• Capítulo 36 •

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New York | 2015

Maria, Yelena, Wanda e Laura estavam petrificadas. Natasha seguia em pé, de frente para as mulheres sentadas no sofá. Pela vide chamada, Laura soltou uma risada nervosa.
 
— Repete. Por favor.
 
— Eu estou grávida — Natasha reforçou, falando mais firme e mais alto.
 
— Devo dizer "parabéns'' ou "se fodeu"? — Maria perguntou encolhendo os ombros, confusa e chocada.
 
— Talvez seja bom dizer os dois — ela respondeu suspirando e entregando o teste que estava em sua mão para suas amigas — Caralho, eu estou muito fodida — continuou, e desta vez tocou sua barriga — É muito recente ainda, então não quero que contem para ninguém — pediu seriamente, depois sorriu —  Mas, caralho, eu também estou muito feliz.
 
— Parabéns, Nat. Isso é tão... — Wanda pregou os olhos na barriga dela coberta pela camiseta e ainda sem nenhuma evidência de gravidez — Inesperado.
 
— Kakogo khrena, Natasha (Que porra, Natasha) — Yelena murmurou em russo, abraçando a irmã após xinga-la mais — Vnutri vas yest' detskoye zerno. A ya budu yego tetey! (Tem um grão de bebê dentro de você. E eu seria tia dele!).
 
— Eto mozhet byt' devushka, ty seksist (Pode ser uma menina, sua machista) — brincou Nat.
 
— Ei, ei, ei! Falem no meu idioma! — Maria reclamou por não entender o que era dito.
 
— Estávamos falando sobre o fato de que eu vou ser tia — explicou ela, aproximando a mão da barriga e pondo por cima dos dedos de Natasha.
 
— Natasha! Você falou e falou que a próxima do grupinho a ter filhos seria a Wanda e no final vai ser você! — Laura bateu palmas animada — Estou muito impactada para te dizer outra coisa além disso.
 
— Meu Deus, como as coisas vão ficar agora? Sua faculdade, seu emprego, a casa que alugamos! Não acho que vá caber um quarto de bebe lá — Hill alertou pensativa.
 
— Você não desistiu da ideia de ir pra Trysney? E o pai do bebê? — a pergunta de Maximoff fez Natasha se virar e encarar a janela.
 

— Ainda não consegui falar com ele, mas não vou desistir. Terei que adiar a mudança para Trysney e ficarei mais uns dias em New York tentando fazer contato com o sujeito — disse Romanoff — Farei o possível para encontra-lo, mas se ele não quiser saber, que se foda. Eu vou dar um jeito de criar esse bebe sozinha.
 
— Natasha... — sussurrou Laura.
 
— Não vai estar sozinha, estaremos lá com você — Yelena segurou sua mão.
 
— Não, vocês não podem deixar pra trás tudo que estavam planejando por minha causa. Precisam cuidar de si mesmas e relaxar porque eu sei cuidar de mim mesma.
 
— Você não entendeu, Natasha — Wanda pegou a outra mão de Natasha — Não estamos desistindo dos nossos planos. E mesmo que estivéssemos, não seria só por você.
 
— Seria por isso — Maria suavemente apontou para o ventre dela.
 
Parecia loucura. Em um minuto ela estava grávida e não queria abortar, não tinha nem pensado na possibilidade.
 
As amigas a abraçaram, sentindo que a Natasha vagava por pensamentos. O conforto a deu uma lufada de ar e ela se deixou sentir amparada.
 
Quando deitou a cabeça no travesseiro não conseguiu fechar os olhos sabendo que não tinha resolvido a questão da gravidez com Steve. Ela desejava que desse um jeito na relação deles o mais rápido que pudesse e que o bebê não sofresse com tudo.
 
Inspirando fundo, abriu sua conversa com Steve. Digitando e apagando várias vezes o que queria mandar.
 
"Precisamos conversar, e é sério"
 
E como esperado, ela estava bloqueada. Era estranho pensar em Steve Rogers bloqueando alguém, especialmente sendo Natasha. Mas ela entendia e arranjaria outro jeito de falar com ele. Eles iriam conversar, de um jeito, ou de outro.
 
Começando pela sua segunda tentativa de conversar com Steve, Natasha supôs que ir até a casa dele seria muita cara de pau. Ele poderia ter barrado sua entrada no prédio, ou estar acompanhado de outras pessoas, ou nem estar em casa.
 
Ela poderia ter hackeado a localização dele e encontrado o ponto exato de sua existência, porém imaginou que soaria muito abusivo.

Então a ideia foi ir a lugares que ele geralmente frequentava. Nas sextas, ele estava propício a ir num bar tomar uns shots. Nas quartas, costumava almoçar em algum restaurante que ele ainda não tenha ido. Domingos eram dias de ficar na praça de tarde, tomando um café e comendo uns donuts.
 
Era final de mês, então ele provavelmente estaria no mercado de sempre, fazendo a compra de sempre.
 
— Com licença, senhora — um rapaz que trabalhava no mercado a pediu, passando com suas caixas pesadas. Ela se afastou do corredor e o deu espaço.
 
— Desculpe, não me toquei que estava no meio do caminho — ela disse, os olhos procurando por qualquer indício de Steve.
 
— Tudo bem. Posso ajudá-la? Está procurando por algum produto?
 
— Não, só esperando meu... um cara voltar do corredor dos grãos.
 
— Um cara? — ele reforçou as palavras sem olhá-la, organizando os produtos na prateleira — Por que todas vocês fazem isso?
 
— Primeiro, você parece frustrado e eu não entendi o motivo de me perguntar isso. Segundo, se está se referindo a mulheres em geral, o que seria que todas nós fazemos em igual? Chamar homens de caras? — ela estava sem paciência mas tentava ao máximo não sair como mal educada.
 
— Chamar caras que são mais que amigos, de amigos, ou então, de caras — explicou, dando uma olhadinha rápida para o rosto franzido de Romanoff — Desculpe o atrevimento, moça.
 
— Às vezes... — Natasha cruzou os braços e relaxou as rugas na testa — Exatamente por sabermos que somos mais que amigos, temos que tratá-los como se não fossemos.
 
— Hum — resmungou pensativo, parando de arrumar os pacotes de bolachas — É confuso.
 
— Não somos todos? — perguntou franca.
 
Uma cabeça loira e um corpo alto apareceram no corredor que ela olhava. Poderia ser qualquer cara, mas a bunda denunciava que era mesmo Steve. Natasha endireitou a postura, observando o homem parado na frente das geleias e pastas, analisando qual parecia melhor e a data de vencimento.
 
— É, acho que sim — o rapaz concordou com a pergunta depois de um tempo.
 
Ela descruzou os braços e suspirou levemente, pegando um pacote de bolacha da mão do funcionário, que esperou pelo que ela falaria.
 
— E para você ter uma ideia, nós nunca fomos amigos, desde quando nos conhecemos — contou batendo o pacote de bolacha na mão e saindo atrás de Steve.
 
— Mais confuso ainda — riu o rapaz consigo mesmo.
 
A cada passo que ela dava, mais nervosa se sentia, um nó tenso na garganta. A última vez que tinha trocado palavras com ele seu rosto estava vermelho de choro e ela estava desabando emocionalmente.
 
Também sentiu uma sensação de conforto quando reparou que vestia uma camiseta de mangas longas, uma das que ela mais vestiu como pijama, e passava o dia todo usando. A calça jeans preta e a bota marrom de costume combinavam tanto com Steve que chegava ser absurdo.
 
— Por que tem amendoim em uma geleia de pêssego? — Steve se perguntou, vendo as descrições de alimentos na embalagem.
 
— Acho que para dar crocancia na hora comer.
 
Natasha teria rido da fala anterior dele se Steve não tivesse levado um pequeno susto com a voz atrás dele e quase derrubado o pote de geleia no chão. Ela rapidamente se moveu e conseguiu agarrá-lo antes de atingir o chão e se estilhaçar em cacos de vidro.
 
Quando ergueu os olhos do pote em sua mão para a expressão de Steve, paralisou por uns segundos. Por mais estranho que fosse, o azul dos olhos dele pareciam mais quebrados e frios.
 
— Desculpa pelo susto — ela falou com um tom baixo, o entregando o pote.
 
— Pelo susto? — ele parecia rancoroso, e ainda assustado com a presença dela — Ok.
 
— Desculpa por tudo — pediu mais baixo do antes.
 
— Tudo... — repetiu Steve, irritado e frustrado, guardando a geleia no carrinho dele e o empurrando para sair do corredor — Ok.
 
— Steve — Natasha entrou na frente, o impedindo de andar.
 
— Por que veio atrás de mim? — ele atravessou o corredor e ficou olhando os pães nas prateleiras. Sabendo que ela provavelmente ia negar a confissão, acrescentou dois segundos depois: — E não me venha dizer que não foi isso, por que você sabe a minha rotina inteira de cor e sabia que eu estaria aqui, veio até mim e continua me seguindo.
 
— E-eu vim, eu... — ela gaguejou nervosa, surpreendendo a ambos os dois — Eu realmente vim atrás de você — como ele continuava em silêncio, ela entendeu pra terminar de falar logo — Queria te pedir desculpas por aquele dia.
 
— Aquele dia? O certo seria dizer: aqueles dias — Steve estava dizendo calmamente, mas era como se estivesse cuspindo na cara dela — Foi mais de uma vez que você me tratou daquele jeito.
 
