• Capítulo 3 •

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Trysney | 2023

Ela ouvia o barulho da chuva batendo na janela de seu quarto, o som a acalmando e a deixando sonolenta. Havia trabalhado tanto naquela semana que tudo o que queria poder fazer era alargar o fim de semana por mais uns dias.

Ser veterinária era perfeito tirando a parte que você ficava cada vez mais cansada, mais cheia de compromissos mas claro, mais rica.

Segunda-feira. São sempre longas, exaustivas e desanimadoras.

Natasha queria dormir, mas se levantou, calçou as pantufas e atravessou o corredor para o quarto de sua filha. Sua filha. Sua.

Sarah estava com o corpo esticado e esparramado na cama, a coberta abaixo dos suvacos. Nat reprimiu a vontade de deixa-la dormir pelo resto do dia, porque aquela carinha angelical adorava dormir, e se sentou na cama.

— Bolinho, hora de acordar — ela chamou, acariciando os fios loiros da criança.

— Mãe — Sarah não abriu os olhos, não mexeu nada além da boca — Odeio segundas.

— Sei disso, e concordo — Natasha arrancou a coberta de cima da garota, deixando o acúmulo de tecido nos pés da cama. Sarah resmungou mais uma vez que odiava segundas — Está muito desanimada, filha. Olhe na janela — incentivou ela, levantando e puxando as cortinas azuis para o lado — Chuva.

Um fato interessante era que Sarah amava chuva. Odiava raios e trovões mas amava chuva. Ela passava minutos e minutos, escutando os pingos caindo na calçada da garagem, observando as plantas e flores serem molhadas e cuidadas pelas gotas pesadas de chuva. E sentava perto de uma janela meia aberta, só para sentir aquele cheiro de terra molhada enchendo suas narinas.

Nunca se teve uma explicação exata para isso, mas Natasha também tinha um apego pela chuva. Talvez porque um dos melhores momentos de sua vida toda, acabou acontecendo sobre céu fechado e chuva grossa.

Memórias podem ser como facas, te empunhalando seguidamente enquanto você está chorando e sanguando sobre seus joelhos. Memórias te abraçam e dificilmente se afastam por completo.

— Está perfeito. Sem trovões ou raios assustadores. Só a boa e velha chuva — completou Sarah, abraçando a cintura da mãe.

— O que acha de, mais tarde, chamarmos a tia Yelena para uma sessão filmes? — Natasha sugeriu enquanto descia as escadas ao lado da filha.

— Acho maravilhoso! Podemos chamar a tia Wanda também, né?! E a tia Maria sempre faz a melhor pipoca! — ela se animou, praticamente gritou pra Deus e o mundo — Mas mãe, o seu trabalho...

— Não se preocupe com isso, bolinho. Por mais estranho que seja eu ter um horário vago no primeiro dia da semana, minhas consultas com animaizinhos acabam antes das sete — a tranquilizou sorridente.

A cabeleira loira saiu correndo com um sorriso enorme no rosto. Ela queria ir para escola logo, para o tempo passar rápido e no final da tarde estar com sua mãe.

Natasha fazia de tudo para conciliar trabalho e filha, de tudo mesmo. Mas os horários eram difíceis, então bastava aproveitar essas brechas que apareciam às vezes.

Sarah já estava acostumada com a rotina turbulenta. Ela estudava de manhã, almoçava com Yelena ou com Wanda, depois ia para a aula de piano. Perto do final da tarde, ela fazia lições e treinava artes marciais. Natasha a buscava nos finais das aulas e elas iam embora juntas.

Só que hoje, não. Hoje Sarah esperaria pela mãe, na sala de piano de Jeff. Eles eram amigos. Jeff e Rick foram os amigos feitos por Natasha em Trysney. Principalmente o último.

Sua filha, Sarah | RomanogersWhere stories live. Discover now