INÉRCIA

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AUTÓDROMO DE INTERLAGOS | BRASIL

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AUTÓDROMO DE INTERLAGOS | BRASIL.
Leona Bonemer, 01 de setembro de 1992.

  NEM SEMPRE O CLIMA EM SÃO PAULO costumava ser tão nublado e frio, porém naquela manhã era tudo o que a natureza tinha para oferecer: um céu cinzento com nuvens escuras e o vento gelado estapeando meu rosto logo às sete da manhã. A jaqueta azul marinho da Globo que vesti para me agasalhar do frio possuía um bordado de linha branca com os dizeres "L. BONEMER – JORNALISTA" e cobria o terninho preto que eu estava usando.

Entrei no trailer da imprensa da qual eu era contratada e cumprimentei todos, sentindo falta de um bom dia específico. Desde que Galvão pediu demissão em março para trabalhar na Gazeta, os meus dias haviam se tornado mais solitários no trabalho. Despejei café preto num copo térmico e adocei somente com uma colherzinha de açúcar. Beberiquei, apreciando o líquido quente de repente renovar meu ânimo. Cruzei as pernas e me inclinei para frente, assistindo a própria emissora, Globo, passando na telinha da mini televisão. Estavam filmando a cabine de narração, o lugar mais alto do autódromo e que permitia melhor visão do circuito. Tinha várias telinhas com diferentes pontos da pista onde Luiz Alfredo conseguia monitorar e narrar tudo detalhadamente.

Quando os carros começaram a sair dos boxes eu me levantei, levando comigo somente o que iria precisar.

Ei, Bonemer! –Reginaldo gritou de longe.

Esperei que ele se aproximasse, então fomos caminhando calmamente até o paddock. Apesar da inimizade entre ele, Ayrton e Galvão, eu não tinha do que reclamar. Leme sempre havia sido um bom companheiro de trabalho para mim.

— Você quer fazer a chamada ou as entrevistas pós-qualificação? –perguntou.

— Fico com a chamada, obrigada.

Geralmente nós intercalavámos, mas eu gostava de quando Reginaldo me deixava escolher.

 Alguns pingos de chuva começaram a cair e nos arrumamos com os câmeras para iniciar a transmissão ao vivo. Uma maré de gente ocupavam as arquibancadas, divididos entre fãs da McLaren, Ferrari e Williams, mas todos torcendo pelo mesmo piloto: Ayrton Senna.

O piloto brasileiro passou ao meu lado, desejando bom dia num sussurro. Não podíamos ficar muito próximos diante das câmeras, portanto o contato era mínimo.

— Depois eu falo com você. –Ayrton acrescentou.

Desejei boa sorte, mas ele já estava distante demais pra conseguir ouvir.

Fiz a chamada para o início da disputa pela pole position dez minutos antes da corrida começar. Surpreendente, o dia havia começado a clarear. Com os motores aquecendo e toda a euforia do público era possível até sentir calor.

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