A cafeteria do campus da Universidade de Águas Cristalinas era um ambiente aconchegante, decorado por obras dos alunos da Escola de Artes. Quadros dos mais diversos estilos se espalhavam por suas paredes, dando ao lugar um ar de galeria de arte. Os espaços entre uma e outra obra eram preenchidos por poemas. Tudo naquele lugar estimulava a criatividade e a imaginação, o que para Fabi Meirelles, era extremamente atrativo.

Lucas chegou à cafeteria faltando 15 minutos para as 21 horas. Por conta das tragédias ocorridas na madrugada passada, as aulas foram suspensas e o lugar estava vazio. Com a cidade em estado de choque, nenhum aluno se atrevia a deixar seu quarto. Estavam todos recolhidos. Todos menos Fabi Meirelles.

Concentrada no seu laptop, Fabi era a única cliente presente na cafeteria. Ocupava a mesa onde Lucas foi instruído a se sentar. A mesa que ficava encostada a janela.

Lucas olhou o relógio, viu que não tinha muito tempo e sem hesitar, foi até a mesa de Fabi.

-Com licença, você poderia por gentileza sentar em outra mesa? É que eu tenho um...

-Não! –interrompeu Fabi secamente, enquanto digitava com os olhos fixos na tela do laptop.

-O quê? –perguntou Lucas, engolindo seco.

-Você perguntou se eu poderia sentar em outra mesa e eu disse que não. –respondeu Fabi, sem perder a concentração no texto.

-Peraí, eu tô te reconhecendo! Você é a louca que inundou os corredores do bloco A com sangue falso! Cara, aquilo foi genial! –disse Lucas, sentando-se ao lado de Fabi.

-Obrigado. Agora dá licença que eu tô escrevendo.

-A donzela e o malfeitor! –exclamou Lucas, espiando a tela do laptop de Fabi. –Mas essa peça já não estreou ontem?

-Ô moleque! Não tá vendo que a cafeteria tá vazia? Dá pra sentar em outra mesa e parar de me encher a paciência? –disse Fabi com rispidez, pela primeira vez largando o texto e encarando firme Lucas nos olhos.

-Ei, peraí! Você não sabe nem quem eu sou para falar assim comigo!

-Claro que eu sei! Quem nesse campus não sabe quem é Lucas Navarro, o galãzinho da boate Spectron. Sinto muito, mas comigo suas paqueras furadas não colam!

-Eu não tô querendo te paquerar, garota! Presta atenção! –se aproximou de Fabi e cochichou no seu ouvido- Eu tenho medo que se eu não estiver sentado nesta mesa daqui há – olhou apreensivo no relógio e completou -10 minutos, uma nova tragédia aconteça.

-Do que você tá falando, garoto? –perguntou Fabi, sem nenhum cuidado. Lucas fez um gesto sutil com a mão direita, pedindo para que Fabi falasse mais baixo, e sussurrou:

-A pessoa que explodiu aquele avião. Daqui a 10 minutos ela vai estar aqui. E foi bem clara quando me disse que eu não deveria aguardá-la em nenhuma outra mesa além dessa.

-Você sabe quem explodiu aquele avião? –questionou Fabi, finalmente falando baixo.

-Sei! –olhou para os dois lados para se certificar que não estavam sendo vigiados, e mostrou para Fabi a foto da ruiva misteriosa no seu celular. –Essa garota tem me ligado propondo escolhas absurdas. Usa sempre uma voz metálica para não se identificar mas eu sei que é ela.

-Escolhas absurdas? –Fabi coçou a cabeça pensativa, e olhando novamente para a foto, lembrou das palavras da estranha moça albina com o capuz vermelho, que lhe abordou na porta da biblioteca:

"Eu quero saber se a sua teoria está correta. Quero testar até onde esta sua convicção no poder da dramaturgia é verdadeira. E para isso eu tenho uma missão para você."

Os Sentinelas do LeãoWhere stories live. Discover now