IV

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Haviam chegado em casa, a volta pareceu para Juliette bem mais rápida que a ida ao supermercado. Quando desceu da moto não conseguia conter o sorriso, tinha sido muito bom  apesar do medo, muito bom mesmo. Sarah notou o contentamento de Juliette.

- Parece que já se acostumou com o passeio. Foi legal né?

- Se você não tivesse corrido tanto, até seria.

- Eu não corri, é você que não está acostumada, mas vejo pela sua cara que gostou.

- Eu gostei mesmo, nunca pensei que andar de moto fosse tão divertido.

      Então Juliette para de falar e se dá conta que havia sido divertido não só pela moto, mas por tudo, pela companhia de Sarah, pelas compras que fizeram juntas, por ter ido abraçada a cintura da outra. Sentiu um mal estar súbito nesse momento, isso não podia estar acontecendo, não podia sentir o que sentia por Sarah, as mãos começaram a ficar frias e úmidas, nessa hora achou que ia se desfalecer.

- Juliette. Você está bem? O que foi? Tá tão pálida, vem cá, o que está sentindo?

      Sarah se aproxima para apoiar Juliette, segura ela pelos ombros e pega na mão gelada.

- Caramba, tua mão tá muito fria. Você precisa sentar, quer que eu te leve em casa?

- Não, por favor, não quero ficar sozinha agora.

- Vem comigo, vamos pra minha casa.

     Entraram na casa de Sarah, e ela deitou no sofá, a cabeça rodava, a constatação de que poderia estar sentindo algo mais que amizade por Sarah a deixou totalmente abalada.

Além de ser casada, que chances ela teria com uma mulher como Sarah, linda,  independente e talvez cheia de rapazes interessados. Estava tão absorta nesses pensamentos que não viu quando Sarah voltou com um copo de água.

- Aqui Juh, bebê tudo devagar. Como se sente? O que aconteceu.

       Não aconteceu nada, só acho que estou apaixonada por você. Pensou, mas lógico que não poderia dizer isso.

- Acho que minha pressão deve ter caído, isso acontece as vezes.

- Nossa Juh por que não me avisou, você podia mesmo ter caído da moto.

- Já passou Sarah, obrigada pela sua preocupação. Acho que já posso levantar.

- Não mesmo, fica mais um pouco, você ainda está pálida. Vou buscar algo pra comer. Não levante, ok

           Se encostou ainda mais no sofá, estava se sentindo um pouco melhor, pelo menos fisicamente, mais emocionalmente estava a beira do caos, como se estivesse perto de um abismo e qualquer passo errado a fizesse cair. Fechou os olhos com desespero.

         Sarah tinha voltado e trazido com ela um sanduíche de queijo e salada. Comeu mesmo por insistência dela, a comida parecia não ter nenhum gosto. Por fim se levantou, não podia ficar o dia todo ali deitada.

- Tem certeza que está bem?

- Estou sim Sarah, não se preocupe, foi
só uma queda de pressão, mas estou melhor.

- posso te levar até o hospital se quiser.

- Não, estou bem. Vamos fazer suas panquecas.

      O olhar preocupado de Sarah acabou tocando fundo no coração de Juliette, quando havia sido a última vez que alguém tinha se preocupado assim com ela? Nem lembrava mais.

- Podemos deixar para outro dia.

- Não Sarah, você vai ter sua aula de panquecas hoje.

- Haha, você dura na queda heim?! Então vamos lá, mas qualquer coisa e nos paramos, certo?

      Foram até a cozinha, Juliette não precisava de nenhuma receita escrita, sabia fazer muitas coisas de cabeça. Começo a dar instruções.

- Pegue seu liquidificador, vamos jogar os ingredientes ali dentro... Assim não Sarah, você nunca joga os ovos diretos na receita, eles podem estar estragados...menos sal, se não isso vai ficar uma salmora...calma, cuidado com essa farinha...

      Nesse momento Sarah começa uma guerra de farinha com Juliette, que revidava enchendo o cabelo da outra com aquele pó branco, por fim a cozinha estava uma zona, mas as panquecas feitas.

            Deram muitas risadas,
Principalmente pela falta de jeito que Sarah tinha para cozinhar.

- Você nunca cozinhou? Que desastre você é.

- Meu nível de culinária se resume a pegar algo congelado no freezer e jogar no microondas, mas quando morava com minha avó eu comia algo mais saudável e tinha panquecas toda semana.

- Você visita sempre a sua avó?

         Aquela sombra de tristeza que tinha no rosto de Sarah outro dia, apareceu dessa vez também.

- Não tanto quanto gostaria. Eu amo ela, mas temos algumas desavenças sobre alguns assuntos.

- Sinto muito Sarah.

      E ela sentia mesmo, sua família também era muito distante, quase nunca visitava os pais e eles nunca vinham até sua casa.

- Tudo bem Juh. Vem comigo na sala, vou te contar um pouco sobre minha vida, sabe de uma coisa? Preciso tomar cuidado com você, esse seu olhar tranquilo e meigo me leva a falar coisas que nunca contei a ninguém, mas acho que vai ser bom desabafar.

        Foi para sala segurando a mão de Sarah e aquele calor acolhedor se espalhando por todo corpo. Estava atordoada, desesperada e por incrível que pareça, feliz.
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Finalmente a Juh descobriu os sentimentos dela pela Sarah.

Qualquer erro me comuniquem.

Bjs até a manhã 🤍

A Mulher do PastorOnde histórias criam vida. Descubra agora