— Eu sei, e eu quero dizer que eu sinto muito mesmo. Me desculpa por todas essas vezes, me desculpa pelas coisas que eu falei — Natasha sentiu os olhos ameaçarem a derramar lágrimas e a voz prestes a cortar.
 
— Não faça essa cena no supermercado — ele nem a olhou enquanto voltava pro carrinho com um pacote de pão.
 
— Cena? — ela fez uma careta sofrida.
 
— É, as pessoas vão achar que estamos em um relacionamento, onde eu faço o papel de namorado abusivo.
 
— Vamos conversar em outro lugar, então. Podemos ir lá pra casa.
 
— Cacete, Natasha. Você não pode me deixar em paz? Não me usou o suficiente? — com um vacilo, deixou transparecer a dor na voz — Sério, a gente já era.
 
— Por favor — Natasha implorou, os olhos se enchendo de água mais rápido e a voz já embargada — Por favor, precisamos conversar. Em qualquer lugar que esteja só a gente.
 
Ela pareceu fraquejar quando as lágrimas finalmente caíram e ela enxugou nervosamente. Steve a encarou, segurando a língua no céu da boca, não permitindo mostrar sua dor pra ela novamente.
 
— A gente já era — reforçou ele, dando as costas.
 
Empurrou o carrinho, desta vez sem a interrupção de Natasha e engoliu dolorosamente o choro enquanto a deixava para trás e ia em direção ao caixa. Ela não se moveu, mas sabia que não devia insistir mais por hoje.
 
Saiu quase correndo para fora do mercado, tapando o nariz e boca com o antebraço. De longe, o funcionário que ela havia conversado observou a cena de Natasha limpar as lágrimas em direção a saída com pesar.
 
Steve ensacou suas compras e só chorou de verdade quando entrou dentro de seu próprio carro, sozinho com os cacos de seu coração.
 
Doía, é claro. Mas ele jurou que não passaria por tudo de novo.
 
🔆
 
Sua cabeça latejava de dor e seu corpo estava molenga de sono, ela não se levantaria caso realmente não fosse preciso. Precisava tomar uma boa porção de café da manhã e seguir as orientações que Raffa passava por mensagens. Além de comprar alguns materiais para faculdade, teria que passar num restaurante e comprar um almoço mais saudável que pizza.
 
Enquanto fazia suas tarefas diárias, não tirava as palavras que escutou na noite passada da mente. Ela chorou quando chegou em casa, mas se lembrou que precisava ficar bem para que o bebe em sua barriga também ficasse, e se intreteu com outras coisas sem ser a lembrança de Steve a rejeitando.
 
Ela merecia o ódio dele, mas não o grão em sua barriga. Por isso, e só por isso, ainda tentaria conversar com Steve.
 
Determinada em convencer Steve que deveriam conversar, esperou o dia seguinte para procurá-lo nos bares de New York. Ele não gostava de bares longe do apartamento porque teria que dirigir bêbado ou pedir um táxi para ir embora, então não sairia muito distante.
 
Nos dois primeiros bares não viu Rogers, só achou pares de olhos nojentos em si. No terceiro, viu um vulto parecido com ele que na verdade só era outro loiro aleatório na cidade. Virava a esquina quando avistou uma plaquinha discreta de bar e restaurante. Sendo um lugar perfeito para Steve estar, entrou com os braços recolhidos e de cabeça erguida, evitando olhares masculinos que a notaram entrando.
 
A calça de couro e a blusinha listrada não eram o tipo de roupas que chamavam atenção, mas de qualquer forma, o assédio sempre esteve presente, com ou sem roupas decotadas. Andando para mais perto do restaurante do que do bar, percebeu como o ambiente já mudava para um ar mais familiar e mais calmo.
 
Foi para a bancada, o meio termo entre bar e restaurante, já que tinham grupo de pessoas menos agitadas e os seguranças faziam a vigia ali, provavelmente evitando que algum bêbado fosse para a área familiar e surtasse. Voltando a caminhar, finalmente enxergou Steve sentado no final da bancada.
 
— O que vai ser, senhorita? — perguntou o barman, limpando a bancada com um pano.
 
— Uma dose de balkan — queria beber algo forte para ver se conseguia relaxar um pouco, porém se lembrou da gravidez seguidamente — Merda, esquece. Uma água com gás.
 
Ela bateu o cartão por aproximação e bebeu metade da água antes de se aproximar dele sutilmente. Steve segurava a taça com um restinho de sua bebida, a forma como seu cabelo estava bagunçado, já tinha bebido um boa quantidade.
 
E o melhor, ou pior, era que o cheiro de Steve exalava fortemente. Não de um perfume ou de sabonete pós banho. Era o cheiro de um Steve com o corpo quente, quase suando. Era divino.
 
— Bebendo drink comunista? Daiquiri é cubano — ela puxou assunto, ficando de costas para o balcão, observando as costas dele se erguerem com a presença dela e depois abaixarem de novo.
 
— Cuba não é comunista — ele respondeu terminando a bebida — Tem Estado.
 
— Você sabe que eu sempre fui de exatas — riu um pouco, brincando com o dedo de girar na tampa da garrafa — Humanas sempre foi a sua área, não a minha.
 
— Natasha, pare de vir atrás de mim — Steve cortou a conversa, indicando mais um drink para o barman.
 
— Não. Vamos conversar — Natasha segurou o braço dele, o puxando para ir embora.
 
— Conversar? — não permitiu que ela o levasse, sentando mais firme no banco — Sabemos que tem dois jeitos de terminar uma conversa com você. Eu estou bêbado, então provavelmente o destino seria uma transa.
 
— Eu jamais abusaria da sua embriaguez pra transar comigo, não quando eu sei que sóbrio não faria isso e que está vulnerável — ela ressaltou, levemente ofendida com a suposição.
 
— Ainda tem outro jeito de terminar brigas com você, e eu juro que não vou chorar por você de novo.
 
— E eu não quero que chore por mim, você não merece sofrer por mim — sua mão tremendo tocou a mão dele na mesa — Vamos nos resolver, lindo, me deixe falar.
 
Por um momento os olhos de Steve acenderam sentindo o toque dela e o impacto do apelido carinhoso. Ele se derreteu enquanto pensava no quanto ela parecia absurdamente linda em roupas comuns.
 
Não. Ele negou em pensamento, balançando a cabeça para apagar as emoções.
 
— Não — afastou a mão como se tivesse levado um choque — Não me manipule com palavras de amor.
 
— Desculpa, não era a intenção. Só, por favor, me dê uma chance de falar — suplicou, implorando com os olhos caídos —  Eu pago a conta, a gente vai pra minha casa, você descansa do porre e no outro dia a gente conversa com calma.
 
— Olha, eu não fazia ideia que o sexo comigo era tão bom ao ponto de você me implorar mais — ele bebeu outro taça de daiquiri e pediu mais.
 
— Não é pelo sexo que eu estou vindo atrás de você — ela rebateu irritada, tentando entender que ele também estava, além de magoado, bêbado — Eu quero dizer, mas não é o tipo de coisa que se conversa aqui. É importante.
 
— Eu não vou pra sua casa — agora a voz de Steve estava mais embolada, mais embriagada — Você me usou e disse que estava apaixonada por outra pessoa.
 
— Vou te contar toda a verdade, se for comigo.
 
— Não quero saber de nada relacionado a você. Me esquece, Natalia — mais uma taça e mais uma e mais uma.
— Não faça mais — ela mandou, apontando para o barman preparando mais.
 
— Faça sim — ele esticou a mão para trás e pegou a carteira, tirando uma nota de cem dólares e batendo na mesa.
 
— Porra, Steve. Eu estou tentando!
 
— Porra, Natasha. Foda-se! Eu não me importo mais, eu não ligo pra nada que acontece pra você! — Steve gritou, causando um susto nela. Ele a encarou com desgosto e voltou a beber — Eu odeio você.
 
Ela mordeu o lábio para conter o choro, se virando para a saída. Ele ficou lá, xingando a si mesmo e a desgraça de uma mulher que ainda amava.
 
Depois de mais uns drinks, ele decidiu que era uma boa hora para ir embora. Não estava cambaleando muito mas definitivamente não estava sob seu total controle e quase caiu pra trás quando saiu do local e sentiu um braço se enroscando no seu.
 
Steve virou o rosto e o franziu, fazendo uma cara engraçada com o beicinho pra fora. Natasha riu alto e genuíno enquanto o conduzia pela calçada.
 
— O que está fazendo, sua chata? — ele não se segurou e riu junto com ela.
 
— Estou te levando em segurança para casa — ela murmurou próxima ao ouvido dele — Você está bêbado pra caralho, então talvez nem se lembre que me viu hoje.
 
— Eu ainda odeio você — o bico voltou ao seu rosto de forma dramática, mas Steve não se afastou do toque.
 
— Pode me odiar o quanto quiser — Natasha acariciou seu braço na hora de atravessar a rua — Ainda serei sua guia até voltar para sua casa.
 
Eles andaram em silêncio, ou melhor, Natasha andou em silêncio, Steve fez o trajeto inteiro praguejando que odiava ela e que ela era uma chata perseguidora.
 
Ao chegar no prédio, não havia ninguém na portaria, então Natasha o empurrou para o elevador e riu nervosamente ao lembrar que Peggy poderia estar lá, ou qualquer outra mulher. Desviou as ideias de auto sabotagem e pegou a chave da porta no bolso dele. Suspirou aliviada por não ter ninguém no apartamento e entrou com ele.
 
— Você tocou na minha bunda — Steve acusou, cruzando os braços.
 
— Não toquei — duplicou o gesto.
 
— Tocou sim, eu senti.
 
— Eu peguei no bolso da sua calça, a chave estava lá.
 
— Ou seja, pegou na minha bunda! — insistiu.
 
— Não peguei, Steve! — rebateu.
 
— Pegou!
 
— Para de putisse e vai pro seu quarto!
 
Ela o impulsionou para frente com força, empurrando as costas dela para o corredor. Ele foi ainda reclamando que Natasha tinha pego na bunda dele, mesmo quando caiu de cama e bateu a cabeça na parede.
 
A russa riu mas acariciou o machucado com a mão, dizendo que sararia logo e que ele podia relaxar para dormir. Natasha retirou os sapatos e as meias dos pés dele, pedindo para que Steve tirasse a camiseta enquanto ela ia na cozinha.
 
Voltou com um copo de água e um comprimido para ele tomar depois.
 
— Toma — entregou-lhe o copo de água.
 
Steve sentou na cama e bebeu o copo inteiro, zonzo e com sono. Natasha o fez deitar de novo, ligou o ar condicionado e fechou as cortinas.
 
— Nat.
 
A voz baixa de Steve sussurrou por ela, a cabeça com os fios loiros totalmente desgrenhados deitada no travesseiro, os braços jogados para cima. Natasha se posicionou do outro lado da cama, olhando os olhos azuis avermelhados pela bebida suavizarem. Parecia a forma doce que ele ficava antigamente.
 
— Você não vai se lembrar disso, mas... — ela se aproximou e tocou carinhosamente o rosto dele — E se eu estiver grávida?
 
— Grávida? — ele se inclinou na direção do carinho — Que fofo.
 
— É, e o filho fosse seu? — sugeriu baixinho, se ajeitando embaixo dele e puxando a cabeça loira para seu busto.
 
— Meu? — estava de olhos fechados, quase dormindo com as mãos de Nat alisando seu cabelo numa espécie de cafuné — Eu diria que é mentira, você mente muito.
 
— Dessa vez não é mentira — soprou sem forças, sem voz.
 
Achou que ele tivesse dormindo, porém ouviu o sussurro preso na garganta de Steve quando ela ameaçou sair da cama.
 
— Tira a roupa e deita aqui.
 
— Não posso.
 
— Por quê? É pra dormir — refutou bobamente.
 
— Porque no segundo que você me ver dormindo na sua cama amanhã de manhã, vai me odiar mais ainda e vai dizer que nunca queria de verdade que eu deitasse — após um beijo longo e demorado em sua testa, ela começou a sair da cama — Pode, pelo menos, me desbloquear?
 
— Eu realmente quero que você me deixe em paz, que viva bem e feliz, mesmo que sem mim — Steve suspirou derrotado — E eu também te quero perto porque sou um idiota bobalhão.
 
— O que...
 
— Você sabe o que vai acontecer, Natalia. Não faça doer mais do que já dói.
 
A respiração ficou funda e sincronizada, mostrando que Steve tinha dormido oficialmente. Natasha o admirou em seu sono profundo, mortalmente lindo e totalmente apaixonante.
 
Mais uma chance, só mais uma.
 
🔆
 
Agora ela cogitava a possibilidade de criar esse bebê sozinha, agora já até havia cogitado o aborto, mas percebeu que não seria capaz de abortar algo que desejou tanto e que seria filho de Steve, por mais que ele não soubesse.
 
Steve realmente não queria saber dela, nem nada relacionado a ela.
 
Era melhor de três, então decidiu tentar mais uma vez, para que pelo menos ficasse com menos peso nas costas.
 
Mandou mensagem para o grupo das meninas avisando que iria embora no dia seguinte e que parassem de perguntar por ela o dia inteiro.
 
"Estou grávida, não morrendo"
 
Ainda enviou uma figurinha da Lana Del Rey sorrindo atrás de uma casa pegando fogo, afirmando que estava tudo bem. Um pouco de humor a fazia bem nesse momento, aproveitou as risadas de Yelena e riu também.
 
Mais tarde, ligou para Laura e desabafou mais um pouco, chorou mais um pouco e se reergueu. Comeu uma boa salada verde e um salmão grelhado, arrumou o resto de suas coisas que estavam em New York e guardou tudo no carro.
 
— Eu acho que você é uma menina — ela cutucou a barriga, rindo suavemente.
 
