I

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      Ao acordar pela manhã, estava completamente desnorteada, não conseguiu de inicio identificar o lugar onde estava, então viu Sarah sentada na beirada da cama observando atentamente. Se lembrou da noite passada, do frio, da confissão, do carinho e do corpo de Sarah junto ao seu. O primeiro pensamento que lhe veio a mente foi: Eu dormi com ela, literalmente dormi. E a sensação era boa, muito boa.

A outra não sorria, só olhava para ela com a cara preocupada.

- Bom dia Juh. Eu te acordei como me pediu, mas confesso que não queria fazer.

- Bom dia Sarah, obrigada, acho melhor eu ir agora.

- Não sem antes tomar café.

        Em cima da cômoda havia uma bandeja com café da manhã, Sarah foi buscar e colocou no colo de Juliette. Era um banquete, considerando o pouco que costumava comer pela manhã. Ali tinha torradas, algumas com manteiga outras com geleia, café, queijo branco, maçã cortada em cubos, leite e no meio da bandeja dentro de um copinho de plástico, estava uma flor desenhada com caneta vermelha. Achou aquilo tão fofo, era mesmo a cara de Sarah fazer esse tipo de coisa, mesmo que ela não se achasse merecedora.

- Caramba Sarah, tem muita coisa aqui, obrigada, adorei a flor.

- Por nada, não queria que fosse para casa sem comer. Ah, eu não tenho um jardim como o seu para pegar uma flor, essa ai tem que servir.

    Só agora se dava conta de como estava faminta, faziam quase 24 horas que não comia nada substancial, devorou quase tudo que a outra levou.

     Achou estranho o silencio de Sarah, não que esperasse que outra tagarelasse sem parar as 5 da manhã, mas ao menos algum comentário poderia fazer, o problema é que ela ficava só olhando com aquela cara séria, sem nem ao menos um sorriso. Será que tinha se arrependido de ajudar? Ficou apreensiva. Tentou se levantar, mas o corpo todo doeu e uma tontura forte fez a cabeça rodar.

- Juh, o que foi? Você esta bem?

- Foi só uma tontura.

- Levanta devagar, ainda esta cedo.

Fez Juliette encostar na cabeceira da cama. E então perguntou.

- Vai me contar o que aconteceu para você sair de casa assim?

       Não sabia o que dizer, tinha vergonha de dizer a verdade e sentia se mal em mentir. Resolveu seguir um ditado que sua mãe sempre dizia:" na falta de não saber o que dizer, diga sempre a verdade."

- Meu marido não é a pessoa tão boa que todos na igreja pensam, quando chegou em casa e não viu a jantar pronto, se irritou, tentei argumentar e ele me colocou para dormir fora de casa. Por isso eu estava na praça, por isso não podia voltar para casa e ainda me proibiu de pedir ajuda.

- E ele bateu em você.

      Não foi uma pergunta e sim uma afirmação. Sarah tocou o canto da boca onde Rodolffo havia batido.

- Por que você aguenta isso tudo? Por que não denuncia ele para a policia? Por que? que não larga desse animal de uma vez?

    Ela já havia se feito essa pergunta um monte de vezes e a resposta era sempre a mesma.

- Porque não tenho para onde ir. Minha família não me aceitaria, não tenho emprego e como não estudei até me formar, seria bem difícil conseguir algo. Eu dependo dele.

- Que droga Juh, você tem a mim. Eu cuido de você, não tem que voltar para lá.

      Era tentador, muito tentador, mas não era a solução certa nesse momento, e talvez nunca seria. O que Rodolffo faria com Sarah se soubesse que Juliette havia largado dele para ficar com ela. Tinha medo de Rodolffo, as vezes ele parecia um psicopata. Também tinha mais coisas envolvidas.

- Eu não posso. Eu sairia de uma relação onde dependo dele e entraria em uma onde dependeria de você.

    Sarah olhou ofendida para Juliette.

- Eu não sou como ele, nunca te machucaria.

- Não disse isso, mas e se um dia você cansasse de mim? O que eu faria? Ficaria comigo por pena? Eu não ia suportar isso, seria pior que as torturas de Rodolffo, preciso arrumar um jeito de me sustentar e existe a igreja, você pode até não entender, mas foi a igreja, a fé que manteve a minha sanidade esses anos todos casada com aquele monstro. Preciso arrumar um jeito de tirar ele da igreja, de mostrar a todos que ele não merece estar ali.

     O que mais poderia dizer? Não era mais uma adolescente que pularia a janela de casa para fugir do pai carrasco, era uma mulher e media cada ato e suas consequências, inclusive pensando na segurança de Sarah.

- Eu não quero que nada de ruim te aconteça. Sarah. Agora eu realmente preciso ir.

    A outra não disse mais nada, mas percebia pelo olhar, que estava triste. Tudo que Juliette sentia por ela veio a tona de uma vez, carinho, amor, amizade, paixão, medo. Levantou com cuidado e se dirigiu até a porta para ir embora. Sarah se mantinha de costas para ela. Então Juliette voltou, abraçou a outra pelas costas, encostou a cabeça no ombro e depois fez ela se virar ficando de frente. Viu as lágrimas que teimavam em cair dos olhos de Sarah e por mais que ela tentasse segurar, seus olhos também se encheram d'agua. Deu um abraço forte e por fim um beijo de leve nos lábios da outra e sussurrou no ouvido de Sarah.

- Eu amo você, para sempre!

     E então foi embora, enfrentar mais um dia terrível, mas levou duas coisas consigo, a flor desenhada e o sabor do beijo de Sarah misturado as lágrimas.

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Caiu um olho na minha lágrima KKKK emocionadas diram que é mentira.

Qualquer erro me comuniquem.

Bjs e até amanhã 🤍

A Mulher do PastorWhere stories live. Discover now