Entre Dois Reinos

About invaders

Quatro dias haviam se passado depois do baile. O corpo esbelto de Jeongguk se mexia com preguiça enquanto andava a passos pesados até o feno que estava usando para treinar a mira e retirou as duas facas presas na madeira que o disponibilizaram para a atividade e depois foi a vez de suas flechas serem retiradas. Colocou-as na bolsa das costas e com o arco em mãos voltou para a posição inicial.

Depois do baile muitas coisas ocorreram, mas Jeon se manteve o mais neutro que pôde para seguir na linha e sem confusões. Depois do sorriso falso que foi obrigado a dar após o selar de Taehyung em sua mão, Jeongguk tivera que se comportar e fingir que não se importava com a ausência de seus pais e guardiões na festa. Possivelmente ocorrera um encontro entre eles, e em seguida, Junghyun parecia ir para o mesmo lugar, pois logo se despediu em meio a multidão de pessoas e partiu sem explicações.

Se questionado, Jeon se lembrava bem do choro preso em sua garganta e o incômodo de ter que se conter sozinho até chegar ao quarto para chorar. Taehyung havia tentado o consolar na noite dizendo que logo os veria no dia casamento e que conseguiu convencer seu pai a mudar a data através de uma carta, mas o ódio foi tanto por não ter se despedido apropriadamente do irmão que não pôde deixar de ameaça-lo de morte com a adaga posta em seu sapato.

Agora o quarto pertencia somente a si e durante esses dias se encontrou somente três vezes com o noivo, todas as vezes sendo quando ele mesmo entrou em seu quarto para se banhar. Não houve troca de palavras, mas estava grato por Taehyung ao menos o respeitar tomando banho sozinho.

Nessa manhã ele até pareceu querer dizer algo, mas assim que entrou no quarto e encontrou Jeongguk afiando suas flechas ele se limitou em fechar a cara e fazer sua higienização com pressa.

Sobre o olhar mortífero do mais novo.

O clima não estava muito bom e Jeon estava descontando todas as suas frustrações em atividades físicas, seja correndo ou treinando. Vez ou outra o guarda que havia feito amizade aparecia de surpresa para lhe trazer uma fruta afim de não o deixar morrer de fome e acabava por treinar um pouco consigo. Apostavam rosas por estarem sem opções e Jeon sempre acabava ganhando um buquê.

Yuu - apelido que deu para o guarda após ele lhe falar que se chamava Yuuki - era dois anos mais novo. Não era lá muito bom em luta, mas estava melhorando e aprendendo todos os dias coisas novas com o príncipe.

Jeon estava adorando ensina-lo e vez ou outra Yoongi e Hoseok apareciam para assistir. Ambos haviam partido essa manhã para Jeju resolver alguns problemas do reino e por isso Jeongguk se encontrava cabisbaixo e sem motivação alguma.

Estava prestes a atirar outra flecha quando viu ao longe a possível filha mais nova do rei o encarar entre as árvores. Curioso com a falta de discrição da mulher Jeon fez o mesmo, abaixou aos poucos o arco e seguiu em sua direção sem receio.

Ela aparentava ter a mesma idade que a sua e Jeongguk suou frio ao constatar que ela era mais bonita que Taehyung.

Não que o considerasse charmoso, claro que não.

Seus olhos possuiam um cinza intenso, seus fios, diferente do Kim, eram completamente brancos em contraste com sua pele negra. A mulher tinha pinturas espalhadas por toda sua pele visível e seus olhos incrivelmente não eram puxados. Ela com toda certeza deveria ser considerada bastarda no lugar do Kim, porque ela não parecia em nada com o Taeyang e Lucien, enquanto Taehyung era uma cópia fiel do rei e Seokjin.

A mulher graciosamente jogou seus fios andulados que se findavam abaixo dos seios para trás quando estava a poucos metros dela e sorriu de lado, liberando sua essência de propósito para que Jeongguk pudesse a temer.

Era uma mistura amadeirada com frutas cítricas.

- Você deve ser Jeon Jeongguk. - estendeu a mão fina e cheias de anéis. Jeon aceitou um pouco desconcertado por conta do cheiro forte marcando território. - Essa calça de couro lhe cai muito bem, Jeongguk.

- Como?

A mulher sorriu outra vez de lado e deu um passo pra frente. Jeongguk recuou dois.

- Achei estranho meu pai me recusar o trono quando mostrei a união que poderia formar com a China. Venho me questionando desde então o que de tão especial você tem para que Taehyung conseguisse subir ao trono. - Jisoo estalou a língua no céu da boca e em menos de dois segundos já se encontrava com o corpo colado ao seu. - Guarde minhas palavras. Eu nunca fui boa com ameaças.

Jeon abriu a boca para tentar rebater, mas não teve chance. A mulher se transformou em um enorme lobo cinza bem diante de seus olhos e seu corpo se chocou com tudo no gramado. Olhou por baixo o animal saltar sobre si como um pluma e em meio ao zumbido que o impedia de ouvir os sons viu um homem encapuzado colidir contra uma árvore.

Por ali tinha no mínimo uns cinco homens e estavam com armas brancas de vários tamanhos, desde adagas à espadas e machados.

- Não o firam! - Um homem alto gritou quando um deles o arrastou pelo pé em direção ao matagal, mas o encapuzado mal teve tempo de acatar a ordem do provável lider quando Jisoo se livrou de dois intrusos e o atacou com uma mordida antes que ele levasse Jeongguk, matando o homem no mesmo instante.

Aquela cena deveria assustar os outros três que sobraram vivos, mas logo se pôde ver mais deles pulando de cima das árvores e logo três se tornaram nove.

Por um breve momento a acinzentada banhado em sangue o encarou em uma ordem clara para que corresse para o castelo e chamasse por ajuda, mas Jeon gruiu ao ver que estava sendo o garotinho indefeso e não se conteve em se pôr de pé, posicionando a primeira flecha.

Era um dos melhores guerreiros do exército de Busan e mostraria do que era capaz.

O uivo alto rompeu os céus e todos os homens vieram com tudo para o sequestrar.

Em contrapartida Jeon correu em direção contrária e se virou a tempo de acertar uma flechada no peito do homem que erguia as mãos para atacar Jisoo pelas costas com um machado. Logo os outros se enfureceram com o que fez e pareceram mudar de ideia sobre não o ferir e deixa-lo viver.

Por reflexo Jeon conseguiu derrubar um que conseguiu o alcançar e atirar em outro com uma das adagas presa ao cinto. Jisoo nesse tempo havia estraçalhado mais dois, no entanto, agora ostentava vários machucados por todo corpo.

Novamente ela seria ferida e Jeongguk conseguiu se firmar no chão ao longe e fazer sua defesa. Atirou em todos que ousavam  se aproximar ou levantar a mão para a mulher com maestria.

E quando o último caiu, Jeon levou uma rasteira do que havia esquecido de matar minutos atrás.

Sua calça de couro foi perfurada por algo pontudo e uma dor latejante o atingiu em seu abdômen quando atingiu o solo. A dor não parecia nada na hora da adrenalina, mas assim que se virou e viu o homem sendo lançado a metros de distância pela princesa, notou que sua própria flecha tinha atravessado seu corpo e que sangue jorrava aos monte para fora.

Inutilmente tentou estanca-lo com uma das mãos e com a outra se forçou a ficar de pé, suportando toda a dor que se alastrava pela região. Deu passos cegos pela floresta enquanto tirava o espartilho da cintura para pressionar a ferida e gritou sôfrego quando o objeto foi arrancado de sua pele e o corpo  pesado erguido do chão com uma facilidade que só alfas possuíam.

- Calma, vai ficar tudo bem, vamos dar um jeito nisso antes de meu irmão ver e...

- Não. - A agarrou com força pelo braço, se sentindo tonto e prestes a desmaiar. - Me leve à Taehyung.