CAPÍTULO 77

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— Sempre soube que Selena escondia coisas, mas não fazia ideia de que fosse a respeito de nossa família, até o dia em que recebi essa carta. — Yuna me entregou e eu a peguei abrindo-a rapidamente. Arregalei os olhos ao ler seu conteúdo. Era uma ameaça, uma pessoa ameaçava contar um grande segredo de Selena, segredo esse que tinha a ver com a senhora Wamura, em troca de uma grande quantidade de dinheiro.

— Esta carta veio para você?

— Não, o carteiro deu-me no lugar da governanta da casa. Disse que levaria até Selena, mas a abri, queria descobrir qualquer coisa a seu respeito para que pudesse ameaçá-la e fazê-la sumir de nossas vidas, só não imaginei que encontraria isso. Mas aí não dizia absolutamente nada certo.

— Você se correspondeu com essa pessoa?

— Mandei uma carta para o endereço em questão e ofereci o tal dinheiro para que me contassem, mas sem sucesso. Até que finalmente aceitaram o acordo. Por algum motivo, essa pessoa tinha medo de ser descoberta, então sempre mandava mensageiros em meu lugar. Viajei com o intuito de despistar Selena e fui para o lugar marcado e tardei muito a encontrar essa pessoa da carta, acredito que ela pensava que eu estava a mando de minha tia. Enquanto a procurava, escrevia a você, até que finalmente ela decidiu se mostrar; era a neta de uma empregada que foi morta por Selena. Ela começou a me contar a verdade, mas fomos atacadas por um mandante de Selena, felizmente eu consegui fugir, mas ela não teve a mesma sorte. — O olhar de Yuna ficou perdido.

Fiquei em silêncio por alguns segundos. Yuna respirou fundo.

— O que ela contou? — perguntei e ela mordeu o lábio inferior.

— Selena matou minha mãe. A matou no dia do meu nascimento, e fez parecer que fora por minha causa. Ela sempre falou que foi castigo de Deus e sempre dizia que minha mãe era uma pessoa ruim, uma pessoa má. Eu nunca acreditei nela, eu sentia que não era verdade! — Os olhos dela ficaram marejados e eu senti meu peito doer. — Durante toda minha vida a escutei dizer que a culpa era minha por não termos uma mãe, ela fazia questão de me atormentar com isso, tentava fazer Ren ter raiva de mim, e isso me deixava tão aflita... E agora eu sei que não foi minha culpa! Nunca foi minha culpa... — Sua voz falhou, mas nenhuma lágrima desceu. Os olhos de Yuna estavam doloridos, eu sabia que ela sofria por isso, mas nunca chorou na frente de ninguém, sempre teve a mania de suportar tudo sozinha e de agir de forma grosseira e rude para afastar qualquer um que tentasse lhe oferecer alguma forma de afeto. Antes, eu nunca compreendi o por que dela agir desta forma, mas agora tudo se encaixa, tudo fazia sentido.

Yuna agia como um gatinho machucado, que quando se tenta aproximar, era agressivo, pois acredita que caso aceitasse qualquer tipo de afeto, iriam descobrir que estava vulnerável e fraco, ou que iriam machucá-lo. A verdade era que ela nunca confiou em ninguém, e se fechou em seu próprio mundo para não ser mais uma vez rejeitada.

Ren nunca agiu como se ela fosse culpada de algo, na verdade, ele sempre a tratou com carinho e paciência, suportando tudo como um bom irmão mais velho, mas era visível como era doloroso para ele, e Yuna sabia disso, só não externava.

Sorri, eu convivi com eles por tantos anos, mas nunca os havia entendido de verdade, até que pudesse compreender o que se passava comigo mesma, então tudo começou a fazer sentido. Às vezes, é preciso olhar para dentro para se enxergar o lado de fora.

Me aproximei dela e a abracei.

— Eu entendo como se sente... — disse a apertando e Yuna fungou. Eu entendo muito bem o que é sentir-se culpada por algo como aquilo. Era uma dor esmagadora, sufocante, uma escuridão que estava sempre no encalço, nos lembrando de nossas faltas, nos lembrando do que fizemos ou deixamos de fazer, uma culpa que não finda.

O CONDE QUE EU AMAVAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora