CAPÍTULO 21

381 86 15
                                    


"Tudo o que você precisa fazer é ser rejeitada por ele" Ecoou aquela voz em minha mente. Parecia ser fácil falar, mas o homem quase não me dava atenção. Ele não parecia muito satisfeito com minha visita ali. Podia ter quase certeza que quem o estava obrigando era sua mãe, então a situação ficava ainda mais complicada. Como convencer a senhora Venoza de que não posso ser a sua nora? Como fazer Ryan Venoza me odiar se quase não o via?

Estava pensando em meu quarto enquanto escrevia uma carta em desespero para Yuna. Fazia uma semana que estava ali e não recebi nenhuma carta dela. Eu nunca deveria ter aceitado tal situação! Caso notem que não sou a verdadeira Wamura, estou completamente perdida! Serei largada a ver navios e não haverá nenhuma casa que me queira como empregada!

Fechei os olhos com força. Até que meu desespero foi interrompido por uma batida na porta.

— Sim? — perguntei fitando a porta.

— Senhorita Wamura? — Era a voz dele. Me arrepiei. O que Ryan poderia querer?

— Sim? — respondi me aproximando da porta e a abri o olhando. O homem piscou e deu aquele sorriso misterioso que eu odiava. Logo cruzei os braços na defensiva.

— O tempo está maravilhoso para um passeio e percebo que anda muito tempo presa em seu quarto. Não gostaria de um passeio a cavalo? — perguntou.

Arregalei os olhos. Céus, eu não sei muito bem como andar a cavalos, nunca peguei o jeito. Minha mente foi então a quando Ren tentou me ensinar a andar em uma égua mansa que eles tinham. Suspirei. Pude até mesmo reviver a sensação de tê-lo bem próximo a mim, a sensação de suas mãos sobre as minhas juntamente com as rédeas, de sua respiração no meu pescoço. Prensei os lábios fechando os olhos com força, tinha que parar de lembrar de Ren Wamura, ou acabaria enlouquecendo de saudades, mas era impossível visto que me coração parecia a cada dia implorar mais ainda por sua presença.

Na época, eu e Ren estávamos bem próximos, ele se esforçou para me ensinar e conduzir a égua pelas rédeas enquanto eu me segurava para não cair, mas parece que meu corpo simplesmente não tem o equilíbrio como deveria.

— Deixe as pernas mais firmes, Mari — pediu Ren achando graça do meu desespero. Ele andava ao lado do cavalo que estava montada, justamente para impedir que nenhuma tragédia acontecesse.

— Não ria Ren, eu vou cair! — gritei e ele riu.

— Não vai... fique tran... — De repente, perdi a força na perna e meu corpo girou para o lado, se não fosse Ren, teria caído como uma jaca madura no chão. Ren segurou-me e lembro que nossos olhos se prenderam um no outro. Lembro do seu olhar ser direcionado a minha boca, como geralmente ele fazia... — Você precisa ser mais cuidadosa... — sua voz saiu rouca, meu coração batia tão forte que nem sequer conseguia formular uma frase com sentido em minha mente. Eu senti que ele me beijaria, mas ele não o fez, simplesmente me colocou no chão e se afastou pigarreando e me explicando o porquê era importante colocar força nas pernas, mas confesso que não prestei muita atenção em nada, afinal tudo o que sentia era meu coração bater desesperado contra meu peito. Eu queria beijá-lo! Por que ele simplesmente não podia ceder ao seu impulso? Mordi o lábio inferior me sentindo indignada. Então a partir daí Ren começou a me ensinar atrás de mim, também montado no cavalo.

— Faça força nas pernas — Ele tocou minha cocha por cima do vestido a pressionando. Pisquei. Não importa o que ele dissesse, eu apenas conseguia prestar atenção ao que estava sentindo. Seus braços rentes aos meus, seu toque, sua respiração e sua voz próximo a meu ouvido. Prensei os lábios tentando conter os arrepios, mas creio que estava falhando nisso também.

Então voltei-me a situação atual e pisquei ao perceber que Ryan me olhava pacientemente enquanto estava encostado no batente com os braços cruzados.

— Pelo visto eu estava falando com os ventos — reclamou ele aborrecido. Pisquei sentindo a bochecha corar. Preciso parar de pensar em Ren.

— Eu aceito o passeio, mas não estou muito disposta a andar a cavalo — falei e ele piscou.

— Sabe cavalgar?

— Cavalgar seria uma palavra muito forte, consigo ficar alguns segundos em cima do cavalo...— respondi rápida e ele sorriu com o canto da boca, mas logo voltou a ficar sério.

— Muito bem, então vamos apenas a um passeio a pé. Creio que vá gostar de conhecer a propriedade.

Pisquei. Ele tinha razão, estava curiosa para conhecer o lugar, mas não me sentia confortável para sair por aí e mexericar as coisas em volta. Assenti e entrei apenas para buscar meu chapéu.

O tempo realmente estava maravilhoso, o vento era geladinho e o sol estava suave, tudo estava bem verde, a grama, as folhas das árvores e o ar puro me fazia sentir que estava viva... Como eu amava aquela sensação de liberdade.

— Parece gostar da natureza — comentou ele me guiando pelo braço. Pisquei me dando conta que ele estava ali. Ando me distraindo muito próximo a ele. O que era bem estranho.

— Sim, eu amo estar ao ar livre, gosto de sentir o vento e observar a cor do céu — contei observando a paisagem. — Acho o azul tão bonito.

— É raro uma dama gostar de azul... dizem que é a cor dos meninos — falou com divertimento nos olhos.

— Pois eu acho que combino muito com esta cor — retruquei o olhando nos olhos enquanto sorria.

— Eu concordo — Ryan falou encarando-me nos olhos e eu reparei que os olhos dele, bem de perto, tinham algumas manchas castanhas e ele tinha os cílios bem pretos e compridos.

— Você, no entanto, parece combinar mais com detalhes vermelhos e não com esse terno com detalhes azuis escuros — falei na tentativa de fazê-lo parar de me olhar profundamente e pigarreei desviando o olhar para o chão. Me sentia estranha por estar sendo irreverente e agindo de forma tão íntima com ele. Certamente ele não gostaria nada disso.

  


§~~~~~~~~~~~~~~§


Será que não?

O CONDE QUE EU AMAVAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora