Restauração

556 88 15
                                    

Eu estava no quarto de Jisung naquele momento. Ele tinha Mark ao seu lado enquanto ainda lidavam com os acontecimentos de poucas horas atrás. O clima era frio, tenso, as paredes pareciam se fechar a cada segundo, como se carregassem o intuito de nos sufocar.

Era essa a sensação predominante no momento, a de sufocamento, era inevitável.

Jisung havia me dito palavras duras, e que doeram só de pensar no que ele quis dizer com aquilo tudo. Ele me disse que não saberia se valeria a pena continuar com aquela situação, e que sabia que uma hora ou outra, tudo iria desabar e que ele não iria mais fazer questão de tentar resistir das próximas vezes. E embora eu quissese pedir para que ele parasse de pensar dessa forma, não poderia negar que eu sentia o mesmo.

⸺ Ainda está doendo? ⸺ Ele peguntou para o garoto ao seu lado. Preocupado com o uso dos equipamentos de choque usados na terapia.

⸺ Não, mas eu queria dizer que eu sinto muito, Jisung... Eu não queria que isso estivesse acontecendo. ⸺ Ele disse, estremecendo ao lado do namorado.

⸺ A culpa não é sua, Mark! Pelos céus, se realmente existir um Deus acima de nós, seria impossível negar o quanto orei por você, para que ficássemos bem.

⸺ Foi horrível, porque não podemos ser quem somos? Por que temos que mudar as coisas dessa forma? ⸺ Senti meu peito doer.

⸺ Eu não sei, amor... Mas eu prometo que não te deixarei sozinho, eu juro pela minha vida. ⸺ Jisung limpou suas lágrimas, sei que ele estava tentando ser forte, embora estivesse destruído por dentro.

Assim que pude ouvir a conversa dolorosa, e observar o forte abraço cheio de medo entre ambos, sequer pude formular alguma frase em minha mente. Eu me sentia mal por vê-los daquela forma, era como se tivéssemos acabado de aceitar aquilo que já sabíamos que seríamos forçados a fazer, e eu sabia que depois de hoje, os dois não seriam os mesmos de antes, e nunca voltariam a ser porque situações desse tipo costumam deixam marcas sobre nós, nesse caso não só físicas como em nossas almas, e acredite, não há região mais sensível do que esta.

Após sairmos do quarto, sendo apenas eu e Jake, a fim de darmos privacidade aos dois garotos por um breve período de tempo suficiente para não serem pegos outra vez, acredito que explicar à Niki a seguinte situação seria uma das coisas mais difíceis, isso porque ele era novo, e meu coração doía só de imaginá-lo em uma situação parecida. Até mesmo eu não havia digerido tudo por completo.

O garoto ao meu lado até então não havia dito mais nada depois de mais cedo, quando estávamos em meu quarto junto de Heeseung. Porém, não era tão desconfortável, porque no final das contas, sei que Jake apenas queria nos ajudar, caso contrário ele se sentiria culpado mesmo quando não deveria.

Decidi sair um pouco para tomar um ar, fazia um bom tempo que eu não fazia isso. Quem sabe, eu pudesse colocar alguns pensamentos em ordem na minha mente tão bagunçada. Era como um baralho, as cartas estavam tão bem embaralhadas de maneira que fosse difícil encontrar aquela única carta capaz de reverter o jogo, ou como um xadrez bagunçado, onde o rei estava encurralado sem nenhum peão ao seu lado para auxiliá-lo.

Eu estava no jardim atrás do pátio principal. Não havia ninguém por perto por ser já tarde da noite, embora o horário de recolhimento ainda não tivesse chegado. Me sentei em um dos bancos e fiquei observando as estrelas, eu costumava fazer um pedido para elas junto de Daehyun, e era engraçado imaginar que todos as nossos pedidos eram bobos e superficiais. Éramos ingênuos e hoje em dia, o que eu mais queria era que esses tempos voltassem.

Ouvi passos se aproximarem de mim, não me virei em sua direção e muito menos me senti apreensivo com sua presença. Eu o reconhecia, sabia quem era apenas pelo som de seus passos e a sua sombra tão bem desenhada. Ele se sentou ao meu lado, o encarei. Ele não me olhava.

𝐅𝐀𝐋𝐋𝐈𝐍𝐆 𝐃𝐎𝐖𝐍 | heehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora