• Capítulo 29 •

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Moscou | 2015

Como sempre, estava um frio de tremer os ossos na Rússia, o ar cheirava a infância de Natasha. Por sorte, Yelena e ela tinham um dinheirinho aguardado e conseguiram o usar para fazer a viagem de ida e volta para Moscou.

A irmã descansava da viagem em uma das camas de solteiro que o quarto de hotel oferecia, rocando feito uma porca de barriga cheia. Debaixo da coberta mais fina que a de Yelena e em uma cama oposta a ela, estava Natasha com a cabeça enfiada num álbum de família. Eram poucas fotos, a maioria de Nat e Yelena grudadas uma na outra, ou com as mãos posicionadas para se baterem e brigarem por um biscoito qualquer que fosse.

Ela sorriu para imagem da garotinha loira fazendo uma ponte com o corpo, ao lado de uma garota de cabelo azul com a mesma posição. Rindo, passou a foto e viu o pai e a mãe abraçados em frente ao estúdio de dança que ela dançou até os quatorze anos. Natasha se lembrava desse dia, ela que havia tirado a foto.

No fim da apresentação, Alexei pulou da cadeira com uma salva de aplausos para a filha, assobiando e gritando que estava lindo, que ela era linda. Dos poucos momentos que ganhava nos espaços de trabalho do pai, aquele ficou marcado como um dos favoritos. A noite inteira tinha sido incrível, eles tinham saído para jantar no restaurante favorito de Melina após a apresentação dela, como quase nunca faziam.

[Flashback

Seu pai se aproximou do piano, esticando os dedos e dando uma piscadinha para a esposa bebendo vinho, o sorriso escondido pela taça mas denunciado pelas bochechas avermelhadas se levantando.

Yelena estava com a boca empanturrada de purê de batata, catucando Natasha para dizer alguma coisa. A mesma olhou impaciente para a criança de nove anos, a reprimindo com um olhar enquanto percebia o pai negociando com o pianista.

— Que é, Lena? — perguntou.

— Ainda estou com fome, posso comer do seu um pouquinho? — ela fechou um pedacinho nos dedos, mostrando ser só um pouco — Por favor.

— Tudo bem, pode comer mas não peça mais comida para mamãe, já gastamos mais do que podemos hoje — sussurrou para que a mãe não ouvisse.

— Acho que o papai vai tocar piano — Yelena comentou feliz, saboreando a macarronada que Natasha tinha pedido — Ele prometeu que daria um jeito de mostrar um talento hoje. Porque, sabe, eu nado muito bem, você dança igual uma princesa e a mamãe tem a voz mais linda do mundo. O que ele tem para exibir?

— Você acertou em quase tudo, Yelena — sorriu a irmã mais velha, cruzando as pernas e olhando para seu reflexo espelhado na janela de vidro.

— E onde eu errei, Natalia? — coçou a cabeça confusa, repensando tudo que tinha dito com uma caretinha engraçada no rosto.

— Na parte da princesa — ela respondeu se encarando com orgulho — Eu não danço como uma princesa, muito menos me pareço como uma — girou o pescoço e sorriu para Yelena — Mas sim uma rainha.

A irmã acenou repetidamente, absorvendo a frase e se colocando na situação dela. Se Natasha era uma rainha ela também devia ser.

Uma nota no piano as fizeram esquecer o assunto e olharem o pai sentado no banco do piano, alongando os dedos pelas teclas, focado.

— Essa vai para minhas meninas — ele disse sorrindo largo.

O sonoro do piano cresceu no espaço silencioso, todos prestando atenção no que ele tocaria. Dedilhando as teclas, Alexei tocou o piano com os olhos vez ou outra encarando sua família na mesa.

A música era linda e o fato de seu pai ter a dedicado para elas fez seu coração encolher no peito. Alexei as amava.

Algumas lágrimas inesperadas brotaram em seus olhos e escorregaram pot seu rosto. Ela nem sabia exatamente o porque de estar chorando, mas sentia muita vontade de chorar.

Sua filha, Sarah | RomanogersWhere stories live. Discover now