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O vulto estava agachado na beira do telhado. A lua cheia o iluminava de perfil. Vestia-se todo de preto, com um collant justo que lhe cobria todo o corpo e uma máscara de pano que lhe escondia o rosto.

Lucas, que o espiava em silêncio, foi se aproximando sorrateiramente, tomando enorme cuidado para que o barulho de seus passos não denunciasse sua presença. Mas nem todo cuidado do mundo era suficiente para driblar o gatuno, que com um olhar de esguelha, viu a sombra de seu perseguidor projetada sobre as telhas de barro, imediatamente deu um salto para o lado e correu até a beira do telhado.

A habilidade com que o gatuno se movia a 20 metros do chão era surpreendente para Lucas, que corria em seu encalço de modo desajeitado, se esforçando para não perder o equilíbrio.

-Você não vai conseguir alcançá-lo assim. –gritou Fabi, lá de baixo.

-Jura espertinha? A "gênia" tem alguma ideia melhor? –ironizou Lucas, enquanto assistia o impávido gatuno saltar do topo do prédio e se pendurar na beirada do telhado vizinho, agarrado a um cabo de ferro que estava preso rente a parede.

Um letreiro estampado na fachada do edifício vizinho ao refeitório identificava aquele espaço bastante familiar a Fabi: o pavilhão de cenografia. Do alto do telhado, enquanto encarava o gatuno, Lucas não viu quando Fabi entrou no prédio a sua frente e de lá voltou com um objeto de cena que ela mesma havia confeccionado algumas horas antes para o final de sua peça "A Donzela e o Malfeitor".

-Segura na haste! –gritou Fabi. 

Lucas olhou para baixo e viu um guarda-chuva se abrir e 100 balões vermelhos de gás hélio, com cerca de 1,20 de diâmetro cada, se encher e subir em sua direção.

Ah não, essa maluca não tá pensando que...

-Pula! –ordenou Fabi, lá de baixo.

Nunca que eu vou...

-Pula! –insistiu.

Eu vou me arrepender disso! Eu sei que vou! –E sem pensar duas vezes, Lucas saltou na direção do guarda chuva, que já se encontrava na altura dos seus olhos. Esticou o braço e pegou a haste com a mão direita.

-Vem comigo! –disse Lucas, após finalmente alcançar o gatuno e o agarrar com o braço esquerdo. O ladrão então se soltou da barra de ferro e puxados pelos balões, os dois sobrevoaram o pavilhão de cenografia.

-Você faz alguma ideia de como vamos descer daqui? –perguntou o gatuno, abraçado a Lucas.

-Não sou eu que tenho as ideias aqui. –respondeu Lucas, vendo Fabi correr em sua direção.

É claro que ela tem um plano! Ela sempre tem um plano! –pensou Lucas segundos antes de ver Fabi sacar uma pistola de dardos do bolso e apontar na sua direção.

-Não se mexam! Se isso acertar em vocês, vai doer! –gritou Fabi.

-Você vai matar a gente, sua doida! –respondeu Lucas, fechando os olhos para não ver o dardo se aproximando.

POW

O estouro de um dos balões provocou um estrondo, fazendo com que Lucas e o gatuno olhassem para cima ao mesmo tempo.

-Agora eu vi sujeira! -exclamou Lucas ao sentir o guarda-chuva descer um pouco.

POW POW POW

Os balões continuaram estourando em sequência, conforme eram acertados pelos dardos de Fabi.

-Aaaaaaaah! –gritaram os dois à medida que o guarda-chuva bruscamente perdia altitude. Com o olho esquerdo fechado, Fabi continuou atirando nos balões, totalmente concentrada, como se estivesse praticando tiro ao alvo.

POW POW POW POW POW

O guarda-chuva desceu ainda mais rápido e se estabilizou a 7 metros do chão.

-A gente vai morrer! –berrou o gatuno, apavorado.

-Ficou com medo agora, equilibrista dos telhados? –provocou Lucas.

-Se a sua amiga não acertar a gente com esses dardos, a queda vai completar o serviço. –concluiu o gatuno.

-Solta o guarda-chuva! –gritou Fabi.

-O quê? –perguntou Lucas, sem entender nada.

-Olha pra baixo, paspalhão! –ordenou Fabi. Só então Lucas reclinou a cabeça e viu que estavam sobre a piscina do departamento de Educação Física. Soltou a haste do guarda-chuva e os dois mergulharam na piscina.  

Os Sentinelas do LeãoWhere stories live. Discover now