Abaixou a janela do carro e respirou o ar frio da noite, a sua pele não arrepiou pois estava bem agasalhada com um cardigã verde e uma calça legging preta. Bateu a porta do carro e atravessou até o prédio. Era agora ou nunca.
 
O porteiro estava ali dessa vez, mas o sorriso estava mais cansado e ele não vestia o uniforme. De todo jeito, seu rosto iluminou quando viu a mulher entrar.
 
— Natasha Romanoff. Por onde esteve?
 
— Ah, o senhor sabe, destruindo corações, me destruindo — ela disse como se fosse uma piada e não doesse por dentro — O de sempre.
 
— Não fale assim, menina. Você é especial e só você não vê isso — ele deu uma tossida forte, fazendo Natasha correr e puxar uma cadeira para que ele sentasse — Eu estou bem.
 
— Não está — Nat olhou um copo de água em cima do balcão e deu para ele — O que está acontecendo?
 
— A velhice está acontecendo, mas eu não preciso de sua ajuda, Steve precisa — o porteiro apertou sua mão com os dedos trêmulos — Eu tenho pouco tempo antes de uma enfermeira aparecer atrás de mim. Vou ser rápido.
 
— Devagar, Stan.
 
— Ele andou trazendo umas pessoas desconhecidas pra casa dele, são seis pessoas, eu acho. Faz uns três dias que eles vêm, vão embora e voltam. Frequentemente. Tem...
 
— Senhor Stan Lee! — uma mulher gritou saindo do elevador — Está fugindo do tratamento de novo!
 
— Não tem do que fugir, minha jovem. A morte é inevitável — ele se levantou com dificuldade e a enfermeira se preparou para ampará-lo na cadeira de rodas.
 
— Eu disse para parar de trabalhar, isso prejudica a sua saúde — Natasha apontou o dedo, sentindo um aperto no coração.
 
— Deixe, menina. E descubra o que o senhor Rogers anda aprontando
 
Quando ele sentou na cadeira de rodas, Natasha sorriu tristemente, agarrando a mão enrugada e posicionando em sua barriga por uns segundos. Ela esperava que isso desse mais um suspiro de vida para o idoso.
 
Ele subiu no elevador ainda olhando a barriga de Natasha, muito mais feliz do que conseguia demonstrar pelas dores que sentia. A porta de metal se fechou e ela foi obrigada a engolir o bolo na goela de novo. Natasha esperou o tempo necessário para que o elevador voltasse e se recompôs enquanto subia ao andar de Steve.
 
Observou a porta branca na sua frente e deu duas batidinhas, já ouvindo pessoas conversando dentro do apartamento. Ficou hesitante quando abriram a porta e não era Steve.
 
— Nat? Hey! — Peggy exclamou, deixando a garrafa de cerveja quase derramar ao abraçar Natasha.
 
— Oi, Peggy — ela disse, olhando por cima do ombro da britânica e vendo a bagunça que estava a sala e a cozinha, além do cheiro extremamente forte de...
 
— Quer maconha? — Carter a puxou e fechou a porta, logo oferecendo um baseado de maconha aceso — Ou você prefere cocaína?
 
— Eu não quero nada — recusou, afastando o beque com a mão e indicando as cinco pessoas conversando e fumando — O que é essa gente toda? E por que tem tanta droga aqui?
 
— Ah, estávamos eu e o Steve sem fazer nada e eu percebi que ele estava pertubado com alguma coisa e sugeri que bebesse cachaça, mas ele disse que já tinha bebido na noite passada e que queria outra sensação — ela contou, sentando na bancada da cozinha, dando uma fumada na erva e largado em seguida — Depois perguntou se eu conhecia alguém que tinha maconha e eu disse que sim. Chamei o pessoal e Steve permitiu que eles ficassem algumas horinhas aqui.
 
— História encantadora. Válida de apreciação.
 
— Eu não curto cocaína, nem nada que eles consomem a rios. Só dou uma fumadinha às vezes, nada de mais — continuou Peggy, desconhecendo o sarcasmo de Natasha — Quando foi que você ficou tão careta? Eu, hein.
 
— Foda-se. Cadê o Steve? — a questionou irritadiça.
 
— O que rola entre vocês? — rebateu ela — Já ouvi uns murmúrios que se odeiam, outros falam que vocês já se pegaram, alguns até dizem que viram vocês de casalzinho no cinema.
 
— Não rola nada, Margaret — respondeu, cortando mais perguntas — Não somos amigos, mas também não nos odiamos.
 
— E por que me perguntou sobre Sharon trabalhar pra ele? Natasha, Natasha...
            
— Porque ele estava ficando com uma amiga minha na época e pediu minha ajuda — esquivou facilmente — Onde ele está? Preciso entregar isso pra ele.
 
