Imediatamente Marcela entendeu que aquele bando de pássaros havia sido conduzido até ali por sua amiga gaivota para lhe ajudar. A todo momento, mais pássaros apareciam para engrossar o bando.

-O que estão fazendo parados aí? Abram a jaula! Façam alguma coisa! –berrava Natasha, desesperada por ver Nascár ser atacada. Mas ninguém do lado de fora da jaula se mexia. Enfurecida, Marcela avançou contra a irmã.

-Está vendo, irmãzinha? Nem eu nem você seremos sacrificadas! Hoje só quem vai morrer é sua cobra sagrada! –disse Marcela, enquanto travava uma briga de braço com a irmã.

-Como você é ingênua, Marcela. Nem um milhão de pássaros poderiam matar Nascár! –debochou Natasha.

-Os pássaros não! Mas eu posso! –afirmou Marcela antes de dar um soco na cara de Natasha e tomar a adaga que a irmã carregava na cintura. E em seguida, pular na direção de Nascár e cortar seu pescoço, arrancando a cabeça da cobra.

Com o estrondo de um raio, fez-se um clarão no céu e uma tórrida chuva caiu, apagando todas as tochas de fogo.

O inimaginável havia ocorrido! Após milhares de anos sendo adorada por aquele povo, Nascár, a cobra divina, estava morta.

Logo todas aquelas centenas de pessoas que cercavam a jaula, uma a uma foram arrancando suas mascaras de Nascár. Em cada rosto era possível ver a dor de um povo que havia acabado de perder o seu sagrado. Nem a chuva era capaz de lavar as lágrimas que caiam copiosamente. Ainda dentro da jaula, Natasha era a mais inconformada.

-Você sabe o que fez? Você acabou com o povo de Nascár! –disse Natasha, com os olhos vermelhos de tanto chorar.

-Então eu fiz um bem pra humanidade. -provocou Marcela, fazendo com que a irmã partisse pra cima dela com ferocidade.

Imediatamente, todos os pássaros que estavam quietos no chão da jaula voaram até a grade, preenchendo todo o entorno.

-Só é preciso que eu dê um sinal para que eles te ataquem da mesma forma que fizeram com a cobra. –avisou Marcela, obrigando Natasha a se afastar. -Abram a jaula agora e me tragam o amuleto. Eu não passo mais um dia aqui nessa ilha.

-Você não entendeu, sua idiota? Você não precisa mais do amuleto. A ilha como você a conheceu não existe mais! Acabou tudo! Sem Nascár, todos aqui irão embora.

-Mas eu vou primeiro. Se eu não embarcar ainda hoje no navio, esses pássaros vão atacar todos vocês.

De longe, Marcela avistou Zargus galopando na sua direção. Então fez um sinal com o braço e ordenou que dessem passagem ao cavalo. Imediatamente abriu-se um corredor entre as centenas de pessoas ali presentes, por onde Zargus atravessou em disparada, até parar na frente de Marcela, que logo viu o porquê de tanta alegria. Seus olhos estavam curados. Com a morte de Nascár, o sacrifício havia sido desfeito e Zargus voltou a enxergar.

-Acabou o sofrimento, Zargus! Nós vamos embora daqui! –disse Marcela antes de abraçar o cavalo e lhe dar um beijo no pescoço.

-Onde está o navio? –perguntou Marcela para a multidão, logo após montar no cavalo. Um homem apontou para o sul e Marcela cavalgou naquela direção, sem olhar para trás. 

 

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Os Sentinelas do LeãoWhere stories live. Discover now