Capítulo 23

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Quando acordei já era de manhã.

Eu ainda estava deitada no sofá enrolada por uma coberta fina e macia, sorri por um instante com o mimo do David.

Apertei a coberta no nariz e senti um cheiro delicioso.

A casa estava limpa e arejada, não havia nenhum indício de que aconteceu uma festa.

David não deve nem ter dormido arrumando isso tudo.

Coitado, essa casa é enorme.

Em fim, tudo calmo e tranquilo no paraíso, até eu me lembrar que a minha mãe a essa hora deve está soltando fogo pelas ventas de tanta raiva de mim.

Droga!

Levantei no susto do sofá, e fui direto pra lavanderia pegar a minha roupa, e reparei que nem tinha ligado a água, ou seja, nada de roupa seca pra você, Ana.


Puta merda!

Levei as mãos na cabeça aflita.

—– Ana?

Levei outro susto com a presença inesperada do David.

—– Desculpe, eu não ter te acordado, você parecia um anjo dormindo — Ele disse sorrindo mas eu estava atordoada demais pra me comover.

—– David, que horas são?

—– Sete da manhã.

Arregalei os olhos.

—– Me leva pra casa, tenho que chegar lá antes da minha mãe acordar.

O despertador da minha mãe costumava desperta-la as oito, significa que eu ainda tenho uma chance.

—– Ok, vou pegar a chave do carro.

—– Rápido, David.

Deixei a roupa na máquina e sai às pressas sem nem pensar em nada.

David veio atrás de mim todo perdido.

....

Ele me deixou a um quarteirão de casa, desci do carro às pressas sem nem me despedir dele e comecei uma maratona frenética pra chegar em casa.

Parecia uma maluca correndo na rua.

Como já era dia, tinha várias pessoas saindo de sua casa para trabalhar, e eu me senti totalmente constrangida.

Por simplesmente chegar a essa hora, mesmo tendo consciência de que eu não fiz nada.

Só fui para uma festa escondida da minha mãe, e ingeri bebida alcoólica.

Nada demais.

Meu coração estava acelerado, meu corpo tremendo, e assim que entrei em casa, soltei todo o ar que havia em  meus pulmões.


Estava tudo muito silencioso, bom demais pra ser verdade, as luzes ainda estavam apagadas e as janelas fechadas, então sinal de que ela ainda não acordou para o meu total alívio.

Tirei os sapatos e senti um alívio imenso, pois eles já estavam machucando os meus pés, em seguida subi as escadas sorrateiramente.


Mas assim que abri a porta e acendi a luz, tive uma surpresa maravilhosa.

Merda!

Minha mãe estava sentada na minha cama, ainda de camisola, e me olhava como se eu tivesse cometido um crime.

Meu coração simplesmente parou de bater nessa hora, e as palavras se embolaram na minha garganta formando um grande nó.

Nunca tinha desapontado a minha mãe desse jeito.

Só a expressão dela foi suficiente para arrancar lágrimas dos meus olhos.

Ele ficou me olhando por alguns segundos, até eu ver uma lágrima rolar dos seus olhos, e ela enxuga-la rapidamente, ainda com os olhos fixos em mim.

Indícios de magoa profunda.

—– Mãe, eu...

—– Sabe que horas são? —  Ela perguntou com a voz firme

Abaixei a cabeça e suspirei pesadamente.

—– Você nunca passou a noite fora de casa, muito menos desobedeceu uma ordem minha — Ela falou desapontada.

—– Olha, eu posso explicar.

Como eu não sabia por onde começar comecei chorar esperando que isso fosse comovê-la.

Grande estupidez a minha, pensar nisso.

Ela continuou me olhando incrédula até seus olhos descerem para a minha roupa, e ela arregalar os olhos assustada.

Foi aí que eu percebi que ainda estava com a camiseta do David, o que não é uma boa impressão para quem passou a noite fora.

Isso explica os olhares lá fora.

—– Mãe, não é o que está pensando, foi um acidente ...eu estava em uma festa e...

Quanto mais eu tentava explicar, dificultava ainda mais a minha situação,  e pela expressão dela era evidente que qualquer coisa que eu dissesse seria usada contra mim, então resolvi ficar calada remoendo a minha culpa.

Depois de chorar e soluçar, o que partiu meu coração, ela parou rapidamente e me olhou zangada.


—– Você está de castigo, vai passar o final de semana inteiro dentro da merda desse quarto, sem tv, sem celular, e pode ir passando ele pra cá — Ela estendeu a mão sem me olhar.


Eu pude ver o quanta minha atitude irresponsável a decepcionou, então resolvi fazer o que ela me pediu, passei por ela e peguei o celular que estava dentro da gaveta.

E quando estendi ele para ela com a mão trêmula, ela o agarrou bruscamente, me assustando com sua reação.

Meu coração disparou e meus lábios tremeram.

Ela olhou profundamente nos meus olhos. Engoli a seco com medo da sua reprovação.

—– Seja lá quem forem os seus amiguinhos novos, quero você bem longe deles, menos do Simon,  sei que ele é um bom garoto — Ameaçou — Mas o resto eu não quero você nem andando com eles na escola, e isso também serve para o vizinho, não é alguém que se possa confiar, esse garoto vem enchendo sua cabeça de minhocas....   

Enquanto ela falava um monte pra mim, escutei calada, porque eu não estava em uma boa posição pra  defender ninguém.

—– Você entendeu? — Ela me sacudiu pelo braço. E eu assenti balançando a cabeça, assustada, nunca tinha visto a minha mãe agir desse jeito.

Ela soltou o meu braço.

—– Mãe, me perdoe, por favor.

Ela não disse nada, apenas me olhou de cima a baixo horrorizada, em seguida saiu batendo a porta.

Fiquei parada em estado de choque, tentando assimilar o que tinha acabado de acontecer.

Meu coração aos poucos foi se acalmando e eu deitei minha cabeça no travesseiro e automaticamente as lágrimas começaram cair.

DesilusãoWhere stories live. Discover now