FERA FERIDA

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10:30

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10:30.
Leona Bonemer.

  NO INSTANTE EM QUE Janet foi embora, o clima deixou de possuir a única fonte de simpatia do recinto. Permaneci ali, tensa e imóvel, tentando morder um pedaço de sanduíche, mas o pão pareceu inchar dentro da minha boca. Daí, Michael pigarreou, preferindo ir direto ao ponto:

— Sei que devo um pedido de desculpas à você, também vale acrescentar que fui insensível diante do acontecido e não demonstrei o apoio que deveria. –falou, eu larguei o sanduíche mordido em cima do prato e ergui meus olhos para ele. Isso pareceu o desconcertar um pouco, mas Jackson manteve o contato visual. — Estou atrasado, eu sei, mas de coração, sinto muito pelo o que aconteceu. Você não merece ser tratada da forma que estão te tratando e acredito em sua palavra. Além disso, ainda que tivesse sido o caso, nós dois não somos nada além de um casal de papel, não é? Não posso te proibir de sair com outras pessoas...

Michael disse tudo muito rápido, como se fosse melhor para ele soltar as palavras de uma vez ao invés de hesitar sobre o que dizer. Isso me transmitiu uma honestidade que fez a tensão causada pelo rancor no meu corpo diminuir gradualmente. Talvez, a Leona de algumas horas atrás teria batido o pé feito uma criancinha birrenta. Após conversar  com Janet, reconheci que é importante compreender os dois lado da situação. E, apesar de ter sido a mais prejudicada nessa situação, eu não facilitei as coisas. Acabei revelando um dos meus defeitos cedo demais: ser cabeça-dura. Naquele momento; em paz, aliviada e, principalmente, cansada, não havia muito mais o que responder.

— Tudo bem. Eu também deveria me desculpar... –as palavras levemente engasgaram em minha garganta, relutantes a saírem. — Desculpa.

— Não quero que você sinta que está sozinha aqui, eu me sinto assim o tempo todo e é algo que não desejo a ninguém. Podemos recomeçar. Não me esqueci do que aconteceu, Charlotte está fazendo tudo ao alcance para resolver sua situação... Quem dera se a mídia fosse facilmente controlável.

— Certo...

  Eu não tinha muito mais o que acrescentar. Diversas coisas se passaram na minha cabeça enquanto fiquei isolada no quarto para dizer à Michael quando finalmente tivesse oportunidade, mas era como se todas tivessem evaporado.

— Eu, hmm, tomei a liberdade de atender os seus telefonemas... –ele contou e acho que meus olhos se arregalaram demais, pois o homem completou: — N-nada sobre o seu emprego ou coisas pessoais, entende, mas sua irmã estava desesperada. Pietra queria saber de você, só fiz comunicar de que estava tudo bem... Que você precisava de tempo e que retornaria as ligações assim que estivesse pronta.

Meu peito pesou com aquela informação. Eu absolutamente ignorei minha família durante esse período confuso sem me importar com o que eles pensariam, em como ficariam... Pessoas que me amavam. Engoli seco, sentindo um gosto amargo na boca ao mesmo tempo em que um sentimento de culpa caía sobre mim.

POTESTADEWhere stories live. Discover now