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Não demorou até chegar à praia. Quando finalmente avistou o navio, soltou um grito de euforia! O momento que por tanto tempo esperou havia chegado. Finalmente iria deixar a ilha.

Para se chegar ao navio, era preciso pegar um dos botes que ficavam ancorados na praia e remar até lá. Havia botes de todos os tamanhos. Marcela escolheu o maior para que comportasse o peso de Zargus. E foi remando sozinha, apenas na companhia de seu fiel cavalo.

Já estava se aproximando do navio quando ouviu o som de algo veloz vindo na direção do bote...

Zuuuuuuum

Sentiu o bote quase virar. Olhou para trás e viu Zargus caído, com uma flecha cravada por entre as costelas em direção ao peito.

-Não! –gritou Marcela, desesperada. Então se agachou ao lado do cavalo e viu que havia um bilhete amarrado na ponta da flecha.

"'ÀS VEZES O FIM É SÓ O COMEÇO DE UMA NOVA ERA!"

Amassou o bilhete e de longe viu Natasha na praia, com o seu arco. Mas não tinha tempo para confrontar a irmã. Precisava salvar Zargus, que se debatia deitado. Então para evitar que a flecha se movesse e atingisse algum órgão vital, Marcela tentou imobilizar a pata dianteira do cavalo.

-Vai ficar tudo bem, Zargus. Dessa vez eu estou aqui contigo. –disse sem muita convicção, não querendo aceitar que seu leal cavalo talvez não resistisse.

No fundo, ainda se sentia culpada por não ter cuidado dele no dia em que ficou cego. Precisava acreditar que poderia fazer algo por ele. Mas o quê? A realidade era aquela. Zargus, que há tão pouco tempo estava radiante de alegria por finalmente ter recuperado a visão, agora corria risco de vida.

Numa fração de segundos, viu os últimos 3 anos ao lado de Zargus passarem diante de seus olhos. Lembrou do amor imediato que sentiu assim que ganhou o cavalo do pai, no dia em que chegou na ilha. Recordou as muitas tardes que passou explorando a ilha, montada em Zargus. E é claro que também lembrou da terrível noite em que seu leal amigo sacrificou os próprios olhos para que ela pudesse tentar fugir da ilha e do quanto foi difícil depois para o cavalo aprender a viver com a cegueira. Todas essas lembranças lhe davam uma única certeza. Que a única felicidade que a ilha lhe trouxe foi conhecer Zargus, o mais leal e corajoso de todos os cavalos.

Mas enquanto via seu leal amigo agonizar, aos poucos foi entendendo que Zargus não sairia daquela situação. Era preciso aceitar. Seu leal amigo estava a beira da morte. E então desejou que se aquele fosse mesmo o fim, que ao menos acabasse logo para encurtar o sofrimento do cavalo. Por isso não deixou de ser um alivio quando Zargus fechou os olhos e parou de respirar. A dor agora era só dela. Zargus estava em paz.

-Você será para sempre meu melhor amigo, Zargus! Nunca vou te esquecer! –disse Marcela, com os olhos cheios de lágrimas. Beijou o pescoço do cavalo pela última vez e jogou seu corpo no mar. Foi só então que percebeu que Natasha ainda estava na praia, sozinha, com seu arco.

-Por que não dispara uma flecha em mim, sua covarde? Zargus era inocente! Fui eu que matei Nascár! –gritou Marcela, enfurecida.

-Não! Você precisa ficar viva para testemunhar tudo que está por vir! Na hora certa, iremos nos reencontrar. –respondeu Natasha, aos gritos.

-Pois venha com tudo, irmãzinha! Eu acabei com os seus planos uma vez. E vou acabar com eles de novo, quantas vezes forem preciso.

E sem dizer mais nada, Marcela embarcou no navio. Enquanto a ilha ficava para trás, abriu novamente o bilhete que estava amassado no seu bolso.

"'ÀS VEZES O FIM É SÓ O COMEÇO DE UMA NOVA ERA!"

Entendia bem o significado daquelas palavras. Sua irmã faria de tudo para reerguer o povo de Nascár. E desta forma uma nova era de terror estava por vir. Isso era algo que Marcela não podia permitir. Precisava impedir que esse povo terrível ganhasse força novamente. Só assim poderia honrar a morte de Zargus. Para tanto, sabia exatamente o que tinha que fazer. Precisava se unir ao Leão. Mas como localizá-lo sem saber a sua identidade? Lembrou das palavras do pai:

Ninguém nasce um sentinela. Eles são observados desde a infância e escolhidos quando completam 18 anos de idade.

Marcela havia completado 18 anos há um dia. Caso fosse realmente uma escolhida, sabia que não precisaria procurar o Leão. Bastava esperar pelo chamado. Mas e se após tudo que ocorreu na ilha, ela não fosse mais escolhida? Poderia seguir os passos do seu avô e se tornar uma olheira? E se a nova geração de sentinelas já estivesse formada? Quem seriam os seus membros? Eram muitas as perguntas a serem respondidas.

Embora o futuro fosse incerto, tinha apenas uma certeza. Não podia ficar parada enquanto Natasha colocava em execução algum plano obscuro para dar inicio a sua era de terror. Precisava agir. Sua luta contra o povo de Nascár estava apenas começando. 

Os Sentinelas do LeãoWhere stories live. Discover now