III

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   Por sorte quando voltou do almoço na cantina o pastor Rodolffo não estava mais aí por perto, sentiu um alívio e então se lembrou que ele poderia ter descontado a raiva toda em cima Juliette, se isso tivesse acontecido Sarah não se perdoaria. Quando começou a discussão, não pensou nas consequências que isso poderiam ter, só quis extravasar a sua raiva e ficar em paz.

    Caminhou devagar em frente a calçada da casa deles, mas não ouvia nada, nem gritos, nem coisas quebrando ou choro, sinais de que não havia acontecido uma briga.

    Ainda não se sentia 100% calma, foi até o muro que dividia as duas casas, encostou a orelha ali e tudo também estava silêncioso.

      Com certeza essas sensações era só paranóia de sua cabeça.

     Ainda tinha a tarde pela frente e estava sem vontade de trabalhar, precisava dê pelo menos um dia sem mexer com fotos, era o seu descanso, mas não conseguia ficar parada vendo TV, então resolveu dar uma geral na casa, uma boa limpada, não que a casa estivesse suja e desarrumada, mas ao menos isso faria o tempo passar rápido.

      Quando acabou de limpar tudo já era fim da tarde, o sol se punha no horizonte deixando o céu com aquela coloração meio alaranjada, meio rosa. Achava o pôr do sol lindo, mas aos domingos, não sabia bem por que isso lhe causava uma enorme melancolia. Fechou a porta e foi tomar mais um banho, Sarah era viciada em banhos, mesmo em dias frios como os que estava sendo ultimamente.

      Foi até o escritório e procurou algo para ler, tinha muita coisa ali que ela não havia lido, poderia passar o tempo lendo. Viu O RETRATO DE DORIAN GRAY e lembrou que Juliette queria muito ler esse livro, já tinha dado uma cópia da chave de casa para ela poder entrar e ler sem medo do marido descobrir, se levasse o livro para casa e ele achasse, nunca ia acabar de ler.

       Resolveu ler O ORFANATO DA SENHORITA PEREGRINE PARA CRIANÇAS  PECULIARES, já fazia bastante tempo que queria começar esse livro, mais vivia adiando.

       Fez um pouco de pipoca, sentou no sofá e começou a ler, não chegou nem ao final do primeiro capítulo, quando a voz do pastor se fez ouvir ribombante pela casa toda. Tinha esquecido do culto de domingo a noite.

       A primeira coisa que sentiu foi raiva, por lembrar da discussão, mas  então pela sua mente passou a voz de outro dia, aquela voz que tanta calma e paz havia lhe trazido. Aguentaria mais o pastor esbravejando só para poder no final do culto ouvir a música.

    Tentou voltar a ler e se concentrar no livro, mas não tinha como, tanto pela raiva do pastor, como pela ansiedade de ouvir mais vez a garota que cantava.

        O tempo foi passando e nada da música, já estava achando que hoje não teria a sorte de ouvir. Foi nesse momento que ela começou, não era a mesma música, mais reconhecia o som do teclado, então aquela voz tomou de conta da sua mente, era como se entrasse no seu cérebro e fosse mandando para longe toda lembrança ruim, todos problemas, era quase como entrar em transe.

    Não aguentou a curiosidade dessa vez, saiu e foi até a frente da igreja, queria demais ver o rosto da garota que cantava, precisava ver. Discretamente chegou até uma das janelas da frente e espiou, não viu muita coisa, só a cabeça de quem tocava o teclado, como estava sentada, não tinha como ver o rosto.

      Fechou os olhos e aproveitou ainda mais a música, agora estava tão perto, todo seu corpo parecia invadido pelo som.

A vida me pregou mais uma peça.

Por essa não pude esperar.

Tudo que eu sonhei desmoronou.

A tempos que eu vivo em cavernas.

E ninguém nunca notou.

Sorrisos que se foram com a dor.

Mas eu não vou morrer aqui.

Deus me prometeu assim.

Vou clamar até que o céu.

Se abra sobre mim.

     Então a música parou, Sarah espiou mais uma vez pela janela e não acreditou no que seus olhos viam. Alí de pé, em frente ao teclado estava Juliette, não a Juliette que Sarah conhecia mas uma completamente diferente, sem aquele olhar assustado, sem medo, uma Juliette radiante, quase etérea, ela olhava para o céu como se estivesse em êxtase.

    Sarah não conseguia tirar os olhos dela, estava de tal forma hipnotizada por Juliette que nem se deu conta que logo o culto iria acabar, só saiu do transe quando o pastor Rodolffo voltou a falar.

    Correu para casa, tomou um pouco de água para se recompor da surpresa.

    A noite quando sonhou com a voz, ao menos ela tinha um rosto e era Juliette.

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O capítulo de amanhã meu deusss, preparem o coração de verdade.

Qualquer erro me comuniquem.

Bjs até amanhã 🤍

A Mulher do PastorWhere stories live. Discover now