CAPÍTULO 66

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Dormi naquele dia ouvindo a música da caixinha que ganhei de Ren. Toda vez que a pegava, sentia vontade de abraçá-lo e agradecê-lo por estar ali. Confesso que no começo me sentia extremamente incomodada com sua presença, Ren sabia quem eu era de verdade, e isso me incomodava, pois estava querendo fugir de mim mesma, estava querendo ser outra pessoa. E isso me machucava, deixava-me da defensiva, me fazia acreditar que a qualquer momento eu seria engolida por uma escuridão sem fim, escuridão essa que tive medo por toda minha vida.

Fechei os olhos sentindo medo de ser exposta, de dizer a verdade, mas mentir estava me machucando muito mais, e finalmente eu estava compreendendo isso, estava compreendendo que seria impossível ser feliz se não me enxergar como realmente eu sou.

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto enquanto observava a caixinha, então peguei o medalhão e sorri me sentindo esperançosa e, por mais que tudo esteja indo contra ao que desejava anteriormente, me sentia feliz.

Caí no sono e tive um sonho. Nele sentia o abraço caloroso de Lisa. Ela sorria e eu também. A sensação que tive era que tudo iria ficar bem. Que não importasse o que acontecesse, tudo iria ficar bem.

Acordei chorando, mas sentindo uma força surgir dentro de mim, algo que até então desconhecia, a verdade era que desconhecia muita coisa sobre mim mesma. Pelo visto, tenho a péssima mania de me subestimar.

Beatriz me ajudou a me arrumar, vestia um vestido branco com detalhes azul claro de mangas curtas, era um lindo vestido, um dos melhores que tinha, depois do vestido do baile, claro. Antes de sair do quarto, dei uma olhada no céu, estava nublado. Senti meu peito apertar e um arrepio percorrer minha espinha. Não podia mais voltar atrás em minha decisão, ou machucaria muito mais a mim do que qualquer outra pessoa.

Saí do quarto decidida e me dirigi a escada, porém parei assim que olhei Selena. Ela, no entanto, me olhou séria e rígida, não soube exatamente qual expressão transparecia.

— Já está atrás de Ren? — perguntou com sarcasmo e eu sorri com cortesia.

— Não, estou atrás de Ryan, você o viu? — perguntou.

Selena piscou, então suspirou.

— O vi sair para ver os cavalos, deve estar no estábulo — contou e eu passei por ela, mas antes, a mulher segurou meu braço com força. — Eu disse que não queria você perto de Ren...

— Quem o trouxe aqui foi você, não eu — repliquei a olhando séria. — Sabia que metade de toda essa confusão teria sido evitada se você parasse de interferir tanto? — puxei meu braço de volta me sentindo trêmula e ela me olhava com ódio, então sorriu com o canto da boca como se pensasse em algo.

— Vou fazer você engolir toda essa sua ousadia, inútil... — sussurrou e continuou andando para o quarto. Engoli a seco, mais do que nunca precisava contar a Ryan sobre mim mesma, antes que Selena o envenenasse com suas mentiras.

O café da manhã seria servido daqui a alguns minutos, mas não queria perder mais tempo, precisava liberar oque tinha em meu coração ou perderia as forças de uma vez.

Saí da mansão e senti o tempo frio, como se avisasse que a qualquer momento cairia um temporal. Desci as escadas da entrada e me dirigi a passos rápidos em direção ao celeiro, deveria ter pegado meu xale, afinal estava frio.

— Ryan? — o chamei próximo a porta, mas ninguém respondeu. — Ryan? — voltei a chamá-lo, e tentei puxar a porta, mas a mesma estava trancada. Pisquei rapidamente me sentindo arrepiada, então me virei e dei de cara com um homem, aquele homem! Era o homem que estava conversando com Selena aquele dia! Tenho certeza! Meu coração disparou na mesma hora e minhas pernas falharam. Ele me olhava como meu pai olhava-me as vezes, como quem iria matar-me.

Tentei correr, mas ele segurou-me pela cintura e me colocou contra parede daquele celeiro, bati minha cabeça e minhas costas e senti meu mundo girar, assim como falta de ar. Então vendo que não conseguiria me soltar dele, gritei o mais alto que pude, não queria morrer! Gritei mais uma vez, mas suas mãos foram a minha garganta de forma que minha voz foi interrompida por sua força. Meus olhos lacrimejavam, não conseguia respirar, muito menos gritar! Por mais que tentasse me soltar, ele era duro e estava disposto a tirar minha vida! Meus braços pareciam estar perdendo a força, tentei chutá-lo, mas era o mesmo que nada, nunca pensei que fosse morrer estrangulada, nem de uma forma violenta como essa. Fechei os olhos com força me sentindo impotente. Por que isso estava acontecendo? Pensei em me entregar e desistir, seria muito mais fácil, não veria a expressão decepcionada de Ryan, mas...Pensei em Ren, não o queria chorando, não, esse não era o único motivo. Pela primeira vez em minha vida eu não queria morrer, eu queria viver, mais do que nunca eu quero viver!

Juntando o máximo de força que eu tinha enfiei meus dedos em seus olhos, o homem gritou se afastando, ao mesmo tempo que tentava segurar minha mão. Consegui um pouco de ar e uma tontura forte me dominou, e logo ele estava vindo para cima de mim novamente, muito mais feroz que anteriormente, mas foi interrompido por uma voz distante chamando-me.

— Mari! — ouvi aquela voz de longe, e me senti um pouco aliviada. Se fosse antes, eu ficaria com raiva por ele estar gritando meu verdadeiro nome, mas que egoísta sou em querer que em um momento de desespero ele lembre-se de mentir. Logo atrás dele vinha Ryan. O homem viu que não teria chance, então se afastou e correu para dentro da mata.

— Yuna! Você está bem? — Ryan perguntou me observando.

— Eu vou atrás desse maldito! Leve-a para dentro, por favor. — Ren falou correndo atrás do homem e eu apenas queria chorar. Eu estava viva! Mais uma vez eu sobrevivi! Meu coração batia forte e meu corpo ainda tremia. Fiquei alguns segundos ali enquanto me recuperava e sentia a garganta doer, respirei fundo sentindo os pulmões encherem-se de ar.

— Vamos para dentro — Ryan tentou me ajudar, mas eu segurei seu braço o olhando nos olhos.

— Eu... tenho uma coisa importante para te falar — disse sentindo minha garganta arder, enxuguei minhas lágrimas mais uma vez e ele me olhou curioso e apreensivo.

— Você acabou de ser atacada, Yuna. — Ryan sorriu preocupado — Primeiro vamos entrar para que se recupere e depois você pode me dizer...

— Não, Ryan, preciso dizer agora ou não terei mais coragem. — Cerrei os punhos com força recuperando as forças e respirei fundo me sentindo mais viva do que nunca. — Quero lhe contar sobre o meu segredo — falei finalmente e ele piscou prensando os lábios, então ficou sério e respirou fundo soltando-me.

— Muito bem, qual o seu segredo, Yuna? — perguntou e eu pisquei me sentindo temerosa. Por mais que seus olhos pareciam bondosos, eu sabia que ele sentiria raiva de mim, mas o que posso fazer?


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Parece que ela finalmente tomou coragem, será que Ryan vai reagir bem? Isso tudo me cheira a problemas....

O CONDE QUE EU AMAVAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora