CAPÍTULO 13

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Estava distraída com meus afazeres diários quando me peguei perguntando a mim mesma quando comecei a ter sentimentos por Ren, pareceu algo tão natural que não podia dizer exatamente ter surgido do nada, mas lembro de quando me dei conta desses sentimentos...

5 ANOS ATRÁS:

Era fim de tarde quando procurava por todos os lugares onde Ren estava. Nessa época, eu não fazia ideia dos meus sentimentos, apesar de que, quando ele me olhava, eu sentia um rebuliço incomum na boca do estômago, uma sensação na garganta e um acelerar diferente no coração e me sentia estranhamente nervosa. Coisa que eu nunca tinha entendido o que era, até aquele dia.

Foi no verão em que o senhor Wamura morreu. Nessa época, Ren tinha apenas 14 anos e estava devastado. Mais uma pessoa importante havia sido tirada dele. Ele mal comia e emagreceu muito. Enquanto isso, Yuna parecia menos abalada que ele, apesar de que vez ou outra a ouvia chorar sozinha em seu quarto.

Me sentia um pouco perdida, ao mesmo tempo que sabia que meu único dever ali era fazer companhia para Yuna, eu sabia que ele precisava de mim mais do que ela naquele momento.

O encontrei encolhido entre duas estantes da biblioteca, já que entre a estante e a parede não o cabia mais. Ren estava sentado no chão encolhido, escondendo o rosto com os braços. Prensei os lábios o olhando. Se aquela cena pudesse ser eternizada em uma pintura, eu poderia titulá-la como: "Ferida", pois era essa a sensação que ela me passava.

Me aproximei sutilmente e me agachei em sua frente, então percebendo que ele ainda não havia me notado, toquei em seu ombro e ele arregalou os olhos assustando-se comigo. Sorri sem mostrar os dentes, apenas para ver se conseguia lhe passar um pouco de conforto. Ren fungou tentando parar de chorar.

— Não precisa... — disse me ajoelhando e passando os braços ao redor de seu pescoço o abraçando. — Quando espreme demais, a gente chora — expliquei sentindo o cheiro dos cabelos dele. Pisquei sentindo meu coração bater mais forte contra peito e aquela sensação que fez minhas pernas vacilarem.

Ren passou os braços ao redor do meu corpo e me puxou fazendo-me sentar no chão. Me arrepiei quando ele enfiou o rosto no meu pescoço e chorou de forma rasgada. De um jeito que meus olhos se encheram de lágrimas. Ele tremia e fungava de uma forma descompassada. Eu conhecia aquela dor como ninguém. Fechei os olhos o apertando ainda mais contra meu corpo tentando, ao menos um pouquinho, lhe passar um pouco de força.

Nessa hora, orei a Deus que o ajudasse a não se sentir tão sem chão.

— Eu nunca mais vou vê-lo, Mari! Mais uma vez... Mais uma vez... Eu perdi alguém que amo... Eu não sei se posso suportar isso!

Engoli a seco deixando que minhas lágrimas escorressem. Ren estremeceu e voltou a chorar daquela forma agoniada que me fazia querer poder tirar dele manualmente essa dor para que ele voltasse a sorrir. Por que eu amava vê-lo sorrir, mas se não pudesse tirar essa dor, queria poder ao menos dividi-la com ele. O apertei com mais força até que ele finalmente parou de chorar se acalmou um pouco mais.

Não sei quantas horas ficamos na biblioteca em silêncio, apenas de mãos dadas. Ren encostou sua cabeça em meu ombro e me senti mais aliviada por ele aparentemente estar mais calmo.

— Me desculpe por isso... — falou ele quebrando o silêncio. Sorri prensando os lábios, então ele me olhou atento.

— Não tem por que se desculpar por isso — falei o observando. — Apesar de agora achar que você precisa de água, perdeu muito líquido, deve estar desidratado — falei em um tom descontraído e ele riu mostrando aquelas covinhas adoráveis.

— Devo estar mesmo, confesso que até sinto falta do meu pai brigar por isso, que eu sou muito chorão — suspirou caindo em pensamentos, parecia sério e decepcionado. — Eu não tive tempo de orgulhá-lo como filho... — resmungou e eu pisquei o olhado sério daquele jeito. Então ele sorriu prensando os lábios. — Você me achou mais uma vez, devo encontrar esconderijos mais elaborados quando for dar uma de fracote. — Riu de si mesmo levantando-se.

E foi como um start em minha mente. Nesse momento, eu apenas soube que eu não só o amava, como estava perdidamente apaixonada por ele. Como se tudo o que sentia quando ele se aproximava fizesse sentindo nesse momento. Como se meu corpo tomasse consciência da existência dele de uma forma ainda mais ampla, profunda e dolorosa, e eu senti medo. Por que nunca que um conde como ele se casaria com uma empregada como eu. Ren respirou fundo, então se levantou soltando minha mão. Pisquei sentindo aquele estranho vazio voltar.

— Isso não é verdade... — Tentei lhe falar algo que tirasse aquela ideia de sua cabeça, mas fui interrompida.

— Obrigado, Mari. — Esticou a mão para mim. A aceitei e ele me ajudou a levantar. — Obrigado por ter vindo me acudir. — Sorriu daquele jeito adorável novamente.

— Não há de que, Ren. — Sorri de volta. — Estarei sempre aqui, sempre que precisar. Posso te emprestar meu ombro sempre que quiser — falei atenta a seus olhos brilhantes. Ren sorriu e seus olhos quase se fecharam. Minha nossa, nunca tinha reparado que amava tanto isso.

— Você foi como um anjo em nossas vidas, sabia? — Ele tocou em minha cabeça e pude sentir depois de muito tempo a sensação de ser realmente necessária. Meu peito se apertou.

Depois disso, passei o dia um pouco aérea. Yuna até me perguntou o que estava acontecendo comigo, mas eu não sabia explicar. Não sabia como dizer que estava apaixonada pelo conde Wamura. Ela nunca entenderia essa loucura do meu coração.

Às vezes, quando Ren estava muito triste e queria chorar um pouco, ele me puxava para alguma parte da casa e então encostava sua cabeça em meu ombro enquanto segurava com força minhas mãos. E isso se seguiu até que eventualmente ele parou de chorar. Confesso que eu até sentia falta dos seus abraços, do calor que o corpo dele me proporcionava.

Ele nunca comentou sobre isso, imagino que seja algo que, agora com seus 19 anos, ele tenha um pouco de vergonha de mencionar, então não falo a respeito, mas guardo com amor o fato de que eu estive muito próxima de seu coração, quase podendo tocá-lo.

Me pergunto se algum dia seria capaz de superar esses sentimentos que tenho por ele, se serei capaz de vê-lo casar com outra pessoa sem sentir a dor rasgar meu peito. Sem me sentir em cacos.

Me dói pensar que fui a única a cultivar um sentimento, e nem sequer poderia culpá-lo, Ren já havia deixado bem claro que me enxergava como uma irmã, não é? Suspirei lembrando-se do seu olhar para meus lábios e me arrepiei no mesmo instante.

— Minha nossa, pare com isso... — sussurrei a mim mesma sentando na cadeira em frente a minha escrivaninha e olhei mais uma carta de Ryan Venoza. Respirei fundo, era um aborrecimento ter que escrever uma carta àquele homem que nem sequer conheço. Imaginava que nossas vidas nunca se cruzariam, mas eu estava enganada.

Tudo em minha história estava prestes a virar de cabeça para baixo, começando por aquele dia...



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Parece que algumas coisas hão de acontecer, hein?~

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