CAPÍTULO 25

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Entrei na biblioteca da mansão em busca de qualquer leitura em que pudesse me distrair. Só não esperava que Núbia estivesse ali. A senhorita de aparência séria e olhos profundo olhou-me fixamente.

— Oh, mil perdões... — disse dando meia volta.

— Não precisa sair — falou ela sorrindo amigavelmente. — Veio atrás de algum livro? — perguntou e eu assenti. — Gosta de qual estilo? — Voltou a andar entre as estantes e comecei a segui-la um tanto tensa. Como quem notasse meu nervosismo, Núbia me olhou por cima do ombro — Não precisa ficar tão nervosa comigo — ela falou sorridente. — Sei que minha expressão parecem ser de alguém mal-humorada, mas ...

— Não acho que seja mau humor — falei e ela voltou a olhar-me. — Apenas que é alguém bem séria... — pigarreei percebendo que não deveria ter falado aquilo. — Bem, eu gosto de romance com aventura, daqueles que são bem detalhistas quanto a paisagem — expliquei e ela me olhou bem, quase como se me analisasse.

— Deixa eu ver, semana retrasada estava lendo um romance muito bonito que acontece em um lugar com lindas paisagens. — Núbia se voltou para a estante enquanto procurava. — Tinha bastante aventura e um pouco de ação. O final foi emocionante...

Juntei as mãos animada pela leitura, assim como gostava de escrever, sempre que possível, lia também. Era uma forma de alimentar minha imaginação com novos vocabulários e viajar para um mundo um pouco diferente do meu. Isso me fazia mais feliz e mais livre.

Lembrei-me de quando Ren pediu ao senhor Wamura para que eu aprendesse a ler, assim poderia ajudar Yuna em suas tarefas. O senhor Wamura aceitou, com a condição de que Ren deveria me ensinar, ele não iria pagar aulas para uma empregada, o que de certa forma é compreensível. No começo, eu ficava muito tensa, pois não conseguia acompanhar as aulas, mas conforme comecei a reconhecer as letras e o som delas, as coisas começaram a fazer mais sentido. Ren era muito paciente comigo, lembro até hoje da sua alegria quando consegui ler e entender minha primeira frase de um conto infantil. O menino me abraçou forte e disse que eu era incrível. Lembrar disso fez um breve sorriso se formar em meus lábios.

— Achei! — Núbia falou pegando um livro de capa dourada com detalhes vermelhos e eu acordei dos meus devaneios. Sorri vendo o livro, parecia bem usado, mas não importava. Notei que ela segurava um outro em seus braços.

— Qual é esse que vai ler? — perguntei e ela piscou.

— Ah, esse? É um romance com suspense e mistério, lhe confesso que é meu gênero favorito — contou sorridente. Quando ela estava assim, ficava ainda mais bonita.

— Parece mesmo com você — falei e ela sorriu.

— Gosto de mistério, outro dia estava lendo um e quase não saí do quarto para comer... Não conseguia largar o livro.

— Isso já aconteceu comigo, estava numa parte empolgante e quase perdi o horário do trabalho. — Me empolguei demais e notei que uma das sobrancelhas dela tremeu, Núbia piscou sem entender e eu me desesperei... — ...Tinha muitos trabalhos para fazer com a professora de etiqueta, ela havia me passado diversas lições, sabe como são trabalhosas, não é?

— Ah... sim, são mesmo... — Sua voz vacilou. Ai, minha nossa, Mari! Por que você tem que ser tão desastrada! — Bem, depois quero que me diga o que achou do livro, está bem? — Voltou a sorrir e eu me senti mais aliviada.

— Digo sim, muito obrigada pela indicação! — saí dali a passos ligeiros, como se, se ela me olhasse por mais alguns segundos, iria descobrir tudo a respeito do meu passado, da minha vida, da minha mentira.

Abri a porta da biblioteca com tudo e me assustei com Ryan ali. Ele me olhou surpreso.

— Núbia... — Ia falar, mas eu o interrompi.

— Está aí dentro... — falei passando por ele quase correndo em direção ao meu quarto. Só espero que Beatriz não esteja lá. Não quero ter que olhar ninguém nesse momento de desespero interno. Se ela percebeu, se ela desconfiou, tudo estava perdido, tudo! Núbia iria contar a Ryan e depois a seus pais, e eu seria expulsa desta casa, num país completamente desconhecido e a mercê de qualquer fatalidade!

Entrei em meu quarto e tranquei a porta assim que me vi dentro dele. Calma, Mari! Nem tudo está perdido. Talvez ela não tenha desconfiado, talvez tenha acreditado no que falou sobre as aulas de etiqueta... Ai, minha nossa!

Andava de um lado para o outro tensa.

Talvez fingir normalidade fosse a melhor solução de todas. Respirei fundo me acalmando. De repente, bateram na porta e eu dei um pulo no mesmo lugar.

— Sim? — perguntei nervosa.

— Senhorita, tem uma carta de seu irmão...


 §~~~~~~~§

Hm...

O CONDE QUE EU AMAVAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora