CAPÍTULO 3

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Naquela tarde, encontrei Ren sentado no jardim enquanto olhava fixamente para o céu. Ele parecia perdido em pensamento, mas com bom humor.

Gostava de vê-lo assim, quando a tia deles não estava na mansão, percebia que até o ar parecia mais leve. Olhei em volta antes de me aproximar, queria ter certeza que ninguém nos olhasse conversando a sós no jardim, não gostaria de causar problemas.

— Está muito pensativo hoje — comentei e ele me olhou, então sorriu revelando suas covinhas.

— Ah, Mari... Sente aqui. — Bateu na grama ao seu lado e me olhou esperando alguma reação minha.

— Não acho que seja apropriado. Não quero causar problemas — expliquei e ele sorriu.

— Não há problema, qualquer coisa, basta dizer que lhe obriguei que irei afirmar o feito. Sente aí, tenho algumas perguntas para lhe fazer.

Convencida, me sentei. Gostava de estar ao seu lado. Ele tinha um cheiro distinto, agradável e uma presença doce e aconchegante. Me sentia muito bem ali. O vento fresco e o calor suave proporcionado pelo sol apenas complementavam aquela situação da melhor forma possível. Respirei fundo.

— O que deseja me perguntar? — O olhei sentindo meu coração bater forte contra o peito, e ele me encarou por cima do ombro. Não sei por que, mas tinha a impressão que sempre que ele me olhava, sua pupila dilatava um pouco e via um brilho diferente surgir em seu olhar. Eu poderia passar o dia inteiro admirando aqueles olhos.

— Sempre escuto o reverendo falar a respeito de Deus. E ele diz que ele mora no céu, me pergunto o que deve haver acima das nuvens...

Sorri e ele me olhou um tanto envergonhado.

— Nós tivemos uma conversa parecida quando criança, lembra? — lembrei com carinho. Guardava todos os momentos que tinha com ele em um lugar quentinho em meu coração.

Ren sorriu sem mostrar os dentes e voltou a olhar o céu.

— Isso por que me disseram que era no céu que mamãe estava...

— Então você me perguntou se a casa dela era mais bonita que a nossa.... sua — corrigi e ele riu.

— Esta casa pertence a você também... — Ele piscou rapidamente e então pigarreou — ... És quase nossa irmã, Mari...

Sorri. Eu sabia que esse era seu desejo, mas isso nunca haveria de ser verdade. Eu era apenas uma empregada e nunca seria parte da nobreza. Eu o amava e se pudesse, gostaria de me casar com ele, de tocar seu rosto, de tocar suas mãos e sentir seu calor, mas eu simplesmente não podia fazer nada disso. Caso quisesse, seria mais comparado a uma amante do que sua esposa. Era mais fácil me ver como uma irmã adotiva, como ele gostava de dizer que eu era, apesar de que pensar nisso me trazia uma dor aguda no peito. Se eu não tivesse tais sentimentos por ele, me sentiria lisonjeada em ser sua irmã. Sorri prensando os lábios e ele me olhou inclinando a cabeça sorrindo da mesma forma.

— O que foi? — perguntei constrangida e ele sorriu ainda me olhando. Ao mesmo tempo que gostava que ele me olhasse, sentia minhas bochechas formigarem, então tinha certeza que estava ficando vermelha. Desviei o olhar para minhas mãos tentando conter o sorriso.

— Suas covinhas lhe entregam — comentou ele, sei que quer rir.

— Olhe quem fala — retruquei e ele riu. Essa era uma característica que compartilhávamos e eu gostava de saber disso. — Estava pensando em sua mãe? — perguntei tentando mudar de assunto, e ele prensou os lábios. Fazia isso sempre que acertava algum pensamento seu.

— Você me conhece como ninguém... — resmungou ele, então suspirou. — Não acredito no que meu pai falava, por mais que eu não lembre dela direito, sinto falta... — Seu olhar ficou entristecido e tive vontade de abraçá-lo como fazia quando éramos crianças, mas ao invés disso segurei minha mão contendo-me.

— Também não acredito no que o senhor Wamura falava a respeito de sua mãe. Creio que ela era uma mulher muito bondosa...

— Não deveria dar ouvido a esta empregadinha. — Aquela voz nos fez estremecer. Me levantei o mais rápido que pude e Ren fez o mesmo se afastando de mim. Gelei frio ao perceber o olhar afiado da tia deles. Senhora Selena Lorenze. Ela era viúva e irmã do falecido senhor Wamura. — Quantas vezes já lhe falei para não se aproximar do meu sobrinho? — Encarou-me com raiva.

— Desta vez fui eu a chamá-la, tia — Ren se adiantou ficando a minha frente.

— O que falarão se ver que es tão próxima a uma qualquer? Certamente que admitimos situações como essa. — Sua voz mudava conforme ela se exaltava e isso me deixava nervosa.

Sempre que ouvia gritos, meu corpo estremecia de nervos e mal sentia minhas pernas, era como se a qualquer momento o mundo fosse se acabar. Cerrei os punhos e concentrei-me na dor que minhas unhas causavam em minha pele. Não podia me desesperar agora. Achariam que eu era louca.

— Me desculpe, tia. Isto não irá mais acontecer — falou Ren sorrindo enquanto se aproximava dela, essa era sua forma de contornar qualquer situação, sendo carinhoso. — Mas me diga, quando chegou de viagem? Nem ouvimos nada. — A abraçou e ela se acalmou um pouco.

E assim, ele conseguiu distraí-la e levá-la para longe. Foquei meu olhar no chão por alguns segundos enquanto tentava controlar minha respiração e os batimentos descontrolados do meu coração. Então olhei ao longe a governante me olhando com superioridade e satisfeita pela situação.

Suspirei fundo e saí dali me dirigindo a meus aposentos pela entrada de trás da casa. Eu sentia medo, e as empregadas evitavam-me olhar-me nos olhos, pois diziam não querer confusão com a senhora Lorenze. Algumas tinham raiva de mim, pois eu era a protegida dos irmãos Wamura.

Já até havia me acostumado com os olhares reprovadores das outras empregadas. No começo, eu não entendia por que elas me odiavam tanto, hoje já não buscava entender.



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Parece que a Mari não é muito querida pelas pessoas daquela casa, por que será?

O CONDE QUE EU AMAVAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora