Fim

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Quando eu estava fazendo as malas, acabei deixando uma camiseta cair  no chão, e quando fui apanhá-la os meus olhos automaticamente se encheram de lágrimas, pois se tratava justamente da camiseta preferida do David.

O que foi motivo de uma grande confusão na época, hoje é um símbolo de uma perda inexplicável.

Eu nem tinha me dado conta de que ela ainda estava comigo.

Peguei a mesma e a abracei forte em meu peito, inalando profundamente aquele perfume que, por incrível que pareça, ainda estava nela, desejando senti aquele abraço único que só ele tinha, um abraço que me tirava do chão e me levava às alturas. Por um momento eu fechei os olhos, e foi como se ele estivesse mesmo me abraçando.

Como eu sinto falta dele.

Coincidentemente eu encontrei a liza, um dia desses, ela estava diferente, seus cabelos avermelhados estavam compridos, chegando a base da coluna, ela nunca os deixaram crescer, seus olhos verdes estavam mais intensos do que nunca, e seu rosto havia ganhado traços um pouco mais maduros, além do seu corpo esbelto.

Assim que ela me viu, me abraçou fortemente.

—– Ana, quanto tempo?

E eu que pensei que nunca ouviria ela dizer o meu nome depois de tudo que aconteceu, só o fato dela ter olhado pra mim e ter me reconhecido já era muito gratificante.

Na verdade, a liza não ter falado comigo no dia que o David morreu, provocou em mim uma espécie de ressentimento, que me fez pensar que talvez ela me culpasse pelo o ocorrido, então eu não a procurei depois disso, provavelmente com medo da sua rejeição.

Mas para a minha total surpresa, ela me levou para sua casa, que era um apartamento pequeno, porém bem organizado, localizado no centro da cidade.

Ela me contou que foi embora porque não suportava mais o desprezo do pai, e que decidiu trabalhar pra não ter que depender do dinheiro dele.

Quando conseguiu juntar dinheiro o suficiente, ela voltou e comprou um apartamento.

Quando ela disse isso, vi a sombra de um sorriso de alívio se formar em seus lábios, parecia uma conquista e tanto pra ela ter fugido da opressão do pai.

Eu também contei algumas coisas pra ela, contei sobre minha vida amorosa fracassada, e contei que vou voltar para a minha antiga cidade com a minha mãe, pra ficar perto da minha avó que está muito doente, e também porque terminei a faculdade e estou pensando seriamente em arranjar um emprego.

E também porque não há mais nada que me prende naquela cidade, tudo que eu tinha que viver e aprender eu já vivi e aprendi, agora só o que me resta é seguir em frente.

Ela ficou feliz por ouvir isso, e disse que estava orgulhosa de mim.

Mas é claro que o principal assunto não poderia deixar de ser falado, quando chegou a parte de falar sobre o David, quase não conseguimos, pois ambas choramos muito. Liza contou que nunca me culpou pelo o acidente, muito pelo contrário ela sempre se sentiu culpada, ela disse que teve centenas de oportunidades de contar pra ele as suas dúvidas e receios, e mesmo assim preferiu esconder.

Hoje ela se arrepende amargamente por ter de certa forma provocado a morte dele, e falou que daria tudo para trazê-lo de volta, disse também que sofreu muito por essa perda, e que passou um tempo tomando remédios e passando em vários psicólogos, até conseguir seguir com a sua vida normalmente, ela confessou que não fez nada daquilo por mal, e que bebia muito, porque era uma adolescente confusa e problemática que nunca perdoou a mãe por ter a abandonado, e nunca teve o amor de um pai.

DesilusãoWhere stories live. Discover now