Proteção

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O ambiente era silencioso, a única coisa que se dava para ouvir, era o som de papéis junto dos lápis e canetas batendo sobre a mesa, e claro, as respirações calmas que mesclavam-se umas às outras.

A professora desenhava algo na lousa, alguns cálculos para serem resolvidos naquela hora e alguns para fazermos em nossos dormitórios. Sentia minha cabeça latejar um pouco, passaram-se uma semana desde que cheguei aqui, e nunca consegui ter uma boa noite de sono, era sufocante.

Observei o céu do outro lado da janela, estava cinza e nublado, o inverno estava chegando, finalmente.

Todos os anos nessa época, fazíamos reuniões familiares e reencontravamos parentes distantes que nunca mais tínhamos visto, enquanto desfrutarmos de um chocolate quente em frente a lareira de nossa casa, uma boa época. Era uma pena que nunca mais sentiria essa sensação acolhedora novamente.

Suspirei aliviado quando o sinal tocou anunciando o fim daquela aula. Saí da sala já com um destino em mente conhecido mais como meu quarto, era o horário de almoço mas eu não estava com muita fome mesmo que não tivesse encostado no café pela manhã.

Desde o primeiro dia, poderia dizer que nada mudou. A isolação do meu interior ainda era presente, uma armadura permanecia ainda mais forte do que antes, graças às oscilações que todos pareciam carregar ao meu redor.

Era inevitável carregá-la para onde quer que eu fosse, como um amuleto.

Talvez aquilo fosse essencial para todos, não podemos dizer quando vamos encontrar coisas novas que podem nos levar ao delírio de ser algo propício quando na verdade, não é.

Subitamente, ouvi sussurros estranhos ao longe. Parei os passos por cima da madeira maltratada pelo tempo, cessando a caminhada, até ouvi outros os substituirem, estava se aproximando.

Me virei contra uma das enormes esculturas em formato de anjo, me escondendo e encobrindo minha sombra.

⸺ Você conseguiu, certo?

Eu sabia que não deveria estar ouvindo a conversa dos outros, até mesmo desaprovava tal comportamento, mas foi tudo tão rápido que nem tive muito tempo de pensar direito... E não era como se tivesse escolha, de qualquer forma, era tarde demais para sair dali a tempo.

Reconheci uma das vozes presentes ali, uma que só ouvira uma vez, mas que foi suficiente o bastante para fixar em minha mente instantaneamente, e quanto a outra, se mostrava incógnita.

⸺ Sim, não faz ideia do quanto foi difícil conseguir isso. Preciso de uma grana maior, eu quase fui pego pela enfermeira. ⸺ Disse segurando uma caixa pequena de remédios.

⸺ A quantidade que te dei não foi o suficiente? ⸺ Suspirou quando o outro negou, balançando a caixinha na mão.

⸺ É pegar ou largar.

Franzi as sobrancelhas tentando decifrar o intuito daquela conversa, do que eles estavam falando? Tentei observar pela pequena brecha através do mármore, o moreno parecia estar ponderando sobre o pedido do outro, enquanto este parecia pouco despreocupado.

⸺ Tudo bem, tome. ⸺ lhe estendeu mais uma bola de dinheiro. ⸺ Agora me dê.

O objeto foi entregue em sua mão pelo outro, que sorria de canto satisfeito, sumindo pelo corredor vazio e extenso.

Cogitei uma pequena hipótese, algo impossível mas... Por acaso aquilo era...

Um barulho alto soou naquele lugar até então silencioso, assustado, olhei para trás vendo que sem querer, havia derrubado uma das esculturas de uma das prateleiras postas ali enquanto espiava.

𝐅𝐀𝐋𝐋𝐈𝐍𝐆 𝐃𝐎𝐖𝐍 | heehoonWhere stories live. Discover now