Com uma Romanoff, ela deu seu jeito de fazer parecer que o único motivo de estar ali era para entregar uma caixa preta cilíndrica. O "óculos" dele.
 
— Não sei se é um bom momento para interrompê-lo — Peggy avisou — Melhor que deixe isso aqui e saia.
 
— Até parece, vai ser rápido — Natasha sentia a angústia e o medo crescendo com o que poderia encontrar — Me mostre logo e eu já saio. Minha amiga pediu para entregar e estou cumprindo minha promessa.
 
— Tá bom — riu suave — Está muito linda, Natasha.
 
— Essa noite não rola, Peggy — ela riu para disfarçar o nervosismo para ver o estado de Steve.
 
— Vai ficar me devendo, Romanoff — Peggy circulou seus ombros e beijou sua bochecha — É nessa porta aqui, entre. Vou ao banheiro e já volto.
 
Só pela porta era notável que a caixa de som estava ligada e que também fumavam maconha ali. Ela respirou profundamente, abrindo a porta devagar, tremendo levemente.
 
E definitivamente, nada na vida dela, nada do que ela já tinha passado, havia a preparado para essa cena. Seus olhos se arregalaram de choque e de mágoa, a boca abriu.
 
Steve estava ali. Ele estava sentado de costas para ela e estava pelado, tinha um maço de maconha na mão. E ao seu redor haviam duas mulheres completamente nuas, uma delas ajoelhada no chão. Como se não bastasse, tinha mais dois homens no quarto. Aquilo era a pior das orgias.
 
Som, bebidas, drogas, mulheres, homens. Isso não era o que ela costumava ver no quarto dele. Isso não fazia parte de Steve, não antes.
 
Ela jamais permitiria que seu bebe se envolvesse nesse tipo de coisa, jamais insistiria com Steve se soubesse que tinha entrado nesse mundo.
 
Drogas eram as únicas coisas que ela abominava, desde que um drogado foi pra cima de Yelena quando elas saiam da escola. Yelena era só um bebê de cinco anos, não fazia ideia do que significava comer "um docinho branco". Se ela não tivesse chegado bem na hora e puxado a mão de Yelena para a loja de discos, ela... Natasha nem gostava de pensar.
 
Sua mãe nunca soube disso, mas Natasha nunca mais saiu antes que visse a cara de sua mãe no portão da escola. Ela não tinha nem dez anos na época, mas teve que agir como uma adulta de vinte.
 
Parecia que estava a horas parada, olhando a nojeira que Steve estava. Mas foram questões de segundos para ela olhar e sair. Como de costume, os olhos encheram de água, ela ia começar a chorar copiosamente a qualquer momento.
 
— Quer participar também, gostosa? — um dos caras que fumava sala perguntou, vendo passar como um flash para fora do apartamento. Steve que fosse pra merda.
 
— Só se a sua mãe estiver também, aquela gostosa geme que uma delícia — Natasha o puxou e socou sua área sensível, o deixando de joelhos. Depois o empurrou para trás com um soco.
 
Os amigos dele olharam assustados e se levantaram para ajudar o colega quando Natasha finalmente foi embora, com o coração acelerado e o nojo escorrendo por suas passadas largas.
 
Ela desceu o elevador e destravou o carro com os dedos dormentes na chave. Natasha sentou no banco e puxou a garrafa de água. Respirando ar de verdade, sem cheiro de maconha.
 
O choro veio e veio forte, descarregando suas forças brevemente. Natasha se tornou só um corpo mole enquanto pensava em como iria fazer aquilo sozinha. Ela não queria que Steve participasse. Agora, ela queria que ele se fodesse e se drogaria sem ela e seu filho junto.
 
Seu celular vibrou e ela atendeu Laura ainda derramando milhares de lágrimas.
 
— Somos só eu e ele, Laura. Steve não vai saber.
 
— Nat, respire mais devagar, seu bebê precisa ficar bem.
 
— Não tem mais jeito. A gente e tudo que eu pensei que pudesse recuperar já era — ela fungou com o nariz escorrendo.
 
Você tem certeza que quer fazer isso assim? Eu sei que ele deve ter te machucado, mas... — Laura tentava ser a consciente, mas com a amiga chorando assim, ela só conseguia enxergar dor e raiva de Steve Rogers.
 
— Eu tentei, juro que tentei — Natasha desligou.
 
A lista de contatos apareceu na tela e ela percebeu que conseguia ver a foto de Steve no contato dele. Ele tinha a desbloqueado? Talvez.
 
Ela suspirou e apertou o botão de gravar áudio. Essa seria a quarta e última tentativa para ele, para eles.
 
