Capítulo 42

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No dia seguinte, depois de arrumar a bagunça no meu quarto, sem a minha mãe perceber, decidi ir até a casa do Simon.

E quando eu estava prestes a bater na porta da casa dele, ele abriu de repente, revelando uma expressão confusa e ao mesmo tempo surpresa.

—– Bem na hora.

—– Ana? quando você chegou? —  Ele virou o rosto na direção da minha voz.


—– Está feliz em me ver? —  Brinquei

Ele abriu um meio sorriso sem rendendo a piada.

—– Bom, tem um bom tempo que eu não te vejo,  então... — Ele riu — Mas, e aí,  como você está? Sua mãe veio aqui te procurar outro dia, ela parecia bem  desesperada...

Não respondi apenas o abracei forte, porque eu estava muito feliz em revê-lo,  e ver que ele não guardou tanta mágoa de mim como os outros

Mas ele não correspondeu ao meu abraço como eu gostaria, ao invés disso se afastou e abriu um sorriso sem graça, coisa que nunca tinha feito antes.

—– Simon, o que foi?

—– O que foi o que? — Ele retrucou nervoso.

—– Por que está assim comigo?

—– Assim como, eu estou normal..

—– Ah, deixa pra lá, vamos dar uma volta?

—– Ana, eu não..

Sua mãe surgiu inesperadamente atrás dele, o fazendo repensar nas palavras que ia dizer.


—– Me desculpe Ana,  mas o Simon não vai a lugar nenhum com você — Ela falou seca

—– Oi, Sra Sullivan, e só um passeio, pode deixar que eu vou cuidar bem dele — Falei sorridente apesar dela não parecer nada contente com a minha presença.


—– Não está em condições de cuidar nem mesmo de você...

—– Como?

—– Eu sei de tudo, Ana, das bebidas, do que você fez..não pense que serei louca de permitir que o meu filho ande com você....

—– Mas...

Um nó se formou na minha garganta me impedindo de dizer qualquer coisa.

—– Mãe...

Simon tenta conte-la, mas ela o repreende. E continua dizendo coisas horríveis para mim .Como se o meu problema com bebida fosse a coisa mais abominável do mundo.

—– Não Simon, ela tem razão, eu sou uma ameaça pra você...melhor eu ir embora — Dei de ombros.

—– Pelo menos você reconhece — Ela disse pelas minhas costas.

Meus olhos se encheram de lágrimas,
assim que o meu coração foi esmagado pelo peso daquelas palavras.

Eu queria me virar e dizer a ela, que vim com a intenção de me recuperar, de tentar mudar, mas ela parecia estar  certa de sua decisão, e talvez eu fosse mesmo uma ameaça para o Simon, já que ele era cego e dependia totalmente de mim para orienta-lo.

Nenhuma mãe iria querer o seu filho andando com uma bêbada compulsiva.

Segui com os meus passos, cabisbaixa e amargurada, decidindo ir afogar minhas mágoas no lago, já que era o único lugar que eu poderia ir sem ninguém ficar me julgando.

Sentei na pedra próxima a ele, e encarei de frente a minha triste realidade, abandonada e sem amigos, agora uma ameaça para vida das pessoas.


Eu não deveria nem ter voltado pra casa, deveria ter ficado pra morrer na rua.

Peguei a bolsa que havia trago escondida da minha mãe, abri o zíper e retirei  de dentro uma garrafa de vodka e despejei na boca.

Sentindo o líquido queimar.

Eu sei que eu meio que prometi pra minha mãe que eu iria lutar por mim, e que iria parar de beber, mas ninguém para de beber do dia pra noite, e é muito difícil vencer essa batalha, e eu tenho duas escolhas,  encarar o problema de frente e enfrenta-lo, ou fugir dele, evitando qualquer estresse ou frustração.

Mas não importa pra onde eu vá, os problemas sempre irão comigo. Porque se você não os enfrenta, eles se acumulam e fica cada vez mais maiores e mais difíceis de resolve-los.

—– Quero que vão se ferrar, todo mundo, não preciso deles, eu sei me cuidar sozinha e vou sair dessa, sozinha — Falei um pouco transtornada — Aquele imbecil vai pagar caro, por ter me deixado...quando eu encontrá-lo, eu vou...


Por impulso, eu me levantei um pouco tonta e arremessei a garrafa na água, perdendo assim o equilíbrio e caindo direto no lago e como eu não sabia nadar,  e por está desorientada por conta da bebida, acabei me afogando.

Depois de um tempo, me debatendo, engolindo litros e mais litros de água, afundei totalmente perdendo assim essa batalha.

Mas algo surreal aconteceu, subitamente senti uma mão me agarrar e me puxar de volta para superfície.

Comecei me arrastar sobre as pedras,
e a tossir sem parar, expelindo toda a água que eu havia ingerido, e quando olhei em volta e vi que não havia ninguém além de mim, ali.

—– Pai? — Chamei,  mas não escuto nada além do canto dos pássaros,e o barulho do vento balançando as árvores.

—– Eu sei que está aí, porque não quer aparecer desta vez?

Outra vez o silêncio, logo senti a insegurança e vulnerabilidade me amedrontar.

—– Pai, aparece, eu preciso de você — Falei entre lágrimas de desespero, tropeçando nos próprios pés, e caindo.


Por fim, eu me deitei no chão e fiquei  ali por alguns minutos, observando o céu azul de poucas nuvens, perdida em meus pensamentos conturbados.

Então eufórica, eu comecei a cantar do nada, uma canção que eu ouvia quando criança,  que o meu pai cantava pra mim nas noites tempestuosas de insônia, uma melodia doce que me proporcionava alguns instantes de paz.


E por um momento todo aquele medo e frustração desapareceu de vez e eu fechei os olhos permitindo que uma lágrima rolasse.

DesilusãoWhere stories live. Discover now