IV

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Nas poucas horas que Sarah conseguiu dormir, acabou sonhando com Juliette, havia duas nós seus sonhos, a Juliette assustada e a que cantava, que parecia livre de todos os problemas. Uma delas tinha as mãos algemadas e pedia ajuda, enquanto a outra tinha asas e voava para bem longe de Sarah.

Acordou ainda muito atordoada com o sonho e com as sensações do dia anterior, não teve vontade nenhuma de comer. Como de costume mandou SMS de Bom dia para Juliette, não tinha muito o que escrever, não quis fazer nenhuma gracinha.

BOM DIA JUH!

Pegou suas coisas e saiu para o trabalho. Foi dirigindo devagar, não estava concentrada o suficiente para correr muito com a moto.

Como sempre acontecia, assim que chegou deu de cara com Gil na recepção.

- Bom dia Gil, ainda está muito bravo comigo?

- Ah.. não...bom dia Sarinha.

Nesse momento ouviu uma voz atrás de si dando bom dia. Fez uma careta antes de se virar e dar de cara com Pocah.

- Bom dia, Sarah! Como vai?

- Vou bem, e você?

- Não muito satisfeita, parece que tivemos um pequeno probleminha com umas fotos, Ou me enganei?

Sarah lança um olhar de reprovação a Gil, que abaixa a cabeça e volta se concentrar no que estava fazendo no computador, foi muito otimista imaginar que Gil seguraria a língua.

- Nada que não pudesse ser resolvido.

- Você entende que temos muitos clientes por causa da nossa qualidade, quando a qualidade cai, todos perdemos.

- Não vai mais acontecer.

- É o que espero, sua vida pessoal não deveria interferir no seu trabalho. Quando vai me apresentar sua nova namorada? Ou ela é só mais uma que você vai usar e descartar como faz com todas.

Sentiu uma vontade Tão grande de estrangular Gil pela fofoca, mas se controlou.

- Não tem namorada nenhuma.

- Bom isso já não me diz respeito. Só espero que não afete o trabalho, no resto podemos ter uma boa relação profissional, o que você faz fora daqui não me interessa.

Pocah saiu sem nem se despedir, dos dois uma, ou ela aceitou isso de boa, ou estáva tramando algo. Agora a vez de Sarah descontar em Gil.

- Mas que merda Gil, por que contou a ela?

- Desculpa Sarinha quando percebi já tinha começado falar e aí ela arrancou todo o resto de mim.

- Ah tudo bem, agora já foi mesmo. Vê se controla essa língua, poxa!!

Saiu bufando de raiva e foi ver sua agenda, não tinha nada para hoje, o que era um milagre. Ficou mexendo em alguns programas novos de edição de foto que o Fábio havia instalado, mas não conseguia se concentrar, precisava falar com Juliette, saber se estava tudo bem depois da discussão de ontem. Não aguentou mais ficar ali sem fazer nada.

- Não me sinto bem vou para casa, hoje não tem nada marcado para mim, qualquer coisa me ligue ok?

- Precisa de ajuda?

- Não, é só uma enxaqueca.

Foi para casa, guardou a moto e lembrou que não tinha comido nada desde ontem a noite, pegou um copo de leite e comeu algumas rosquinhas. Então não adiou mais, foi até a casa de Juliette.

Bateu na porta e ficou esperando. A outra demorou a abrir, estava com uma blusa fina branca de mangas longas enroladas até o cotovelo e tinha as mãos molhadas. Olhou para Sarah com os olhos bem mais assustados que o normal.

- Oi juh, posso entrar?

- Eu estou ocupada Sarah, acho que não é uma boa hora.

- Não vou demorar muito, prometo.

Enquanto Juliette se decidia se deixava entrar ou não, Sarah viu as marcas arroxeadas nos braço da outra. Quando percebeu onde Sarah olhava, tentou abaixar rápido a blusa, mas sem sucesso.

- O que é isso no seu braço Juliette?

Sarah disse olhando os braços, não esperava uma resposta, já sabia o que era aquilo, marcas dos dedos de Rodolffo, ele havia machucado ela.

- Ele fez isso com você por causa daquela discussão de ontem?

- Vai embora Sarah, por favor.

- Me perdoa Juliette, não imaginei que ele fosse tão covarde ao ponto disso, eu só queria que ele me deixasse em paz.

Juliette encostou na parede e começou a chorar, um choro baixo, sem som, ver aquilo fez o coração de Sarah doer, Não resistiu e abraçou ela. Agora a outra tinha a cabeça pousada no ombro de Sarah e as lágrimas saiam mais abundantes, sentiu a blusa ficar molhada, sentiu quando Juliette puxou com força a camiseta de Sarah, como se isso fosse capaz de fazer a dor que sentia passar.

Desencostou Juliette do seu corpo, as duas estavam tão perto, colocou uma das mãos na cintura dela, bem delicadamente e a outra na nuca, sentiu os cabelos macios. Olhou aqueles olhos castanhos, inchados de chorar, o nariz com a pontinha um pouco avermelhada e aquela boca com lábios perfeitos.

Perdeu completamente a noção de tempo e espaço, não conseguia raciocínar direito, então fechou os olhos e aos poucos foi se aproximando mais do rosto de Juliette. Sentiu seu lábio roçar de leve no da outra, por um momento ficou assim, quase sem tocar, então com todo cuidado colou seus lábios ao dela. A reação veio na mesma hora. Juliette empurrou Sarah com toda força para longe.

- Ficou louca Sarah? O que pensa que está fazendo?

- Me desculpe, eu não sei o que me deu... Por favor...

- Sai daqui Sarah SOME DAQUI.

Agora além de medo, ela via raiva nos olho de Juliette. Não soube o que dizer.

- Olha Juh, me perdoa, isso não vai mais acontecer, eu não...

- Cala boca Sarah. Eu sou casada, como você pode imaginar que ia querer uma abominação dessas? Eu não sou assim, tenho nojo disso.

Aquela última frase foi como um soco no estômago de Sarah.

- Você tem nojo de mim?

Juliette não respondeu a pergunta, ao invés disso começou a empurrar Sarah porta a fora.

- Fica longe de mim Sarah, nunca mais chegue perto de mim.

Sem outra alternativa, Sarah foi para casa, sentia os olhos arderem, uma dor no peito que parecia física. As palavras de Juliette ecoando sem parar na sua mente: "TENHO NOJO DISSO, TENHO NOJO...NOJO...NOJO.

Encostou na porta da sala e começou a chorar, foi deslizando de costas até o chão. O que ela jurou que nunca ia acontecer, tinha acabado de ocorrer, mais uma vez alguém havia quebrado seu coração em mil pedaços.

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Qualquer erro me comuniquem.

Bjs até depois.

A Mulher do PastorOnde histórias criam vida. Descubra agora