Juliette

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       Quando Sarah encontrou com ela na praça, estava totalmente confusa, o frio parecia que tinha congelado todos os seus pensamentos fazendo com que duvidasse das coisas que via, pensou naquela hora que a outra fosse só uma imagem causada pelo desejo que sentia de vê-lá, só acreditou que era mesmo real quando sentiu o casaco ainda quente e com o perfume de Sarah tocar seu corpo enregelado.

        Mas ela estava mesmo lá, insistindo para tirar Juliette saísse daquele lugar, se preocupando, não lembrava das palavras exatas, mas conseguia lembrar quando a outra disse que ficaria ali no frio com ela caso não fosse para outro lugar. Já havia feito mal a Sarah quando a magoou, não podia fazer mal fisicamente também, então aceitou ir para casa dela.

        O tempo parecia tão congelado quanto ela, e sua mente cada vez mais lenta, subiu na moto. ao menos isso se lembrava, e depois só tinha lembrança de estar na cama, coberta e tomando algo quente com gosto de agua de feijão. Só que isso tudo não foi o suficiente para que se aquecesse e parasse de tremer, com um choque (bom) sentiu quando Sarah deitou com ela na cama e abraçou, sentia o corpo dela juntou ao seu, as mãos fazendo carinho em seu braço, o calor dela passando para si, então tudo, não só o frio ou sua mente, mas todo o seu mundo pareceu entrar em ordem, pareceu fazer sentindo.

     Se deixou levar por essa sensação boa, o sono queria assumir o comando, mas ela não pretendia dormir, queria sentir o máximo possível o prazer de ter Sarah tão próxima, sentir que a outra não a odiava.

    No momento em que Sarah estava saindo cuidadosamente da cama, Juliette sabia que não podia deixar ela ir assim, tinha que se explicar, precisava dizer tudo que realmente vinha sentindo. Pegou na mão dela e a reteve ali.

- Por favor, fica aqui comigo Sarah.

     Mal conseguia ver o rosto dela, só uma pequena claridade vindo da luz do corredor que iluminava o quarto naquela hora, mas mesmo assim imaginou distinguir um pouco de surpresa no rosto de Sarah quando disse aquilo.

- Pensei que já estivesse
dormindo.

- Não, pode ficar mais um pouco, pode deitar aqui outra vez?

- O frio não passou? Ainda se sente mal?

- Estou melhor, só quero conversar com você.

- Juliette, o que você precisa agora é descansar, posso falar com você amanhã.

- Eu preciso falar agora, sinto como se fosse explodir em mil pedacinhos se não falar.

- Tudo bem então.

      Sarah volta a deitar na cama e acende um abajur com uma luz azul bem fraquinha, aquilo dava ao quarto toda sensação de irrealidade. Será que estava mesmo acontecendo ou ela só sonhava? Já não se importava, ia dizer tudo que sentia. As duas ficaram se olhando frente a frente, quando Juliette começou a dizer.

- Eu queria muito falar com você sobre o que aconteceu ontem, sobre a forma como te tratei, não foi justa.

- Não precisa me dizer nada, a culpa foi minha, passei dos limites.

        A outra tinha dito aquilo de uma forma tão sentida, como se o arrependimento rasgasse sua alma, Juliette não resistiu e passou a mão pelo rosto dela, fazendo carinho. Sarah fechou os olhos.

- Você não tem que fazer isso, Juliette.  Não me deve nada porque te ajudei, não tem que forçar esse carinho.

- Não entende? Não estou forçando, é justamente ao contrário, tenho que usar toda minha força de vontade para não fazer isso, para não te abraçar, é isso que eu precisava te dizer. Cada célula do meu corpo quer você.

- Então por que disse que sentia nojo de mim?

- Porque eu não sabia oque fazer, aquilo me desnorteou, eu sou cada e desejar você dessa forma é contra tudo que eu acho certo. Naquela hora eu tinha que te afastar antes que toda minha força de vontade cedesse de vez.

- Não sente nojo de mim então?

- Não sinto, mas também não posso te desejar desse jeito. A alguns anos atrás quando ainda estava no colégio, conhecia uma garota, ela tinha acabado de mudar para o bairro e caiu na minha classe, acabamos amigas, mas com o tempo as coisas mudaram, um dia ela me deu um beijo e eu gostei, apesar de saber que era errado e depois disso fomos ficando, um dia quando estava com ela no banheiro, achando que não havia perigo, ela me beijou, nessa hora uma garota da minha igreja entrou e viu. Foi burrice minha imaginar que ela não contaria nada a ninguém.

      Parou para respirar um pouco e conter as lágrimas que começam a se juntar nos olhos, era doloroso lembrar disso. Então com um suspiro continuou a contar tudo a Sarah que se mantinha calada.

- No dia seguinte meu pai não me deixou ir a escola, me confrontou com a história, num rompante de coragem eu disse que era tudo verdade, quis assumir aquele sentimento de uma vez, a menina dizia que me amava e nunca me abandonaria. Meu pai me bateu muito e me trancou no quarto. Então fiz a coisa mais idiota do mundo, peguei varias roupas, pulei a janela do quarto e fui atrás dela. Quando cheguei na casa dela e contei o que aconteceu, eu esperava que ela me apoiasse, me ajudasse ou ao menos me desse abrigo, mas ela disse simplesmente que não podia fazer nada e era melhor a gente não se falar mais. Fiquei ali sozinha parada, em frente a casa dela, perdida, me sentindo traída e arrasada, então engoli meu orgulho e voltei para casa. Alguns dias depois meu pai apresenta Rodolffo e diz que teria que me casar com ele, só assim eu estaria curada disso tudo, dessa abominação, como os dois costumam dizer. Apesar de ser infeliz no meu casamento, eu achei que estivesse curada, até conhecer você.

Nesse momento Sarah interrompe Juliette.

- Juh, você nunca se curou, porque nunca esteve doente. Cada um é como é, abominação é como essas pessoas te trataram.

- Eu não sei mais o que pensar. Você virou meu mundo de pernas pro ar. E eu te amo e te odeio por isso. Não faz sentido né?

- Faz sim Juh, faz muito sentido, também te amo e te odeio pelo que me faz sentir.

         Sarah chega mais perto de Juliette, dá um beijo terno na testa dela e a abraça.

- Agora você precisa dormir. Posso ficar aqui com você?

- Deve. Desculpa te incomodar tanto. Pode me acordar às 5:00hrs? Tenho que ir para casa.

- Eu te acordo. Agora descansa.

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Qualquer erro me comuniquem.

Bjs até depois 🤍

A Mulher do PastorWhere stories live. Discover now