João Robbins, um rapaz de cabelos castanhos cacheados, olhos verdes e um rosto tão perfeitamente simétrico que parecia esculpido, estava de tocaia no topo do telhado do dormitório da Universidade de Águas Cristalinas, quando todas as luzes do camp...

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João Robbins, um rapaz de cabelos castanhos cacheados, olhos verdes e um rosto tão perfeitamente simétrico que parecia esculpido, estava de tocaia no topo do telhado do dormitório da Universidade de Águas Cristalinas, quando todas as luzes do campus se apagaram. 

Do alto do prédio, viu os estudantes evacuarem o Bloco B com lanternas acesas. E por mais que não contasse com aquela escuridão, não seria ela que lhe faria desistir de seu objetivo naquela noite: descobrir quem era o ladrão que vinha atormentando o campus.

O gatuno já havia se tornado uma lenda na Universidade de Águas Cristalinas. Atacava sempre no mesmo horário, entre uma e três da manhã. Por este motivo, ganhou o apelido que lhe deu notoriedade. Era o "Vento da Madrugada". E ninguém conhecia sua verdadeira identidade.

Suas vítimas eram sempre os estudantes mais ricos do campus, ou os professores mais bem pagos da universidade. Roubava apenas daqueles para os quais o dinheiro não fazia falta. Mas nas últimas semanas, algo mudou. Objetos pessoais sem nenhum valor material começaram a sumir. Fotos, cartas, diários, lembranças de valor sentimental que a princípio não interessariam a mais ninguém além do dono. O que apenas João Robbins sabia é que estes roubos não eram obra do lendário ladrão. O "Vento da Madrugada" era ele e alguém estava copiando seus passos.

Se sua intuição estivesse certa, a qualquer momento o sósia atravessaria a porta do Bloco B rumo ao quarto número 57, onde residia o professor Arthur Tavares, única das vítimas de João Robbins que o sósia ainda não havia atacado.

Arthur Tavares era o coordenador do curso de dramaturgia da Escola de Artes da Universidade de Águas Cristalinas. E naquela madrugada o destaque da programação da Virada Cultural era a estreia da peça "A Donzela e o Malfeitor", escrita por sua aluna mais querida, a brilhante Fabi Meirelles. Naquele horário, portanto, não haveria ninguém em seu quarto. Era a oportunidade perfeita para um ladrão atacar. E se João Robbins sabia disso, seu sósia certamente também sabia.

João Robbins só não contava que justamente naquela madrugada, um blackout provocaria todo aquele tumulto na entrada do Bloco B. Ao mesmo tempo, não acreditava na possibilidade de seu sósia se intimidar com a escuridão. Sua intuição nunca havia lhe deixado na mão e naquele instante ela lhe dizia que mesmo com o blackout, a qualquer momento o gatuno iria atravessar aquela porta. Mas como identificá-lo em meio a tantos estudantes alvoroçados? Ficar de tocaia no telhado não iria mais adiantar. Imediatamente ficou claro que só haveria um local onde poderia se encontrar sozinho, cara a cara com seu sósia: o quarto de Arthur Tavares.

E foi para lá que João Robbins seguiu, após descer de rapel do telhado, sem ser visto. Passou sem ser notado por todos os estudantes na entrada do Bloco B, e usando a luz do celular como lanterna, atravessou o corredor escuro rumo ao quarto 57. Chegando lá, tirou do bolso um grampo de cabelo, abriu o objeto como se fosse uma alavanca e o inseriu na fechadura. Com o polegar, aplicou uma leve pressão sobre o grampo, para estabilizá-lo. Em seguida empurrou a pequena alavanca para a direita, como se fosse uma chave comum, e imediatamente a porta se abriu.

Assim que entrou no quarto, as luzes se acenderam. Os objetos que haviam sido roubados pelo sósia estavam espalhados por todos os cantos. Porta-retratos, bichos de pelúcia com mensagens de amor, cartas e lembranças de todo tipo. Nada que João Robbins tivesse o interesse de roubar.

-Eu sabia que você viria. –disse uma voz metálica, logo atrás de João Robbins. Ele se virou e ficou de cara com o seu sósia. O ladrão vestia um macacão cinza e uma máscara de pano preta que cobria toda a sua cabeça, e sobre a boca, uma máscara de ferro que se assemelhava a uma focinheira distorcia sua voz.

-Deixa eu ver se adivinho! Todos esses roubos foram para me atrair até aqui, não foram?

-Sim! Foram!

-E eu posso saber por que motivo?

-Ainda não!

-Já que é assim, eu vou embora. Esse teatrinho do ladrão bom contra o ladrão mal não faz o meu estilo.

-Então a lenda é verdadeira! O "Vento da Madrugada" é um lobo solitário.

-O "Vento da Madrugada" não tem amigos nem inimigos. E pretende continuar dessa forma.

-Você deve se sentir muito sozinho depois que toda a sua família te abandonou.

-O que você sabe sobre isso?

-Apenas de onde você vem.

-Me surpreenda!

-Você faz parte da Família Robbins, uma trupe de mágicos itinerantes formada pelos seus pais e seus dois irmãos mais velhos. No ano passado eles chegaram aqui na cidade. E da noite para o dia, desapareceram sem deixar vestígios. Aos 17 anos, você se viu sozinho no mundo. Poucos dias antes, sua trupe se apresentou aqui no campus e naquela ocasião você percebeu que havia um sótão abandonado no prédio da biblioteca. Sem ter para onde ir, você se escondeu naquele sótão e lá fez sua morada. E para sobreviver, começou a aplicar os truques de ilusionismo que aprendeu desde a infância nos roubos que passou a cometer na calada da madrugada.

-Parabéns! Você fez a sua pesquisa muito bem! Agora posso ir?

-Não vai querer saber como eu consegui desvendar a identidade do lendário "Vento da Madrugada"?

-É isso que você espera de mim, não é mesmo? Chamar minha atenção com suas habilidades de detetive. Muito obrigado mas eu não me impressiono tão facilmente. Vou te dizer rapidamente o que vai acontecer se eu continuar aqui ouvindo as suas lorotas. A qualquer momento o professor Tavares vai entrar por aquela porta e vai flagrar nós dois aqui no quarto dele com este monte de objetos roubados. E de nós dois, só você está escondendo o rosto com esse disfarce de quinta categoria. Portanto, pode continuar aí com essas tranqueiras que você roubou só para chamar a minha atenção. Eu agradeço sinceramente o empenho para provocar esse encontro, mas eu vou embora agora mesmo.

-Se sair por aquela porta agora, você nunca saberá o que de fato aconteceu com a sua família. A escolha está em suas mãos. Você pode sair agora e esquecer que nós tivemos essa conversa, ou pode cumprir a tarefa que tenho para você e com isso ter a chance de finalmente desvendar o mistério que vem te atormentando há um ano. O que você escolhe?

-O que quer que eu roube para você?

-Informações. Em breve você receberá um chamado. E não será o único. Outros três jovens irão se juntar a você.

-Acho que você bateu a cabeça ao pular do telhado.

-Isso pode parecer loucura agora mas no momento certo você vai entender. Um povo extinto vai retornar ao mundo mas existe alguém querendo impedir que eles se fortaleçam. O inimigo desse povo vai reunir quatro jovens para persegui-los. E você será um deles.

-Tá achando que eu vou ser seu espião, é isso?

-Bote isso no dedo indicador da mão direita. –disse o homem ao puxar do bolso do macacão um anel adornado com uma pequena pedra redonda e preta. –Esta vendo esta pedra? Ela é um botão que aciona uma micro câmera embutida no anel. Tudo que você precisa fazer é pressionar discretamente o botão sempre que estiver reunido com o grupo.

-E você vai poder assistir tudo de onde estiver!

-Exato!

-E o que te faz acreditar que eu trairia o grupo?

-Você é um lobo solitário, João Robbins. Grupos não fazem o seu estilo.

João Robbins coçou a cabeça, desconfiado. Percebendo sua hesitação, o sósia estendeu o braço na intenção de firmar o acordo e fez a pergunta decisiva:

-E então, temos um trato? 

Os Sentinelas do LeãoWhere stories live. Discover now