Capitulo 40

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Enfim estou aqui, perdida e sozinha com um vazio imenso no peito que não posso preencher. Vivendo um dia após o outro sem expectativas, sem ânimo e sem esperanças.

Dias intermináveis de dor.

Então pra que viver?

Se eu não tenho mais nada, não tenho mais ninguém pra me dizer "Não Ana a vida é bela, resista".

Então ninguém irá sentir minha falta se caso eu...desaparecer.

O dia que o David morreu foi o segundo pior dia da minha vida, o terceiro foi quando Liza se recusou falar comigo, não quis me perdoar e me chutou da casa dela, como se eu fosse uma cadela vira lata, e depois disse as piores palavras que eu já ouvi na vida.

"Eu não quero mais te ver...nunca mais."

Até hoje essa frase está gravada na minha mente, e a vontade que eu tenho é de arranca-las a força da minha cabeça.

Queria deixar de sentir.

De existir.

E o pior dia de todos, é a origem de todos os outros. O meu tão ingênuo amor, destruído por um cara alto, loiro de olhos verdes, que costumava intoxicar as minhas noites com a fumaça do seu cigarro, que tinha um dom de me desmontar e de me levar do chão ao céu em segundos.

Um cara que antes foi o motivo da minha alegria, e hoje está sendo o motivo da minha tristeza e da minha desordem emocional.

E eu não quero viver mais nenhum dia com essa dor, remoendo essa mágoa, essa culpa que insisti em me torturar.

Bebo o último gole de bebida antes de me levantar do chão e caminhar até uma ponte próxima.

—– Não faz isso filha — Sinto uma voz soprar em meu ouvido.

E uma lágrima rolou pelo meu rosto.

—– Minha vida não tem mais sentido pai, eu estraguei tudo, e jamais vou conseguir superar — Falei com os olhos encharcados .Você disse pra mim ser forte, mas eu não consigo, e eu tentei, sabe, eu tentei de todas as formas, e isso só fez piorar...e a dor não quer parar, e eu preciso que ela pare..


Olhei para aquela ponte como se fosse a minha única solução pra acabar com tudo.

—– Ela tem que parar — Sussurrei anestesiada pela sensação de alívio que estou prestes a sentir.


Talvez assim ela pare e eu não precise mais sofrer, nem fazer ninguém sofrer. Ninguém irá sentir minha falta, será uma morte menos dolorosa do que beber dela todos os dias e morrer lentamente.

—– Não, meu amor, resista mais um pouco, você vai conseguir, eu acredito em você, você é forte.

Ignorei a voz fúnebre do meu pai e continuei andando rumo ao meu objetivo.

Não tem mais nada que me prenda aqui, tudo que sinto é um grande vazio que jamais será preenchido, além de uma dor que jamais vai ser curada. Eu posso tomar todas as bebidas do mundo que as memórias continuaram lá me atormentando e a ansiedade me sufocando.

Eu não aguento mais.

E talvez seja melhor assim.

Senti a sombra de um sorriso se formar nos meus lábios,  sonhando com a grande possibilidade de não sentir mais dor, de não ter mais que acordar com o aperto no peito, a respiração ofegante, a tristeza que me deixa amargurada e que inibe minhas forças.

Acelerei os passos até o centro da felicidade, mesmo com medo e com receio da decepção, eu me sentei ali e vislumbrei a imensidão do mar.


E no meio dessa incerteza me veio um flashback de todas as memórias boas e ruins que eu vivi na minha vida, e que me renderam muitos sorrisos assim como lágrimas.

Se eu me jogar, meus problemas acabam.

E talvez nunca encontrem meu corpo, vai ser como se estivesse desaparecida, as pessoas que me conhecem vão sofrer mas sei que não vão morrer por conta disso, elas vão esperar, esperar até que eu volte.

Como a minha mãe.

Ah mãe, eu sinto muito, eu te desapontei tantas vezes, e jamais vou me perdoar por isso.

Me desculpa por tudo e por isso.

Fechei os olhos e pulei, sentindo meu corpo se despedaçar no ar, rumo ao esquecimento.

E o impacto na água foi tão forte que senti os estalos dos meus ossos quebrando e o último suspiro sair da minha boca, junto com o sangue causado pela a hemorragia interna.

Assim colocando um fim a uma vida e sonhos que nunca realizei, as oportunidades que nunca aproveitei, as chances que eu teria de me reerguer e de me fortalecer.

.....

E no meio dessa agonia, eu abri os olhos e vislumbrei novamente o mar, dessa vez mais azul e mais intenso, e percebi que esse ainda não é o meu fim.

Não acredito que eu cheguei a esse ponto, eu não acredito que me deixei levar por um instante.

A dor é insuportável e qualquer meio de para-la é aceitável, mesmo que seja a morte.

Mas a morte é o começo de infinitas dores e de culpa. Quando você se mata, você automaticamente mata outras pessoas.

Pode ser que a proposta seja tentadora, de uma vida feliz sem dor e sem sofrimento, mas do que adianta se salvar do barco, e deixarem os outros morrerem afogados.

E de repente tudo começou fazer sentido pra mim, tudo pareceu importante, e não mais a minha dor.

O sorriso da minha mãe em minha memória é importante pra mim, o meu pai dizendo pra mim me levantar sozinha aquele dia foi importante pra mim.


Eu não posso ser ingrata a ponto de ignorar tudo isso, de permitir que a dor me consuma, e a tristeza cubra meus olhos a ponto de não enxergar que o fato de eu está passando por isso seja necessário pra minha evolução, meu pai quando morreu deixou esse desafio pra gente, tudo mudou depois disso.


E talvez eu não estava preparada para uma decepção tão grande, mas não significa que seja o fim, eu sei que um joelho ralado em uma queda de bicicleta nem se compara a uma coração partido, mas a lição é a mesma, eu preciso me levantar sozinha e segui com essa ferida até que ela cicatrize e vire uma memória, uma memória de uma dor que doía muito, mas que agora não dói mais.

E eu já sei por onde vou começar a minha mudança.

DesilusãoWhere stories live. Discover now