Capítulo 43

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Dois meses depois...

Hoje a ressaca acordou junto comigo. Levantei da cama e mastiguei uma bala de hortelã pra disfarçar o hálito, em seguida desci para cozinha, tomei um copo de leite gelado e segui para o lado de fora da casa para pegar um sol.


Minha mãe acha que eu estou frequentando as reuniões do grupo de apoio que ela sugeriu, e bom, eu juro que tentei, mas não é tão fácil se livrar de um vício, mesmo você se esforçando horrores.


Na verdade, eu uso as reuniões como desculpa pra sair pra beber, sem que ela desconfie de nada, e apesar de  me sentir culpada por isso, não faço nada pra melhorar.


Penso que já que eu estou na merda, vou permanecer.


Percebi que me tornei um ser irracional. Tomando decisões baseadas no meu próprio prazer, sem pensar nas consequências. E sempre que sou colocada contra parede a primeira reação é negar, negar até a morte.


Sem contar que quando questionada, eu sempre jogo na defensiva, me vitimizando por tudo.


A noite depois do jantar, eu esperei minha mãe dormir pra fugir novamente, mas pra minha surpresa ao descer a escada, eu me deparei justamente com ela parada, me encarando da porta, ela estava extremamente decepcionada.


—– Ah, oi mãe — Falei sem graça, parando em um dos degraus da escada.



Ela trancou a porta, em seguida se aproximou de onde eu estava e olhou no fundo dos meus olhos.


—– Aonde você pensa que vai? —  Perguntou duramente.


—– Na casa de uma amiga...que fiz lá no grupo, sabe...ela tá tendo problemas, e eu...


—– Qual grupo? — Ela me interrompeu — O que você não frequenta mais? porque eu passei por lá depois do trabalho... para ver como você estava indo, e me disseram que você só foi a cinco reuniões...e depois nunca mais compareceu, e eu não vou nem perguntar o que você andou fazendo durante esse tempo que esteve fora, porque é perigoso eu enfartar....e eu aqui crente de que você estava se recuperando.... como nunca percebi isso.



Ela suspirou indignada, e logo vieram as lágrimas de decepção em seus olhos, e por mais estranho que pareça, isso não me comoveu nem um pouco,  porque só o que eu conseguia pensar era em como faria para tirar as chaves da mão dela sem machuca-la dessa vez.



—– Ana, está prestando atenção? — Ela perguntou notando minha inquietação, e eu direcionei o olhar pra ela.


—– Sim, e eu sinto muito...eu não consigo parar de beber.. é mais forte do eu...eu estava indo no grupo...mas eles não apresentavam nenhuma solução imediata...era só conversa fiada, dinâmicas, eu estava surtando...desculpa mãe, mas eu só... não consigo.


—– E como você compra bebidas? porque eu parei de deixar dinheiro pra você... porque já que você quer se matar...eu não quero fazer parte disso de nenhuma forma  — Ela soltou com um misto de tristeza e raiva.

—– Eu tenho alguns... contatos.


Ela soltou uma risada irônica que me assustou, e depois voltou a ficar séria.


—– Contatos? —  Você não está se prostituindo não né? Porque se você estiver...


—– Que? Claro que não, mãe, que absurdo...


—– Porque isso seria demais pra mim...você vai acabar me matando, sabia?


Ela sentou no último degrau e enterrou o rosto nas mãos. Suspirei fundo, e desci lentamente a escada, e me sentei do seu lado afim de acalma-la.


—– Mãe, não fica assim, eu ... eu vou parar...


—– O problema é que você sempre diz isso...e nunca para — Ela me olhou sem esperanças.


—–  Não, escute...deixa eu ir na casa da minha amiga...ver ela, aí depois...— Falei tentando arrancar as chaves da mão dela com cautela.


—– Não.


Ela se levantou e foi para o meio da sala, subitamente senti raiva crescer dentro de mim, então eu partir pra cima dela dominada pelo impulso, e tentei a todo custo tirar a chave dela. Ela resistiu até um certo ponto, mas logo caiu porque sua força é menor comparada a minha.



Por um instante, eu olhei para ela, enfurecida, caída no chão, e só assim eu me comovi ao ver as lágrimas de desespero jorrar dos seus olhos, mas ao invés de ajudá-la se levantar, eu simplesmente passei por ela e abri a porta.


Sai dali vencida pela vontade incontrolável de me auto consolar.

DesilusãoWhere stories live. Discover now