• Capítulo 52 •

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Trysney | 2027
→ Natasha 

— Então você brigou com o seu marido porque ele mandou um lanche muito sem graça na lancheira da sua filha? 

Eu encarei as paredes brancas cheias de quadro na minha frente e ignoro o olhar descrente que a mulher lança em mim. 

— Também. Ele errou o ponto da minha carne hoje — comentei, olhando minha unhas.

— Natasha, durante todos esses anos que você passou comigo, você nunca reclamou de verdade do seu marido — ela anotou algumas merdas naquela caderneta do diabo e ficou esperando que eu dissesse algo — O que realmente está acontecendo?

— Combinamos que quando os pequenos fizessem três anos, faríamos uma viagem para New York — ajeitei minha coluna — Mas a porra da nova agente dele aparentemente não sabe ler uma agenda e marcou um evento no dia que viajariamos.

— Aí está — ela disse conclusiva — O motivo é o ciúmes.

— Claro, aquela piranha de cabelo roxo acha que tem o direito de discutir comigo — bati as mãos na coxa indignada — O Steve ainda tem a cara de pau de pegar o almoço dela.

— Segundo você, ele simplesmente não percebe e é uma boa pessoa — rebateu ela.

— Eu fico me lembrando disso a cada segundo que posso, mas é difícil! — xingou em russo e decaio os ombros, cansada de tudo — Esse mês… é difícil pra mim.

— Fale mais, Nat — incentivou.

— Há quatro anos atrás minha melhor amiga morreu, e há três anos atrás eu entrei em trabalho de parto — eu murmurei aquilo, não conseguia falar mais alto porque quanto mais alto fosse, maior a dor — Setembro é o mês em que choro de felicidade e de tristeza. E pra piorar, tem uma vagabunda se jogando no meu marido, aliás, várias vagabundas, mas essa em especial está me tirando do sério — esfreguei as palmas das mãos nos olhos — Ainda por cima, eu estou no período fértil.

— Não deve ser fácil comemorar o aniversário dos filhos enquanto sabe que uma pessoa querida faleceu na mesma semana — ela deixou o caderno de lado e enlaçou as mãos — Sinto muito.

— Você já disse isso, várias vezes. Não faz ela voltar, não faz ninguém voltar — interrompi afiada — Eu sei que estou insuportável, mas ele podia ser mais compreensível.

— Eu entendo sua dor, você luta contra o luto desde que nos conhecemos — ele ajeitou o óculos com sutileza — Assim como Steve. Me disse uma vez que ele faz aniversário no mesmo dia que a mãe morreu, não deve ser fácil.

— Ele é muito azarado, eu diria. Mãe morta no dia do aniversário, amiga morta no aniversário dos filhos — a palavra saiu de minha boca com muito esforço — Nós somos quebrados, de maneiras diferentes. E eu venho tentando… fazer de tudo para que Sarah não me odeie. Ela está feliz agora, mas o que acontece quando ela crescer e entender que os anos sem pai foram culpa minha? 

— Aconteceu quando ela era muito nova, talvez ela não tenha lembranças concretas sobre isso — a doutora Mantis tentou aliviar minha tensão, mas nós sabíamos que aquilo podia ser completamente ao contrário — Caso ela lembre, tenho certeza que vai estar madura o suficiente para entender os dois lados, o seu e o do pai. Steve a perdoou, com sua filha não será diferente.

— Exceto que será — repliquei, pressionando os lábios e dando um sorriso amarelo — Sarah tem o meu sangue, a minha criação. Nós, Romanoff's, somos teimosas e arrogantes, não admitimos falhas pessoais. Eu a criei para questionar as coisas, para se defender bem e para atacar melhor ainda — sorri verdadeiramente, nesse tópico eu tinha orgulho — Quanto mais crescer, menos vai precisar de mim. Vai andar com os próprios pés e vai me enfrentar quando for necessário. Isso vai me encher de orgulho, vou saber que não criei uma fraca.

Sua filha, Sarah | RomanogersWhere stories live. Discover now