CHÃO DE GIZ

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NEVERLAND | SANTA BARBARA

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NEVERLAND | SANTA BARBARA.
27 de janeiro de 1993.
Michael Jackson.

  SE OS OLHOS SÃO as janelas da alma, então Leona Bonemer suplicava por redenção. Não era a primeira vez que eu havia notado aquele olhar dela: ele estava lá no primeiro dia em que nos conhecemos, só não esperava que fosse frequente.

Os últimos meses vinham sendo frenéticos para mim, a segunda leg da turnê mal havia terminado e eu já estava ensaiando para o Superbowl, e enquanto ensaiava tinha que me preparar para aparições públicas nas principais premiações da indústria musical. A "Operação Limpeza de Imagem", como Charlotte chamou, estava acontecendo e esperavámos que surtisse efeitos. A verdade é que eu mal tinha tempo para me preocupar com o que os tablóides inventavam, coisa que eu já imaginava que não fosse nada boa, mas quando Dolph e Lottie trouxeram uma pilha de jornais onde detonavam comigo... Ai sim a minha ficha caiu.

Doeu bastante saber que vinham sendo tão cruéis comigo durante todo aquele tempo, e a troco de quê? Meu trabalho não era bom o suficiente? Eu não estava me esforçando o bastante? Por que a minha aparência e meu modo de vida pareciam importar mais do que a minha arte, a qual eu aperfeiçoava tanto para ser a melhor de todas?

Passar aquele tempo durante a turnê com Leona foi bem legal, mesmo que nós ainda não tivéssemos tanta aproximidade foi importante para que eu entendesse melhor a personalidade dela. Só que, bem, era dificílimo definir Leona Bonemer em uma coisa só. Às vezes ela era atenciosa, ria das minhas piadas idiotas, porém na maior parte do tempo parecia ser intocável. Ela gostava de ler, gostava de silêncio e de ter seu próprio espaço. Como Damien havia avisado, a brasileira não só parecia o tipo de pessoa que te daria um fora sem nenhum motivo aparente, ela era exatamente esse tipo de pessoa. De vez em quando, comigo, Bonemer era mais solta. E eu havia gostado bastante desse lado nela.

No dia do AMAs, ela foi incrível lidando com as câmeras. Leona possuía o magnífico dom de ignorar completamente tudo ao seu redor como se uma grande parede a tornasse invisível, apesar dos flashs. Após apresentação de Dangerous e o término do evento, ela me olhou:

— Nossa... –pronunciou o que devia ser o maior elogio que já tinha me feito.

Sorri, satisfeito com a performance e ainda mais por aquela mínima demonstração de interesse de Leona. Ela nunca falava sobre o meu trabalho ou qualquer outra coisa, era como se eu fosse só mais alguém, qualquer um. Eu não me importava com isso, já tinha pessoas demais babando meu ovo aonde quer que eu fosse. Aquele era o diferencial de Leona, mas também foi o que também me levou a futuramente fazer as maiores infantilidades para conseguir o mínimo de sua atenção.

Até o momento a nossa interação, que não era a das melhores, havia retornado à estaca zero depois do jantar em Hayvenhurst. Era minha culpa, em parte. Eu não havia pedido pra ter um pai idiota como Joseph, também já estava acostumado com as idiotices de Jermaine, mas Latoya? Não esperava aquilo dela. Quando mandei Leona calar a boca foi porque ela estava certa. Eu congelei, não consegui rebater Joseph. Não consegui abrir a boca e dizer que ele deveria parar de tentar assustá-la como fazia comigo. Havia sido péssimo, sei, mas era difícil para mim controlar o que sentia a respeito de Joseph. Anos haviam se passado, contudo a criança dentro de mim continuava traumatizada com tudo o que aquele homem covardemente tinha feito comigo.

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