— Steve — ela disse, batendo a cabeça no volante — Eu queria que você soubesse disso quando estivesse sóbrio, limpo e sozinho. Mas aqui vai a verdade: Eu estou grávida. Entendo que tenho uma parcela de culpa por você se perder em si mesmo, mas sei também que se você realmente quisesse, não estaria do jeito que está. Você é mais forte que isso. Eu sou fraca, não vou voltar atrás na minha decisão — Natasha fez uma pausa para puxar ar e tentar falar melhor — Mas eu estou te mandando isso. Se você quiser me encontrar e encontrar o seu filho também, saiba que eu ainda te quero. Se tudo isso de drogas, bebidas e... bem, tudo que anda fazendo, parar, eu estou disposta a te contar tudo. Me mudei para Trysney, estou trabalhando na clínica da doutora Pamela — confessou, um último fio de chance — Procure por ela e me achará também — finalizou o áudio, secando os olhos na manga do cardigã, mas apertou pra começar outro — E eu te amo.
 
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Enquanto Natasha partia para outra cidade se sentindo dilacerada de vários jeitos e maneiras, Peggy saia do banheiro procurando por ela. O que encontrou foi a porta do quarto aberta e um Steve totalmente drogado.
 
Ela entrou preocupada, percebendo que ele estava pelado também.
 
— Mas que porra é essa? O que vocês deram para ele? — ela virou o rosto de Steve pra si e viu que seus olhos estavam quase fechando e que parecia puro vermelho.
 
— Foi só um pouco de heroína, para de drama — a garota ajoelhada na frente dele, com o pênis na mão dele disse.
 
— É, estamos ocupados — um dos homens falou, puxando as costas de Steve e o fazendo deitar — Que corpo musculoso — a mão dele teria tocado as partes íntimas dele também, se não fosse por Peggy socando a cara dele e chutando a garota no chão.
 
— Ele só queria maconha! — ela gritou, dando tapinhas na cara de Steve — E está praticamente inconsciente!
 
Ninguém ali parecia se importar com o fato de estarem cometendo um crime sexual, ninguém parecia se importar no estado que Steve estava.
 
— Peggy! — reclamou a outra garota.
 
— Peggy o caralho! — berrou apontando pra porta — Vocês ultrapassaram todos os limites! Eu achei que estavam transando porque ele queria, mas vocês o drogaram! Saiam agora daqui!
 
— Não, você sai! — a que levou um chute protestou com o sangue escorrendo do nariz, igualmente ao rapaz.
 
— Então fica, vai ser até melhor. Vai poupar a polícia de ir atrás de vocês, já que estarão aqui — ameaçou seriamente — Vocês vão apodrecer na cadeia, principalmente por terem mexido com uma pessoa rica.
 
Os quatro ali planejaram avançar contra ela, para prendê-la e conseguirem voltar a fazer o que estavam fazendo. Mas Peggy foi bem mais rápida, se agachando debaixo da cama e puxando uma arma que foi escondida por ela quando veio para o apartamento de Steve.
 
Com o gatilho pronto, todos levantaram as mãos em rendição. Ela xingou quando viu Steve caindo e quase batendo a cabeça no chão, se não fosse ela que tivesse segurado e empurrado de volta pra cama.
 
Foi tempo suficiente para que os quatro saíssem do quarto e corressem para sala, ela teria apontado a arma de novo mas viu que não estava mais carregada.
 
— Merda, Steve. Aposto que foi você que descarregou.
 
Quando ela foi atrás deles, todos estavam saindo do apartamento e tinha sangue no carpete, mas ela não sabia o motivo. Eles fugiram praticamente seminus, então seria mais fácil achá-los depois.
 
Steve seguia desacordado, totalmente marcado com rastro de drogas. Peggy pensou que seria melhor levá-lo ao hospital, mas notou que ele resmungou um palavrão, acordando e dormindo repetidas vezes.
 
Ela foi até o banheiro e ligou a torneira da banheira, pegou o celular e ligou para Sharon.
 
— Vem aqui agora na casa do Steve — ordenou e logo desligou.
 
Esperando a sobrinha chegar, juntou todas as drogas que encontrou e enfiou num saco de lixo. Olhando para Steve ela sentiu raiva por não ter aberto a porta antes e por confiar em amizades duvidosas.
 
Na estrada, Natasha ainda esperava que um dia Steve retornasse sua mensagem e a encontrasse. Mas isso nunca chegou a acontecer por quase oito anos.
 
Até aquela noite de filmes que foi interrompida.
 
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Não é pq acabamos com 2015 que não teremos outros anos, eu prometi que mostraria um momento da Sarah bebê!

Aliás, agora, é 2023 e vem aí o fim da conversa da Nat e do Steve!

Bjs de lacre 💋😈

Sua filha, Sarah | RomanogersOnde histórias criam vida. Descubra agora