CAPÍTULO 29

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Batidas fortes na porta do quarto me fizeram sobressair na cama. Quem poderia ser a uma hora dessas? E por algum motivo minha mente me levou a Ryan. Será que seria ele? Nesse momento meu coração acelerou, o que Ryan Venoza poderia querer comigo a uma hora dessas? Me levantei buscando meu xale para cobrir os ombros. As batidas ficavam ainda mais frenéticas.

— Só um minuto! — exclamei buscando a minha peruca, como saberia que alguém apareceria uma hora daquelas? Ainda era madrugada! A coloquei de qualquer jeito e corri para a porta, a abri pronta para pergunta-lhe qual era seu problema. Mas assim que fitei aqueles olhos conhecidos e cheios de uma chama cruel, estremeci. Meu corpo gelou no mesmo instante e pareceu até mesmo que meu coração parou de bater por alguns segundos. Conforme ela sorria, sentia minhas pernas enfraquecerem. O que a senhora Lorenze estava fazendo ali?

Gritei me sentando na mesma hora. Pisquei agarrada a meu lençol enquanto olhava em volta. Foi apenas um sonho? Conforme me dava conta que foi um pesadelo, me acalmava, mas ao mesmo tempo, surgia uma dor de cabeça latente. Levei os dedos as têmporas e a massageei.

— Senhorita Wamura, está tudo bem? — Beatriz perguntou do outro lado da porta.

— Sim, abro nesse instante, um minuto — Me levantei e corri para buscar minha peruca. Enquanto a colocava sobre a cabeça, só me lembrava dos olhos que vi no sonho. Me arrepiei, ainda bem que se tratava apenas de um pesadelo.

Deixei que Beatriz me ajudasse na higiene matinal e desci para o desjejum. A mesa estava farta quase como estivéssemos próximos a ter algum evento. Assim que senti o cheiro da manteiga derretida sobre torradas quentes, ou da geleia de pimenta, meu estômago despertou. Eu estava com fome.

Não era difícil me acostumar com aquela família, todos tinham um jeito meio individual de ser. Núbia passava o dia em casa, as vezes saía com algumas conhecidas nobres, participava de poucos eventos sociais e era praticamente uma vergonha para a família, pois já passara da idade de casamento e continuava solteirona mesmo com os diversos cavalheiros que apareciam para cortejá-la, precisava saber que truques ela usava para afastá-los em menos de algumas horas.

O senhor Venoza passava o dia fora de casa a trabalho, ou quando estava ali, o via enfurnado em seu escritório atrás de pilhas de papéis, quase não o via com sua esposa, apesar de saber que essa falta de atenção de parte dele a deixava um tanto magoada e cheia de minhocas na cabeça. Restava então afortunar a vida do filho. E essa parecia a missão da senhora Venoza: casar Ryan Venoza com Yuna Wamura, quase como uma garantia que sua linhagem fosse passada através de suas características físicas, suponho eu, não sei ao certo se havia outros porquês.

Ryan era uma criatura interessante. Ao mesmo tempo que ele era calado, falava bastante. Tinha um jeito meio convencido e direto de ser, mas no fundo ele aparentava ser um pouco tímido e orgulhoso. Confesso que aos meus olhos, ele é um senhor muito interessante e atraente, e que Yuna se daria bem com ele, já que a mente dos dois parecem funcionar da mesma forma, no entanto, sei que ela o irritaria bastante com seu jeito teimoso e inconveniente de ser, só Ren que ela não conseguia tirar do sério, afinal ele conhecia todos seus truques. Pensando bem, nunca vi Ren com raiva de alguém antes. Pisquei sobre isso, parecia assustador pensar nele com raiva, certamente é algo que não desejo ver.

Mas você nunca mais vai vê-lo... A frase me fez estremecer.

Suspirei voltando minha atenção as torradas e percebi que Ryan me olhou brevemente, quase como quem tentasse entender o que se passava em minha mente, e claro que a senhora Venoza estava nos observando com tanta atenção que chegava a ser inconveniente e desconfortável, mas ela nem sequer percebia seus atos.

Para meu desespero, ela pigarreou e limpou a boca com o lenço, sinal de que iria anunciar alguma coisa.

— Essa semana será cheia para ambos — falou sorridente. Ryan suspirou e fitou sua mãe cansado. Eu prensei os lábios e desejei que não fosse algo tão difícil. — Ryan vai acompanhar a senhorita Wamura até a praia!

Pisquei o mais rapidamente que meus olhos permitiam. Não sei se me sentia feliz ou preocupada. Quer dizer, eu nunca tinha ido à praia! Mas uma viagem com o senhor Venoza não pode ser uma das melhores ideias.

— Mãe, a senhora sabe que uma viagem até a praia não demora menos de um dia... — Ele rebateu, mas sua voz estava um tanto confusa. Se eu, que o conheço a pouco tempo, percebi sua confusão, imagine sua mãe que logo se animou mais ainda. Era quase como se ele dissesse indiretamente que cederia caso alguém insistisse mais um pouco.

— Ouvi a senhorita Wamura dizer que nunca foi a praia, certo, senhorita Wamura? — E ela me colocou nesta confusão. Assenti, afinal não iria mentir a respeito disso. — Como faríamos a senhorita vir a este país sem nem ao menos fazer uma pequena visita a praia? Ora...

— Apenas não sei se será adequado... — Ryan continuou, desta vez mais sério. — Teríamos que escolher algum lugar para dormir, e sabe que não seria muito bom uma viagem a essa altura, com... — Ele me olhou quase como se pedisse ajuda — ... uma dama solteira.

Então a senhora Venoza riu, como se fosse engraçado.

— Não se preocupe com isso, Beatriz a acompanhará — contou. — E basta serem discretos, podem levar a carruagem da família.

O Conde Arthur, que sim, estava na mesa e observava toda a conversa, abriu a boca para falar algo, mas sua esposa o olhou fixamente e ele logo mudou de ideia e voltou a comer em silêncio.

Me senti nervosa, mas ao mesmo tempo, sabia que esta seria a chance para ter uma conversa sincera e sem os pitacos de sua mãe a respeito de nosso futuro, talvez até seja bom que arquitetemos um plano a respeito dos motivos para nossa separação.

Estava certa de que uma viagem assim geraria muito rumores pela cidade, logo saíramos nos jornais de fofoca como o futuro novo casal, e somente um motivo muito forte para a separação sossegaria os ouvidos dos curiosos. Prensei os lábios temendo que fosse dar alguma coisa errado e eu realmente tivesse que me casar com Ryan, quando pensava nisso, minha mente me levava a Ren e eu sentia medo. Não queria casar-me com Ryan, e tenho certeza que ele se sente da mesma forma...



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Prevejo problemas

O CONDE QUE EU AMAVAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora