• Capítulo 51 •

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Trysney | 2023

O luto modifica as pessoas. As fazem ter pensamentos mais sombrios, medo de mais coisas, gatilho com outras. Constrói uma nova pessoa e essa nova personalidade talvez não agrade muito. 

Uma semana após o velório de Laura, Natasha acordou com os olhos cansados, como se o tempo que tinha dormido fosse nada. Sentiu a boca seca e estava com fome. Ela passou a mão nos olhos, tirando remelas e tentando mantê-los abertos. 

Clint e ela tinham argumentado por cerca de duas horas sobre a ida de Lila, ambos concordando que não era o melhor para a família. Mas Natasha acrescentou que poderia ser o melhor para ela. Afinal, ela tinha feito o mesmo mais nova. Concordaram em ficar quatro meses na Itália, com supervisão de uma amiga de confiança de Nat.

Lila havia partido há quatro dias, corajosa e certa de sua decisão. Como madrinha, Natasha aplaudia a sobrinha indo atrás de seus sonhos no mundo da arte. Laura estaria orgulhosa da filha.

Seu coração doeu quando lembrou da amiga, o sofrimento que seria recente pelo resto da vida. Ela se perguntava por que sempre as melhores pessoas tinham que morrer. Se existisse um Deus, por que diabos ele não a deixava em paz com sua família? 

Ela verificou o horário no despertador ao seu lado e suspirou pesadamente, engolindo a nova onda de choro que subia por sua garganta. A vida precisava continuar.

Fez força para se levantar, mas o peso dos braços de Steve ao seu redor a impediram de sair. Ele estava assim desde o funeral, era como se seu abraço a protegesse de tudo. 

— Você não precisa sair se não estiver preparada — as cobertas e o corpo de Steve eram o que a mantinham aquecida, se dependesse de seu próprio corpo, ela estaria fria como gelo.

— Então eu não sairia nunca — ela respondeu, apertando os dedos dele — Eu preciso. Nós precisamos.

— O que você precisa é descansar. Pegue uns dias de folga do trabalho, feche a clínica e vamos ficar mais um tempo em casa — ele beijou o pescoço exposto, fungando do cheiro de sua mulher.

— Sei o que você pensa. E a resposta é não. Não posso viver o luto por mais tempo, porque se isso acontecer, eu não vou mais sair do buraco. Eu amo você e amo a Sarah, mas vocês serão as primeiras pessoas a entenderem do que eu me torno sofrendo — se virou para o marido, a imensidão azul a encarando — Você sabe.

— O que sei é que perder alguém dói muito e que se não vivermos a dor no momento, doerá o triplo no futuro — beijou suas maçãs do rosto onde tinham escorrido tantas lágrimas — Também sei que a minha esposa vira uma leoa perigosa quando está sofrendo em silêncio. Então, fale comigo, chore comigo, brigue comigo. É melhor do que te ver quieta.

— Se eu estivesse em casa por tempo demais você diria que eu preciso sair, tomar um ar — ela afirmou, porque conhecia bem Steve — Eu só… me desacostumei a ter que perder pessoas que amo. Fazia muito tempo desde que meus pais tinham morrido e eu tinha tudo que eu queria. 

— Quando a Laura chegou em Trysney eu me assustei. Pensei que ela fosse jogar algumas verdades na minha cara e te dizer coisas que fariam se afastar de mim — ele acariciou o pescoço dela, circulando o polegar na bochecha — Aconteceu completamente ao contrário. Ela me contou algumas histórias que você tinha medo de contar ou demonstrar, me ajudou a entender melhor. Eu também contei algumas coisas, porque estava sem ideia nenhuma de como te fazer ceder — Natasha estava atenta, esperando o fato final — Quando Laura disse que ia embora eu quase perguntei o que ela queria com aquilo. A razão dela ter vindo para outra cidade para tentar nos ajudar. Eu não cheguei nem a terminar a pergunta. Ela respondeu: Sou apenas uma amiga fazendo uma viagem.

Sua filha, Sarah | RomanogersWhere stories live. Discover now